Espelho Espelho Meu - Jakehoon

A família de Cristal

Sunghoon cambaleou para trás, três passos, então endireitou os ombros.

Jay era o escolhido pelos deuses para romper o feitiço, era isso que o brilho acalentador do colar indicava. O filho da Fada das Trevas, Malévola, seria o herói que os salvaria daquele reino dos pesadelos e devolveria as vidas que lhes foram roubadas.

— Você se lembra de mim? — perguntou o platinado, engolindo o seco; a boca havia ficado seca pela ansiedade repentina. — Do Jake e dos outros?

O rapaz de cabelos negros o encarou, os olhos semicerranram. Jay observou o pai, um gesto rápido demais, buscando a aprovação. Um aceno de cabeça do feérico, então seu filho deu outro passo em direção a Sunghoon, Minho seguiu até a Juyeon, começando a examinar o tritão.

— Não, sinto muito.

A cabeça de Sunghoon latejou.

— Mas você…

— Meu pai recuperou as memórias, utilizou de magia para isso anos atrás, então me procurou por todo o Império. Eu consigo lembrar dele e da minha mãe, mas nada além.

Virando-se de maneira repentina, o platinado encarou a bruxa encostada na lateral da lareira, aqueles olhos serenos foram de encontro à tempestade de confusão no rosto de Sunghoon. Havia uma tonelada de perguntas se formando na mente do Park, tanto sobre as palavras de Jay, quanto sobre o que estavam fazendo ali e onde estava Jake. Não era possível que a Rainha Má não tivesse ido atrás do filho, não depois do que ele viu.

— Por que não trouxeram de volta as memórias de outras pessoas?

O marido da Fada Negra, sem tirar a atenção de Juyeon, respondeu:

— Por que o custo para isso é alto demais para cobrar a todas as pessoas.

— Como?

Sunghoon o observou, ansioso, mas o homem lhe deu apenas um olhar de soslaio, tão sombrio e cansado. O príncipe platinado se perguntou o que havia acontecido.

— Eu criei uma maneira de reverter totalmente o controle dela, sem a interferência de sua mãe, mas o feitiço cobra caro demais pelas memórias.

O mais novo aguardou, mas Minho não continuou sua fala, apenas se deteve a conferir os olhos de Juyeon, depois voltou a checar a pulsação uma segunda vez. Somin, que seguia silenciosa, acrescentou:

— O feitiço cobra um preço diferente de cada um, e arrancou as asas dele em troca.

Foi como se o calor abandonasse todo seu corpo, os músculos enrrigecido. As asas. Minho, marido de Malévola, em seu mundo original, exibia um belo par de asas pretas como ébano, semelhantes às de sua esposa. Mas não havia nada nas costas do feérico agora. Céus, Sunghoon havia permanecido tão focado em descobrir o que estava acontecendo, que não percebeu a mudança drástica na aparência de uma das figuras mais famosas de sua terra natal.

Por isso não trouxeram as memórias de Jay de volta, para que o filho dele não que pagar o preço da magia. E o livro… o livro traria de volta às memórias daqueles com suas histórias já registradas, mas Jay não tinha história ainda… Ele deveria ser o vilão da narrativa de Winter, mas a garota também não tinha história, logo seu vilão seguia igual. O livro também era incapaz de devolvê-lhe as lembranças do mundo verdadeiro deles.

Passos soaram ao fundo, as portas duplas se abriram, as luzes pareceram tremiluzir quando o rapaz virou-se na direção do som.

Jungwon ajeitou a postura, os braços para trás, a cabeça erguida.

— Senhora — falou o felino, as orelhas azuladas felpudas eriçadas, a cauda ondulando em movimentos descontraídos.

— Diga.