A Rainha das Bruxas lutará

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O ar havia se tornado pesado, como se a atmosfera agradável daquela manhã fosse maculada por uma energia estranha. Quando um amargor surgiu na boca de Morgana, fazendo-a contrair levemente os lábios, a bruxa sentiu que algo estava errado, alguma peça na ordem natural ao seu redor não corria da devida maneira. Isso fazia parte das poucas habilidades de fada restantes em sua linhagem, a sensitividade, única a sensibilidade sobrenatural das bruxas, poucas coisas podiam lhe passar despercebidas.

Os passos rápidos de seu salto vermelho sobre o piso do colégio eram fáceis de ouvir, ela estava apressada demais para calcular as coisas e ser discreta. Também não tinham estudantes pelos corredores, após o baile da noite anterior, apenas ela, Merlin e alguns professores vieram à escola, no caso deles para trabalho.

O colar de correntes prateadas, com uma pedra de ametista roxa lapidada no centro, num formato de uma gota d'água estava pendurado, preso a corrente, brilhando ao reflexo da luz solar que adentrava os corredores do castelo pelas grandes janelas com grades protetoras. Aquela colar era uma das grandes relíquias do mundo antigo, de quando as histórias eram mais simples, e a magia muito mais poderosa.

Com o telefone em mãos, Morgana começou a fazer sua ligação.

(...)

— Isso vai mesmo funcionar? — perguntou o garoto humano, observando o bruxo a sua frente espalhando pelas beiradas da porta a mistura improvisada que fizeram.

— Pela décima vez, Heeseung, eu não sei. Não temos os ingredientes puros, isso daqui é uma grande gambiarra que normalmente não deveria ser feita com elementos mágicos. — A testa de Jake sua suava, colocando alguns fios na pele, expondo seu nervosismo.

Magia era mais complicada do que o Lee achava, necessitava cuidado, refinamento, podia ir tanto de uma expressão da vontade do bruxo, caso fosse poderoso o bastante para exercer grande influência, como também podia se tratar da mistura correta dos ingredientes correntes, no momento correto e na ordem correta. Ali eles estavam fazendo uma grande aposta às cegas, usando elementos recolhidos pelo quarto, os quais continham os ingredientes necessários para aquela solução mágica. Não havia garantia de sucesso, como seria se fossem os materiais puros, unidos da maneira devida e no tempo ideal.

Mas não havia tempo para tamanho cuidado, não com Sunghoon preso numa maldição e a mãe bruxa louca dele a solta. Nem mesmo sabiam o que fariam caso conseguissem sair do quarto, se Jiyeon ou os anões estivessem esperando por isso. Também não gostavam da ideia de deixar Sunghoon ali, mas nenhum deles conseguia atravessar a barreira. O melhor que podiam era fugir e buscar ajuda, ou encontrar algo para liberar o feitiço limitador e arrastarem o corpo do Park.

Dentre os três, Jay era quem mais se sentia impotente. Sua mãe é uma fada, uma das grandes, seu pai também não era nenhum desconhecido, e sim um dos mais habilidosos feéricos do reino. Mas lá estava Jay, sem conseguir usar os poderes, nem mesmo tinha conseguido manifestar suas asas, no máximo poderia virar animais — o que no momento estava fora de alcance, enquanto não saíssem daquela maldita casa.

O que ele podia fazer afinal de contas? Uma fada sem poderes e asas era tão inútil na situação quanto Heeseung, um humano, que ainda assim era quem mais tentava motivá-los a continuar tentando. Pelo menos o humano tinha mais perseverança. Enquanto isso tudo o que fez foi ler um idioma velho e falar de ingredientes mágicos básicos, os quais Jake dominava muito mais e conhecia a fundo.

Ele estava sendo o único inútil ali, era assim como se sentia.

— Pronto, agora vamos ver se funciona — dizia o Shim, tomando distância da porta.

Então houve silêncio.

Silêncio.

Mais silêncio.

Espelho Espelho Meu - JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora