CAPÍTULO 36

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JEREMY CARTER

Sinto minhas veias queimarem com o ódio que escorre por elas. Apesar de eu achar que ódio é uma palavra simples e pequena demais para expressar o que sinto por esse canalha. Ao meu lado, pendurada pelos braços, está Rebeca completamente desacordada depois que o covarde a espancou até que seus dedos sangrassem e as forças dela se esvaziem, a puxando para escuridão.

Sangue escorre de seu nariz, testa, queixo, e posso apostar que debaixo de sua blusa grandes roxos estão espalhados pela sua barriga e costela.

Eu nunca tive pensamentos homicidas. Sempre me julguei um homem controlado, racional. Incapaz de atentar contra a vida de outras pessoas. Mas, porra...eu desejei muito conseguir arrebentar as cordas que me prendiam e socar a cara de Hector até que restasse apenas uma poça cefálica de puro sangue e carne esmagada.

E sabe o pior? Ou melhor, dependendo do ponto de vista. Eu não senti nenhum remorso ao imaginá-lo morto. Na verdade, senti um alívio do caralho!

– Ela está viva ainda, não se preocupe.

O tom jocoso me faz olhá-lo. Sua postura calma, sentado á nossa frente, me fez querer tirar aquela expressão presunçosa de seu rosto.

– Bater em uma mulher amarrada, incapaz de se defender. Isso foi baixo até para você.

– O que eu posso dizer em minha defesa? –Ele dá de ombros. – Adoro surpreender as pessoas.

– Quer surpreender de verdade? Seja homem e me enfrente. –Ele me olha, parecendo interessado. – Vamos, Hector. Mostre-nos o machão que você é.

– Sabe, garoto. –Ele se levanta. – Preciso tirar o chapéu para a sua coragem. Já amarrei homens muito maiores e mais velhos que você, que mijaram na minha frente de tanto medo. –Ele se aproxima. – E sabe qual era a única frase que eles conseguiam dizer? Por favor, não me mate.

Balanço meu corpo, tentando me soltar das cordas que me prendem meus braços para cima. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe para atingi-lo. Se minhas pernas também não estivessem amarradas, eu poderia pelo menos acertá-lo com um chute.

– Ele chegou, chefe.

Um dos capangas informa, arrancando um enorme sorriso de Hector.

– Eu sabia que ele conseguiria. –Comemora. – Ajude-o a entrar, Vitor.

– Sim, senhor.

O home sai e eu me pergunto sobre quem eles estão falando, mas não demora muito para que eu tenha a minha resposta, pois logo um Blake muito puto passa pela porta do galpão. Seu olhar é atraído direto para mim, fazendo a famosa comunicação de que tudo vai ficar bem. Porém, quando foca em Rebeca, vejo o homem que sempre exibiu uma força invejável, vacilar. Minimamente, mas algo que somente quem o conhece de verdade perceberia. Por alguns segundos, vi o medo atravessar seus olhos, sendo substituído por uma cólera sanguinária em seguida.

– Você é um homem morto. –Ele diz para Hector, mas seus olhos permanecem em Rebeca.

– Muitos irão morrer hoje, Blake. Eu não serei um deles.

Penso em como iremos sair dessa, sendo que o local está rodeado de capangas de Hector. Se Blake sacar sua arma, seremos peneirados em questão de segundos.

Espero que você tenha um bom plano, irmão.

– Então essa é sua ideia? Nos trazer para esse galpão velho e nos matar? Só isso? –Blake exibe uma falsa tranquilidade. Se fosse para chutar, diria que ele está querendo ganhar tempo. – Meio decepcionante.

– Nada do que eu faço é sem emoção, Blake. Já deveria saber disso. –Hector faz um sinal e dez homens se juntam a nós, parando em uma fila lateral na frente de Rebeca e eu, virados de frente para nós. Eles levantam as mãos, empunhando cada um com sua arma, fazendo-nos de alvos. – Vou explicar como vai funcionar. Cada arma dessa tem uma única bala. Uma por uma, serão disparadas. Cinco para Rebeca e cinco para Jeremy.

Merda. Merda. Merda. Merda.

– Blake? –Chamo, o desespero começando a tomar conta do meu corpo. Ele me olha, mas nada diz.

O desgraçado montou uma Roleta Russa com a gente.

– Se nenhuma bala for disparada, você poderá sair daqui com os dois vivos. –Hector continua explicando. – Caso contrário...bom, teremos algum velório amanhã.

Vejo as narinas de Blake dilatarem e suas mãos apertarem ao lado do corpo.

– Sádico desgraçado! –Grito e ele apenas ri.

– Então, Blake. Por quem deveremos começar? –Ele para ao lado do meu irmão. – A deliciosa filha de um traidor ou o talentoso ator que é sangue do seu sangue? Hun? –Ele se vira para seus homens que apenas nos assistem como se fosse uma plateia e nós a atração principal de um programa de domingo. – Façam suas apostas!

Sinto o suor escorrer por meu rosto. De longe, os lábios de Blake formam para mim a frase fique calmo.

Como diabos vou conseguir ficar calmo em uma situação como essa, é o que tenho vontade de gritar para ele.

– Começa por mim.

Todas as atenções se voltam para a voz debilitada, mas que ao mesmo tempo passa uma determinação invejável.

– Não. –Blake e eu proferimos ao mesmo tempo.

– Vocês não podem decidir por mim. –Rebeca mostra sua força.

– Ela tem razão. –Hector provoca, atiçando ainda mais a raiva em Blake.

O ignorando, meu irmão foca toda sua atenção á mulher que tem seu coração na palma da mão.

– Vai ficar tudo bem, bruxinha.

Ao ouvir o apelido, Rebeca exibe um sorriso. Fraco, mas ainda sim, um sorriso.

– Não dessa vez, mauricinho. Salve o seu irmão. Eu não ligo de morrer.

– Eu ligo. –Blake mantem a firmeza. – Não vou sacrificar a mulher que amo.

– E nós não abandonamos ninguém, cunhadinha. –Reforço.

– Muito comovente, mas está na hora de escolher, ou eu mesmo terei que fazer isso, e vocês não irão gostar. –Hector decreta. – Tic tac, Blake. O tempo está se esgotando. 

Meu Para Proteger - Série Homens Feridos, livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora