Blake Carter
Estamos a caminho do que seria nosso último país, se não tivesse aquela lacuna na localização deixada por Raul, indicando que há mais outro destino, mas que nós ainda não sabemos qual. E para ser sincero, não faço a mínima ideia de por onde começar a procurar. E pelo visto, Rebeca também não.
O cara deixou um verdadeiro enigma que mais aprece nos ferrar do que ajudar.
Tento relaxar enquanto o avião faz o seu percurso. Desligar a minha mente que parece cada mais propensa a pensar merda, como em Madrid, enquanto mostrava a cidade para Rebeca, não conseguia tirar a sensação incomoda que se instalou em meu peito depois que ela disse a porra daquela frase.
Onde há amor, não há espaço para raiva.
Eu sou a porra de um fodido, pois tudo que fiz depois que Júlia morreu, foi sentir raiva. Ódio. Fúria. Tudo de pior que um ser humano é capaz de guardar dentro de si, mesmo sabendo que isso pode leva-lo para o pior inferno que existe. Peguei-me questionando qual foi o último pensamento bom que tive sobre nós. Quando foi que parei e fiquei naqueles breves segundos, apreciando alguma memória de um momento feliz com Júlia. E tudo isso me fez questionar algo que tem sido meu martírio desde que saímos da Espanha.
Eu deixei de amar Júlia?
Rebeca está absorta na minha frente, com o olhar perdido no horizonte que passa através da janela. Sua mão circula o relógio em seu pulso, e não é a primeira vez que a vejo fazer isso, de uma forma distraída. Como se fosse uma mania que ela fizesse sem perceber. Olhando melhor, percebi que os ponteiros estão parados, e depois de alguns segundos, noto que eles de fato não se movem.
— Podemos consertar, assim que pousarmos. Se quiser.
Leva um tempo para que perceba que estou falando com ela. Aponto para o relógio, e o gesto que deduzi ser involuntário, cessa.
— Não precisa. Obrigada. —O sorriso mínimo foi o que ela encontrou para não deixar sua resposta rude.
Nada mais é dito. E mesmo que esse silencioso esteja me incomodando a ponto de me deixar inquieto, não tenho o direito de dizer nada, uma vez que fui eu o primeiro a me calar, ainda em Madrid. Meus pensamentos estavam turvos, conflituosos. Tive medo de abrir a boca e todos eles saírem sem permissão.
Os Carter's não sentem medo! Consigo ouvir a voz repreensora que meu pai sempre usava quando dizia essa frase para um garoto de dez anos, com o corpo tão magrelo que não tinha forças para segurar a maldita arma que foi colocada em suas mãos.
Deixei a sua resposta curta e a falta de informação sobre o porquê de ela não querer arrumar um relógio estragado, para lá. Peguei o notebook e decidi focar em trabalhar. Jeremias havia me enviado alguns documentos que precisavam da minha supervisão e foi nisso que foquei durante toda a nossa viagem para a Alemanha.
[***]
Fazemos a nossa hospedagem em Berlim. E no mesmo silêncio que viemos, seguimos para os nossos quartos. Deixei a minha mala em um canto e peguei o celular que tocava insistente desde que pousamos. Verifico as chamadas perdidas, e entre elas estão os números de Walter e Noah. Decido retornar depois e dou preferência para a ligação de Jeremias.
— Sim?
— Senhor —A voz ofegante dele me deixou em alerta. — Temos um problema.
Pergunto-me quando é que não temos.
Esfrego o rosto antes de me sentar na cama para ouvi-lo.
— Diga.
— A Sunset foi atacada.
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Meu Para Proteger - Série Homens Feridos, livro 3
RomanceA morte parece andar ao meu lado. Posso jurar que sinto o cheiro dela nas minhas entranhas e a sua respiração na minha nuca. Primeiro foram os meus pais. Depois, a minha esposa. Eu os perdi, sem sequer ter a chance de defende-los. Agora, irei pro...