Capítulo 15

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Blake Carter

O maître nos entrega a carta de vinhos e se retira. Rebeca analisa as opções ali, e pela sua expressão, sei que ela não está entendendo um único nome. Faço um sinal para o mesmo homem e ele se aproxima.

Un Marquis Delatre, s'il vous plaît.*

Rebeca parece deslumbrada. Será que estou enxergando direto?

— Quantas línguas você sabe falar?

— Se eu for listar, passaremos a noite toda aqui. —O maître não demora, e logo volta para encher nossas taças com um dos melhores vinhos desse lugar. A ruiva e eu brindamos antes de tomar o primeiro gole. — Meu irmão e eu frequentamos cursos de idiomas desde que me entendo por gente. Pensávamos que ele fazia isso pelo simples fato de terem dinheiro. Hoje sei que tudo não passou de um preparo dele. Afinal, quando eu assumisse o lugar do meu pai, precisaria conhecer outras línguas e assim conseguir fechar negócios com outros países.

— Ele pensou em tudo, não é mesmo?

— Nem tudo.

Ela sorri, compreendendo exatamente ao que me refiro. Meus pais me preparam para essa vida, só esqueceram que eu não sou a porra de uma marionete e que sigo o meu próprio caminho. E mesmo que tentem me colocar em outro lugar, eu encontrarei um atalho.

Rebeca se recosta na cadeira, gira o vinho em sua taça e cruza as pernas. O vestido cor de perola sobre um pouco, a fenda encaixando perfeitamente em sua coxa. Meu cérebro, fascinado, só consegue pensar uma coisa.

Mas que bruxa!

— Os seus amigos, como os conheceu? —Quer mudar o foco, ruiva? Sério?

Decido entrar em seu jogo.

— Para não chamar muito a atenção, nossos pais nos matricularam em uma escola comum. É claro que tinham seguranças por todos os lados, mas ninguém os notavam. Inclusive meu irmão e eu. —Lembro dos meus questionamentos de criança, que não entendia o motivo dos meus pais não irem nos buscar na escola. — Foi lá que conhecemos o Noah. Ele era um garotinho um tanto peculiar e que todos pegavam no pé.

— Peculiar como? —Rebeca parece realmente interessada.

— Sempre antes de sentar na carteira, ele a limpava com álcool. A professora precisava esperar ele terminar, para então começar a aula. Também odiava que outras crianças o tocassem. Um dia, um dos garotos que pegava no seu pé, resolveu provoca-lo e deu um abraço nele. Noah ficou branco e desmaiou.

— Por conta de um abraço?

— Noah tem uma história complicada, ruiva. A mãe dele era uma pessoa extremamente doente, e criou o filho à sua semelhança. Não sabíamos naquela época, mas ele já estava sofrendo com transtorno obsessivo compulsivo.

— Isso é horrível! Não imagino o quanto deve ter sofrido.

Lembro-me de todas as vezes em que Jeremy e eu defendemos o Noah perante os outros garotos que não o deixavam em paz. Ele se tornou o nosso melhor amigo e o nosso protegido também. Ninguém nunca mais encostou nele ou zombou de suas ''esquisitices''.

— Realmente, não foi fácil. As coisas melhoraram a pouco tempo, quando Maria engravidou. Ele percebeu que precisava de ajuda, ou acabaria ficando assim pelo resto da vida.

— Ela parece ser uma mulher muito especial. Vi a forma como você a trata.

— Aquela loira. —Não consigo evitar o sorriso ao me recordar das estripulias dela. — Ela é como uma irmã que eu nunca tive, sabe? Desenvolvi um instinto protetor de irmão mais velho sem ao menos perceber.

Meu Para Proteger - Série Homens Feridos, livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora