22° | Delegacia

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• Nicholas Martinez

Prendemos o policial de meia idade em um dos quartos vazios e trancados que há no primeiro andar. Camilla me forçou a curar os machucados que ele havia feito a algumas horas atrás. E eu tive que aceitar, a dor estava latejante demais e ela iria me enfaixar de qualquer jeito.

Tomei um banho antes disso, ainda estou com algumas roupas dele, não achei nada específico para dormir então estou outra calça social, sem camisa e segurando o pingente de cruz de meu pai. Realmente o calor de Rio de Janeiro não é para mim. Estou encostado na cabeceira da cama, com os braços cruzados, olhando através da janela, observando algumas luzes que estão um longe.

Rafael permanece no mesmo cômodo que eu e Camilla, que está deitada ao meu adormecida. Ele permanece sentado na cadeira e ainda não acordou. Tranquilizante potente, eu diria. Suspiro e olho para minha perna que está coberta pelo pano fino da calça e pelas faixas. Pelo menos não está machucada, apenas com alguns hematomas.

Olho para o lado, vendo Camilla de costas para mim, sua tatuagem está a mostra por causa da blusa larga que veste. Ainda não consigo ver oque está escrito, mas desde que a vi, estou querendo saber o significado. Não que isso seja da minha conta, mas eu desenvolvi um fascínio por tatuagem desde que eu fiz as minhas.

Eu não sabia oque faria nos estúdios, mas chamou muito minha atenção um desenho de dragão estampado na parede quando entrei para fazer. Simplesmente começou meu fascínio por dragões e por tatuagem ali.

Suspiro, não estou com sono depois do que tive que passar hoje. E infelizmente já está amanhecendo, oque não é bom, porque vou ficar de mal humor o dia todo só por causa do sono, mas me recuso a dormir enquanto estiver com Rafael sem vigia.

Pego meu celular que está ao lado, na pequena escrivaninha. Ligo e desbloqueio, são 03:04 da manhã. Me levanto devagar da cama e ilumino o chão com a luz da tela, procurando minha mochila. Não demora para que eu a ache já que está no mesmo lugar que deixei depois da fuga para a casa de Nicole.

Pego sua alça e vou em direção ao closet, para não acordarem, já que o vidro é escuro e não vai refletir a lanterna. Arrasto a porta cuidadosamente e em seguida entro por completo assim que fecho. Me abaixo e sento no chão, aliás não tem cadeira aqui. Deixo o celular escorado em algumas roupas dobradas para iluminar dentro da mochila.

Ergo a mochila e retiro o diário de dentro, deixo a mochila em cima de minhas coxas e abro o pequeno livro velho. Vejo página por página, apesar de saber todas as coisas de cor. A tipografia de meu pai continua ali, mesmo a página estar amarelada.

Me lembro de cada coisa que eu vi hoje, no vídeo. A vontade de matar Rafael surge quando recordo que ele estava no meio daquela situação. Olho através do vidro ao meu lado, observando ele sentado ainda desmaiado na cadeira.

Seria uma ótima oportunidade, mas desisto quando penso que vamos precisar dele daqui a algumas horas. Para o encontro de Adrian em sua empresa. Espero que ele não suspeito de nada, já que Nicole conseguiu que o celular de Rafael não esteja mais rastreável. Volto meu olhar para as folhas.

Vou até as páginas vazias, penso se devo continuar escrevendo oque descobri até hoje, sobre o tesouro. Oque não é muito, já que tivemos que atrapalhar a busca para tentar resgatar Sophia e Diego, e quem sabe, dar um basta na história de Adrian, que só fez pessoas sofrer.

Devo ter herdado isso de minha mãe, fazer coisas para os outros que não fariam isso por você. Fui criado assim até meus 8 anos, até a época que minha mãe morreu. De fato, eu era muito novo para ter minhas crises de pânico, mas era inevitável, não ter ninguém para te acolher quando você precisava era horrível. Ainda é.

O Tesouro de Barcelona Onde histórias criam vida. Descubra agora