Capítulo 9

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– Eu sinto que vou morrer. -ergui os olhos do computador encarando a senhora de cabelos brancos em minha frente.

– Pode me explicar melhor essa sensação? -perguntei me levantando até o filtro de água na lateral da pequena sala, entregando-a um copo de água.

– É uma pressão no topo da minha cabeça. -respondeu indicando o lugar com as mãos. – Mas parece que meu cérebro vai explodir a qualquer momento.

Me retrai momentaneamente ao sentir sua mão agarrando a minha, seu rosto era a própria figura do pavor enquanto seus olhos transbordavam lágrimas de desespero.

– Pode falar doutora... vou morrer, não vou?? -sorri fazendo carinho nas costas de sua mão.

– Vamos fazer alguns exames primeiro. -a tranquilizei – Mas não precisa ficar assustada, esses sintomas não indicam nada sério.

A acompanhei até a porta de correr da pequena sala de atendimentos neurológicos, encaminhando ela para realizar os exames, encostei as costas no batente da porta esperando o menino sorridente chegar até mim.

– Você cortou o cabelo. -afirmei apontando para o undercut, fechando a porta da sala.

– Gostou? -Sanghun perguntou caminhando ao meu lado. – Achei que precisava de uma mudança.

– Ficou legal. -afirmei pegando uma bandeja no refeitório. – Diferente do que você usava.

– Achei que teria que estar mais bonito para conhecer minha nova melhor amiga, BIBI. -soltei uma risada enquanto pegava um potinho de uvas.

– Quem disse que eu vou apresentar vocês? -debochei me sentando em uma mesa do lado da parede.

– Você prometeu !! -joguei um guarda napo em seu rosto esperando apagar o biquinho horrível de sua feição. – Além do mais, é o mínimo depois de não me dizer absolutamente nada de Paris.

– Eu não disse porque você já acompanhou tudo pelo instagram !! -exclamei bebendo o leite de péssima qualidade que nos é fornecido.

– A sua bunda que eu acompanhei tudo. -arregalei o olho pelo xingamento. – Você postou literalmente dois stories e um segmento de seis fotos no feed, sua cachorra.

– Eu fiquei apenas dois dias. -ri de seu comportamento irritado. – Só postei isso... porque só aconteceu isso.

Me levantei, caminhando para a área verde interna do hospital com Sanghun reclamando interminavelmente atrás de mim, sentei-me em um bando encostando as costas em uma árvore enquanto o ouvia reclamar.

Deus me fez ser filha unica. — Acredito que assim até seja melhor, mais uma vida nas mãos daquela mulher é um pensamento que dói até meus ossos. — Mas se eu tivesse irmãos, com certeza, Sanghun seria meu irmão mais novo, irritante e petulante.

Normalmente, com outras pessoas ele é muito sério e rigoroso, ergui meus olhos para seu sorriso brilhante e olhos de gato enquanto ele falava de algo animadamente, como sempre.

Acredito que comigo, Sang Hun consegue ser a criança que ele nunca foi... acho que esse é o principal motivo pelo qual o mantenho por perto e permiti que entrasse em minha vida aos poucos, eu o admiro na verdade.

Quando nos conhecemos no jantar de confraternização dos novos residentes, ele chegou em mim, com o peito transbordando de orgulho ao me contar de sua família e suas raízes... uma família de agricultores da Ilha Jeju, irmão mais velho das gêmeas Jina e Mina, e mesmo com toda a dificuldade, se tornou um médico em Seul, em um dos melhores hospitais de ensino do país.

Sorri para ele, entrelaçando nossos braços enquanto caminhávamos de volta ao hospital.

– Sinto inveja de você. -deixei escapar um sentimento a muito tempo guardado em meu peito.

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