Epílogo

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Quatro meses depois..

Estiquei as costas doloridas sentindo o estofado macio abraçar meus músculos doloridos, fechei o livro de romance que Jun me recomendou, fechando os olhos por um momento, apreciando os raios de sol que entravam pelas janelas do estúdio, essas horas calmas e pacatas se transformaram na minha parte preferida da vida. Quando Minghao e eu nos recolhemos em seu estúdio no último andar de nossa casa e fingimos que o mundo exterior não existe e nada pode nos alcançar dentro de nosso pequeno espaço seguro.

Virei o rosto encarando Minghao sentado próximo a um cavalete de pintura, sorri enquanto observava seu rosto concentrado e sobrancelhas franzidas enquanto pincelava cores na tela em branco por no mínimo três horas que estamos aqui em cima, seu próprio rosto e roupas já são pinturas a essa hora. — Tinta derramada em seus braços, manchas de pincéis em suas bochechas e dedos sujos de tinta amarela. —

Arrumei a minha posição no sofá, franzindo as sobrancelhas ao sentir meu ombro reclamar com uma fisgada incomoda, como um lembrete de tudo o que suportei para estar viva hoje. Mesmo após meses de fisioterapia, a dor fantasma no local onde recebi o impacto da bala ainda persiste... sempre me lembrando dela.

– Tudo bem, meu bem? -virei o rosto novamente ao ouvir a voz suave de Minghao quebrar o silêncio do estúdio, ele permanecia concentrado em sua tela, mas sempre alerta a cada pequeno movimento meu.

– Estou bem, Hao. -era a mais pura verdade, eu nunca tinha experimentado tal sentimento antes na vida, a calmaria mais pura e crua, como se eu tivesse atingindo o nirvana. – Você tem a sensação de que isto não é real?

Minghao esgueirou a cabeça por trás da tela, me olhando de relance antes de se concentrar novamente, sorrindo ladinho. – Está muito entediante para você, senhorita aventureira?

– Idiota, eu amo essa vida... apenas não parece real. -ri escondendo o rosto, conversar serio com ele sempre foi uma tarefa complicada. – Às vezes me pego pensando em quando tudo vai desmoronar novamente.

Escutei a risadinha de Minghao baixinho atrás da tela que bloqueia minha visão completa dele, recebendo apenas realces de braços e mãos em alguns momentos. – Essa é uma das coisas mais estranhas que você já disse. -ele respondeu, se levantando do banquinho, fazendo sua cabeça aparecer por cima da tela, onde nossos olhares se encontraram. – Você está acostumada a correr constante perigo de vida que quando não tem ninguém te perseguindo ou tentando te matar você acha estranho.

Dei de ombros, abrindo meu livro novamente e ignorando sua fala. Porque é verdade, mas o que eu vou fazer com isso? Após minha saída do hospital todos eles fizeram um complô contra mim, me empurrando constantemente para um psicólogo ou um psiquiatra. — Alguns dias atrás eu achei um cartão de uma psicóloga junto da minha escova de dentes. — Mas acho que nenhum deles entende o quanto isso é difícil para mim.

Como alguém que passou a vida inteira guardando segredos pode simplesmente ir em um local estranho e conversar com uma pessoa totalmente indiferente que eu não possuo completa confiança e simplesmente contar a ela todas as coisas mais obscuras do meu passado? Isso é loucura para mim..

– Não vai rolar, nem tente. -resmunguei ao perceber que ele continuou a me encarar, com uma sobrancelha erguida.

– Vamos apostar. -ele acrescentou, vendo que eu nunca iria por livre e espontânea vontade. – Em nome da nossa sementinha.

Abri a boca em um perfeito O, soltando o livro rapidamente e me sentando no sofá o encarando indignada, sua fala era no mínimo inacreditável e audaciosa, e ele tinha completa consciência disso, já que seu olhar divertido em seu rosto me dizia que ele achava graça da situação. Sementinha é o bebê que carrego em meu ventre, nosso bebê, que ainda não nos deixou saber o sexo e dar um nome apropriado então foi apelidado carinhosamente por todos como sementinha.

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