Capítulo 28

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– Acho melhor você começar a se explicar. -falei enquanto negava a terceira ligação de Minghao, sentada no sofá da casa do senhor Kang. – Ou eu vou ligar para a polícia.

O homem mais velho não me olhava nos olhos, sua postura retorcida com os ombros voltados para baixo eram uma imagem muito diferente do segurança sério e seguro que me protegia... de um perigo que ele mesmo me causava.

– Como você encontrou esse lugar? -ele passou a mão pelo cabelo raspado, em frustração.

– Você não vai fazer as perguntas aqui. -respondi grosseiramente, percebendo que ele negava e mudava o rumo da conversa sempre que tinha que se explicar. – Você tem cinco minutos para falar, ou eu chamo a polícia. -levantei o celular, exibindo o número da polícia piscando na tela brilhante naquela casa escura.

– Você precisa me entender... -levantei a mão, cortando a frase do homem ao meio.

– Não ! Você que precisa me falar o que está acontecendo primeiro. -asegurei, ficando levemente irritada com a enrolação. – Depois eu decido o que fazer com você.

A noite se aprofundava a cada hora que nós passavamos neste impasse de informações escondidas, nesse ponto Minghao já tinha ligado para todos os meus amigos, que mandavam mensagens incessantes perguntando meu paradeiro e se algo havia acontecido. Eu poderia respondê-los e tranquilizá-los — eu deveria fazer isso. — Mas a minha cabeça e meu corpo não estão mais funcionando em sincronia e agora a única coisa que eu consigo fazer é encarar o homem cabisbaixo em minha frente na espera de respostas de o porque ele faria algo tão cruel comigo.

– Depois que minha esposa e filha morreram... minha vida virou de cabeça para baixo. -Kang falou, respirando fundo, como se agora ele começasse a se desfazer de um peso que carregava durante anos. – Parecia que minha alma se corroía a cada dia que passava... e quando eu descobri tudo, meu corpo se alimentou de vingança. -meus olhos acompanhavam cada tensão de seu corpo e os olhos escuros e tristes enquanto ele falava. – Vingança contra sua família.

Meus olhos se arregalaram em choque e a minha respiração falhou. – O que minha família tem a ver com sua? Você disse que tinha sido um acidente de carro.

– Foi. - o homem completou, erguendo os olhos para olhar dentro da minha alma. – Sua mãe era a motorista.

A sala se encheu com um silêncio tenso, as palavras pairando no ar como uma sentença irrevogável. Meu cérebro quase não conseguia formar sentenças claras e minha garganta seca e dolorida arranhava a cada respirada que eu dava, meu olhar passava pelas fotos e jornais espalhados pela parede se voltando para o homem periodicamente, enquanto eu juntava as peças do quebra cabeça em minha mente.

– Você está me usando? Para se vingar deles? -a traição em minha voz era clara, meu peito ardia enquanto o ar entre nós ficava cada vez mais rarefeito.

O homem abaixou a cabeça, incapaz de encarar a dor em meus olhos. – Sim, inicialmente... -minha mente entrou em curto circuito enquanto o mais velho se levantava da cadeira e andava de um lado para o outro, nervoso. – Mas foi antes... agora eu não posso machucar você dessa maneira.

– Caralho. -xinguei, desacreditada da situação que eu me encontrava. – Você mudou de ideia um pouco tarde, não acha?

Senhor Kang olhou em meus olhos com intensidade jamais vista, a dor e a amargura pintadas em seu rosto. – Eu sinto muito..

– Como você sabe que foi Kim Daesong que fez isso? -perguntei, ignorando propositalmente seu pedido de desculpas. – Porque ela faria isso com totais estranhos? A quanto tempo você planeja uma vingança? O que você quer? -as perguntas saiam de mim em alta velocidade enquanto meu cérebro trabalhava freneticamente para ligar todas as cordas soltas.

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