APÓS seu banho, já um pouco mais conformada com sua situação, Natsumi deixou o cômodo já vestida. Tinha odiado se vestir no banheiro, porque sua roupa havia ficado molhada nas bordas e, como o tecido era grosso, assim ficaria por um bom tempo. Com um longo suspiro, a menina de cabelos curtos se aproximou da estante de livros e arrastou o dedo pelos vários livros enfileirados. Todos de acordo com o seu próprio gosto.
Alguns tinham títulos bem chamativos, já outros nem tanto, mas a Kushina acabou por decidir que a leitura ficaria para uma próxima vez. Foi para o meio do quarto, brincou com os pés no tapete cinza felpudo, olhou ao redor e suspirou. Mais uma vez, tinha um grande nada para fazer. Olhou para a cama e resolveu fazer o que mais fazia por ali até o momento: dormir.
Na concepção da garota, o tempo passava mais rápido assim.
Catarina olhou pela janelinha algumas várias vezes e viu a menina dormindo, ou cochilando. Queria conversar, pois não aguentava mais de tédio, mas não iria acordar a outra só por conta deste fato. Decidiu por escolher um filme em sua estante, o primeiro da série Scream, e deitou-se em sua cama para assistir na pequena TV suspensa. Deixou a luz apagada e se enrolou nas cobertas, mas ainda assim, hora ou outra, espiava a outra menina cochilar tranquilamente no quarto ao lado.
. . .
Syuzanna voltou até ali mais tarde, com dois papéis em mãos, era o cronograma para o dia seguinte. Ela deixou um dos papéis com a garota mexicana e, ao ver que Nyla dormia, deixou seu papel sobre uma mesinha em seu quarto, pedindo para que Catarina avisasse a outra a respeito disso.
Poucas horas mais tarde, a dobradora de ar acordou. Sentou sobre a cama e tinha a cara inchada, cabelos desgrenhados e um dos olhos ainda fechados. Catarina quase riu da cena cômica, mas se segurou ao máximo quando Natsumi virou o rosto para a tal janelinha. A recém-acordada emburrou a cara e colocou o cobertor na frente do rosto, voltando a deitar de novo. Por isso odiava quartos compartilhados: odiava que a observassem quando acordasse.
— Ah, mas que inferno! — Resmungou abafado. — Não quero mais essa porcaria aqui. Catarina, por favor, usa aí esse teu controle sobre a terra e fecha esse buraco.
A privacidade realmente não iria existir ali.
— Ahn, acredito que não consigo fazer isso... ainda? — Respondeu meio sem jeito. — Posso perguntar o porquê de você estar resmungando?
Nyla se sentou na cama novamente, tão rápido quanto um zumbi levantando-se da tumba, assustando um pouco a outra garota.
— Pelo amor de Deus, eu não estou mais acostumada com a ideia de outras pessoas me verem assim! — Apontou para o próprio rosto. — Não sou uma pessoa diurna, por favor respeite.
— Com o cabelo bagunçado...? — Catarina perguntou, com uma careta confusa. — Ah, qual é?! Eu realmente não estou entendendo. Só queria ajudar, se fosse possível.
— Não precisa, tá tudo bem. — Respondeu, envergonhada.
A verdade é que ela detestava parecer desleixada na frente de outras meninas, mesmo sabendo que não era dessa forma. E Catarina era bem bonita, então isso a deixava um tanto quanto constrangida. Já havia reparado na beleza da outra desde o dia das apresentações e, por seu histórico com outras meninas, parecer desleixada daquela forma a fazia se sentir indesejável. Lembrava que era diferente quando via a menina por quem ela era apaixonada antigamente naquelas condições, porque achava fofo. Mas ela? Se sentia na obrigação de estar sempre muito bem arrumada.
Acreditava que tinha virado uma pequena mania decorrente dos dias de visitação no orfanato, as irmãs sempre arrumavam as crianças muito bem, as deixavam cheirosas e sem nenhuma mancha de tinta ou terra. Optavam sempre pelas roupas mais novas e sem marcas de uso, porque assim davam a leve impressão de que eram cuidadosas e limpas. Elas diziam que quanto mais apresentável estivessem, mais fácil era de os escolherem para adoção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sinfonia Elemental
FantasyFANTASIA | ROMANCE SÁFICO | DRAMA | SUSPENSE | TERROR Em um mundo onde os humanos acreditavam que superpoderes eram uma exclusividade dos filmes fantasiosos, os quais não passavam de meras histórias distópicas para que pudessem arrancá-los da realid...