CATARINA abriu repentinamente os olhos naquela possível manhã. Era estranho ter dezoito anos e ainda ter pavor de trovões e tempestades fortes, por conta de acontecimentos passados. Por conta de seu terrível pesadelo com barulhos estrondosos de trovões, acordou exasperada. Seu coração agora tentava se manter mais calmo e sua respiração voltava a se normalizar, aos poucos. Era ridículo pensar que estava apavorada com um simples pesadelo incomum.
Aquele lugar começou a mexer com seus lados mais pessoais, e tudo que menos queria era isso.
Mesmo não sabendo do que se tratava a tal futura punição por tentarem fugir, ela sabia que não seria nada tão desagradável. O que irão fazer? Me colocar em uma jaula e pedir para fazer truques de malabarismo? Ela pensou enquanto saía de seu saco de dormir. Ou será que vão me colocar em um quarto fechado com a Flowers? Posso conviver com isso. Ela continuava pensando sobre essas hipóteses, mas tudo soava como uma piada para si.
Se levantou ainda um pouco atordoada com o pesadelo e sacudiu levemente a cabeça em negação, afastando aquilo de seus pensamentos. Se prontificou em ir até o banheiro para tomar um banho breve, já que não tinha noção das horas e nem quando alguma das três mulheres iria adentrar a cela. Se é que adentrariam. Desejou que aquilo demorasse horas, já que não estava com muita cabeça para ouvir mais sermões de todas as três mais velhas.
Mesmo tendo escutado que nenhuma delas queria, verdadeiramente, o seu mal, ela ainda estava inconformada com tudo do dia passado, sabendo que demoraria para que conseguisse aceitá-lo. Mesmo que a dobradora de água estivesse certa sobre o plano ter sido feito para conseguir chegar apenas do lado de fora, sequer conseguiram o fazer. Fracassaram no básico, e isso frustrava a González. Feria seu orgulho e a impedia de ter noites tranquilas de sono. Por isso os pesadelos.
Noites mal dormidas também eram sinônimos de todas as suas recordações que envolvia sua mãe. Estresse, pouca paciência, transtorno de ansiedade generalizada, falta de apetite e insônia, tudo isso fazia parte de sua rotina normal como ser humano, desde que sua mãe tinha partido. Seu pai a levava por várias vezes em psicólogos e os mesmos sempre a encaminhavam para a psiquiatria por conta de sua ansiedade, pois era agravante o suficiente para que precisasse fazer uso de medicamento prescrito. Mas obviamente a dobradora de terra odiava aquela ideia e sempre faltava suas sessões semanais de terapia.
Ela dizia a seu pai que ia em todas as sessões, mas sempre que chegava ao lado de fora da clínica de psicologia e psiquiatria, ela procurava outro lugar para ir. Ficava exatos quarenta e cinco minutos sentada em um dos bancos da praça que tinha por ali perto, pois dentro desses quarenta e cinco minutos, ela simulava sua sessão de terapia. Aquilo não parecia tão errado em sua cabeça, visto que seu pai utilizava o plano mais barato de saúde, e não o mais caro, por falta de dinheiro.
Toda aquela história de terapia e remédios controlados a deixavam ainda mais estressada e ansiosa que o normal. Com os anos, havia se acostumado com todos seus episódios ruins e recaídas, porém as pessoas que ela tinha por perto foram se afastando quando seus problemas transpareciam. Havia se arrependido amargamente por todos os anos que os chamavam de melhores amigos, já que na primeira oportunidade de dar o fora, eles aceitaram de prontidão.
Por anos, a González se culpou pela ausência dos amigos. Se sentia solitária o tempo todo, e a única pessoa que a tirava de tamanha solidão era seu próprio pai. Ela podia reclamar que ele era um abobalhado, e muitas vezes um tanto quanto grosso, mas nunca poderia chamá-lo de péssimo pai. Ele sempre esteve muito presente em sua vida, principalmente após a ida de sua amada mãe. Ficar longe do mesmo a deixava cada dia mais angustiada, pois por mais que tivesse encontrado outra garota para que pudesse lhe fazer companhia naquele lugar, ninguém se comparava ao homem. Sempre seria ele e ela em primeiro lugar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sinfonia Elemental
FantasyFANTASIA | ROMANCE SÁFICO | DRAMA | SUSPENSE | TERROR Em um mundo onde os humanos acreditavam que superpoderes eram uma exclusividade dos filmes fantasiosos, os quais não passavam de meras histórias distópicas para que pudessem arrancá-los da realid...