Um Novo Começo.

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O COMITÊ de boas-vindas foi silencioso. As comidas típicas da cidade da dobradora de terra estavam cheirosas, quentes e pareciam ter sido feitas por mãos habilidosas de quem morou a vida inteira na Cidade do México, mas nada daquilo foi suficiente para que alguém se pronunciasse naquela mesa. Catarina sentou-se longe das demais, em uma mesa vazia e sem muitos olhares famintos por informações valiosas.

Haneul queria que tivesse sido diferente. Aquilo tudo. O grupo parecia mais dividido, e não havia nada que fizesse a mais velha enxergar uma reaproximação. Chloé, que a algumas semanas atrás lutava por um diálogo amigável ali dentro, agora comia em silêncio enquanto seus olhos cor de mar pareciam mais tempestuosos que o normal. Nyla, que por mais que fizesse um grande esforço para não olhar na direção da dobradora de terra, ainda tinha aqueles olhos confusos indo de seu prato até os cabelos ondulados da mexicana. E Madison...

Madison estranhamente parecia incomodada com tudo aquilo. Incomodada com aquele silêncio e aquele clima pesado. Era como se sua raiva pela dobradora de terra tivesse se transformado em algo mais profundo que apenas incompatibilidade de personalidade; era como se Madison estivesse entre o ódio e a compaixão por tudo que aconteceu. Ódio por ver sua primeira amiga com a cara ensanguentada ao chão, e compaixão por ver a González se descontrolar tão penosamente na frente de todas, como se estivesse em uma dor tão aguda que tornava-se quase pegajosa.

E o plano para que as coisas retornassem ao normal foi por água abaixo. O comitê não pareceu nada receptivo, e as comidas - que eram simbólicas - agora pareciam só... comidas sobre a mesa. E Hani entendeu, naquele dia, que não podia fazer nada para que unisse aquelas meninas como havia tentado pela primeira vez. Agora, para que voltassem a ser um grupo, teriam que fazer tudo por conta própria.

Afinal, o IPAB agora não era mais uma novidade para aquelas dobradoras. Não era mais um desafio para elas, e isso poderia tornar as coisas mais... lentas. Um processo de cicatrização mais demorado que o normal, porque agora não estavam mais sofrendo com uma adaptação bruta, mas sim com as consequências dos próprios atos.

Hani apenas se perguntava o que poderia ser mais difícil que adaptação e com as consequências. Pensar naquilo a fez enjoar, e um sutil arrepio percorreu seu corpo.


CHLOÉ acordava de uma forma preguiçosa. Já estava começando a se acostumar com aquela rotina de um dia em seu quarto, e no outro, ala médica. Shin havia explicado algo sobre o processo curativo de um dobrador, mas a Guillaume havia desistido de entender depois de perguntar pela quarta vez a mesma coisa, e mesmo assim ainda não ter entendido. Admirava a medicina e o profissionalismo de todos dentro daquela área, mas só de pensar no quanto eles precisavam estudar... sentia-se sufocada. Por mais que fosse muito dedicada e estudiosa, medicina parecia algo muito inalcançável.

Apenas sabia que agora precisava de um dia sim e outro não de observação médica. Não era uma rotina de exames complexas, era mais como um check-up padrão, apenas para manter as anotações ou fazer novas. Uma enfermeira sempre surgia pela manhã com mudas novas de roupa, um carrinho metálico com uma prancheta, luvas descartáveis, palitos de madeira, cotonetes, aparelho de pressão, uma pequena lanterninha e vários outros instrumentos médicos. Deixava ali pronto, porque Shin chegava logo em seguida.

Era o tempo de seu banho matinal.

A garota sentou-se em seu leito um pouco desorientada pelo sono, suas dores eram bem menos incômodas que antes, mesmo que ainda tivesse dificuldade em se mexer normalmente. Estava sendo muito bem cuidada pela equipe que Hani havia deixado responsável pela área médica, o que apenas fazia Chloé confiar mais na mulher. A Bae realmente não brincava em serviço, e sempre levava tudo muito à sério, intervindo sempre que via algo que não concordava ou que não tinha sido notificada.

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