ESTAR naquela sala com aquelas pessoas era demais para a cabeça de Madison. Ao mesmo tempo que ela pedia muito por mais informações completas e objetivas, menos ela queria saber de fato o que estava fazendo ali. E o porquê daquilo tudo só deixava a loira cada vez mais nervosa e levemente irritadiça. E estar em Nevada? Céus. Isso era o completo oposto de onde vivia com os pais.
Veja bem, era uma garota de dezoito anos. Nem havia concluído seus estudos e, em um piscar de olhos, se encontrou aprisionada em quarto - que mais se parecia com uma cela -, rodeada de pessoas que sempre a diziam as mesmas coisas, quase como um mantra bizarro. Tinha seus motivos para ficar irritada, pois queria ir embora. Queria voltar para casa e voltar para sua vida normal de sempre. E não estava sozinha com aquele sentimento de revolta, pois isso estava estampado nas feições das outras meninas de dezoito anos.
Olhou mais uma vez para cada garota ali, tentando encontrar em alguém aquele sentimento sufocante, parando seu olhar na menina com expressões cansadas e perdidas, corpo esguio e cabelos loiros compridos como uma cascata de mel. Fez um bico pensativo e mediu a menina - Chloé Guillaume, como ela havia se apresentado -, logo desviando seu olhar quando a mesma a encarou. O pouco que pôde observar dela, foram os olhos da cor de oceano.
Ela ouvia Bae Haneul falar, mas também podia ouvir seu coração se acelerar a cada palavra dita pela mulher. Ela sabia que seu lugar não era ali, sabia que não tinha feito nada de errado com ninguém, e também sabia que não tinha peculiaridade nenhuma. Ela estava se sentindo presa em um filme de suspense, no qual ela não conseguia sair, nem se quisesse. Contudo, seus sentimentos eram conflitivos, pois no fundo - ocultado para que ninguém reparasse -, algo quente a chamava e a confortava ao estar ali.
Ao ouvir aquelas últimas palavras esmagadoras vindas da elegante mulher, Madison sentiu como se tudo desmoronasse ao seu redor, como no dia do incêndio em sua escola, ao ser coberta por escombros. Ela sentia seu corpo inteiro se esquentar por conta da tensão que seus ombros começavam a desenvolver e isso resultou em uma súbita mudança de temperatura na pequena sala, o que foi completamente anormal. A única coisa que conseguiu fazer ao ouvir aquelas palavras foi rir.
Sua risada saíra em um tom de desespero. Como assim a loira poderia pôr a vida de seus pais em perigo? Ela não conseguia fazer mal nem mesmo para uma única formiga sequer. Era desgastante ter que ouvir todas aquelas coisas que não faziam o menor sentido, o tempo todo, sempre, sempre e sempre. Ao ver das outras mulheres, aquelas mesmas palavras que saíam da boca de Haneul, eram a mais pura verdade; e aquilo a deixava ainda mais intrigada. Isso só pode ser uma brincadeira.
— Está querendo dizer que nós somos o problema, então? — Madison sentiu seu nariz arder e a voz embargar.
Guardava seu choro em seu peito, junto de sua angústia de ainda estar ali esperando por respostas coerentes com a realidade. Não era justo estar ouvindo aquelas coisas de uma mulher que mal a conhecia. Ela não tinha o direito de fazer aquilo consigo, pois sabia que era uma pessoa boa e nunca machucaria ninguém. Em todo lugar que estava, as pessoas ainda a olhavam como um monstro. Podia estar em qualquer lugar do mundo - até mesmo Nevada -, mas ainda sim seria vista como uma aberração.
Hani hesitou brevemente com a pergunta distante da menina.
— Não é bem nesse sentido que eu quis dizer, minha pequena. Vamos nos acomodar um pouco mais, e assim daremos continuidade em mais algumas coisas, tudo bem?
Era fato que Madison nunca havia se dado bem com ninguém além de sua própria família. Ela nunca foi uma menina da qual as pessoas gostavam de se aproximar livremente, talvez por todos de sua escola saberem de sua irmã falecida e da história de como seus pais a protegiam e mimavam em tudo. A Flowers não gostava de se aproximar de ninguém, pois tinha medo de ser menosprezada por coisas que ela não tinha culpa e nem controle.
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Sinfonia Elemental
FantasyFANTASIA | ROMANCE SÁFICO | DRAMA | SUSPENSE | TERROR Em um mundo onde os humanos acreditavam que superpoderes eram uma exclusividade dos filmes fantasiosos, os quais não passavam de meras histórias distópicas para que pudessem arrancá-los da realid...