Hora de Outro Plano.

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APÓS ouvir aquela voz que não sabia identificar o que de fato era, uma voz sem som que aparentava ser apenas um pensamento atordoante, mesmo que pudesse sentir que era uma voz grave, rouca, distorcida e assustadora falando aos seus ouvidos, a Guillaume tinha um dos olhos fechados e a mão ainda em sua nuca.

Cambaleante, se dirigiu até ambas as amigas. Estava amanhecendo, mas a lua ainda estava aparente no céu. A luz mais forte proveniente do alvorecer do dia indicava que não restava muito tempo para que pudesse fazer o que queria. Ajoelhou-se entre as duas, fechou os olhos e concentrou-se, utilizando suas últimas forças provenientes da lua e aproveitando-se da dobra de sangue.

Tocou a mão de cada uma das garotas e permitiu-se tentar relaxar um pouco os ombros. Conseguia sentir o coração de Madison pulsar mais normalmente que o de Catarina, que estava fraco e bombeava pouquíssimo sangue para o resto de seu corpo. Merda! Se agachou ao lado da garota, colocando uma mão um pouco abaixo do pescoço desta, logo colocando a outra abaixo da curvatura de seus joelhos.

Sabia que se utilizasse sua dobra para mover as duas garotas ao mesmo tempo, não conseguiria curar a si mesma para que pudesse continuar as mantendo vivas. Estava chegando no seu limite e precisava se regenerar primeiro para continuar exercendo sua dobra, o que exigia que naquele momento se utilizasse apenas e unicamente do seu esforço físico, que já não estava lá em seu perfeito estado.

Ergueu o corpo com dificuldade e, em passos pesados e doloridos, adentrou a casa que estava danificada em muitas partes de sua fachada. Com cuidado, deitou a González sobre o chão e foi rapidamente ao encontro de Madison, fazendo o mesmo processo. Tendo as duas já dentro de um ambiente menos caótico, se dirigiu depressa à cozinha e abriu a torneira da pia, lavando as mãos e fazendo com que a água se direcionasse aos seus piores ferimentos.

Não podia se demorar naquilo e nem se recuperar por completo, precisava tentar salvar a vida de suas companheiras antes de qualquer coisa, principalmente Catarina, que estava em uma situação preocupante. Quando o cansaço se dissipou minimamente e se deu conta de que a maioria dos ferimentos não a incomodavam tanto quanto antes, buscou por qualquer recipiente grande e largo para que pudesse levar a água de encontro à dupla terra-fogo.

Próximo às duas garotas desacordadas, deixou uma bacia que havia adquirido com água e uma outra, menor para que pudesse espremer a água suja dos panos que utilizaria e também para deixá-los por ali, longe dos panos limpos. Correu para um dos quartos, pegando o máximo de panos e toalhas que conseguiu. Retornou para perto das garotas e fez com que parte da água envolvesse todo o corpo da Flowers e tomasse um ritmo calmo e contínuo. Já com a outra parte, molhou alguns panos para, primeiramente, limpar todos os ferimentos da González.

Havia muito sangue e precisava ter bastante cuidado, afinal, a garota havia sido atingida diversas vezes por explosões, sabia que o corpo dela não estava apenas com cortes profundos e com queimaduras graves. Sabia que seus ossos estavam quase todos comprometidos. Precisava visualizar tudo com muita atenção para que não a machucasse mais. Aquilo deixaria uma grande cicatriz, e Chloé sabia que Catarina ficaria sensível após acordar.

Seria um processo longo e muitíssimo delicado.

Estava exausta não só fisicamente, mas também mentalmente. Tudo aquilo era tão difícil de digerir. Antes de deixarem o laboratório, sabia do risco que corriam de encontrar novos dobradores, de morrer, de perder companheiras e todas as muitas possibilidades de acontecimentos ruins. Sabia de tudo isso, mas pensar sobre e estar nesse momento eram sensações completamente diferentes. Principalmente após os novos acontecimentos, sendo estes, as aparições de outras versões delas mesmas.

Não sabia muito bem o que aquilo significava, e se perguntava se as outras também tiveram o mesmo contato que tivera com aquela fada, mas tudo que conseguia fazer no momento era perguntar para as paredes. Chloé estava cansada demais para pensar em teorias e tentar ligar alguns pontos para, talvez, encontrar alguma resposta. Tudo que queria - e podia - fazer era ajudar suas amigas, o resto poderia deixar para depois.

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