Brincando na Chuva.

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DEPOIS de um longo dia de muito estudo, a mulher caminhava de volta para seu escritório, após checar algumas coisas na ala médica de seu laboratório. O barulho de seu salto alto ecoava entre os corredores, enquanto suas mãos seguravam firmemente os exames em suas mãos. Seus olhos estavam atentos à sua frente, observando a porta de seu escritório ao final do extenso corredor.

Estava sendo um pouco difícil esconder sua curiosidade perante ao resultado do exame sanguíneo da dobradora de água. Era de deixar qualquer pessoa daquele laboratório intrigado, pois nunca havia acontecido coisas como essa antes. Soltou um longo suspiro ao chegar até sua porta, tocando a maçaneta gélida e sentindo um grande cansaço devido a suas preocupações. Podia descansar por dias, mas sempre se sentiria um pouco exausta ao final dos dias.

Abriu a porta vagarosamente e adentrou seu escritório. Fazia um frio reconfortante no local - frio este feito por seu ar-condicionado -, fazendo a mulher se aconchegar um pouco mais dentro de seu blazer azul marinho. Seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo perfeitamente alinhado, feito no período da tarde. Preferia trabalhar de cabelos presos, pois se irritava quando suas madeixas tapavam seus olhos, impossibilitando sua concentração em seus estudos e em suas tarefas. Mas, agora, podia se livrar daquele aperto.

Puxou o elástico que mantinha seu cabelo preso e o deixou em seu pulso, para que pudesse usar novamente quando precisasse. Bagunçou sutilmente seus fios, sentindo-se um pouco mais aliviada em deixar seu couro cabeludo um pouco mais livre. Caminhou na direção de sua mesa, ainda de saltos altos, tomando uma nota mental de se livrar do aperto do mesmo quando se sentasse sobre sua cadeira.

Não faria muitas coisas por agora, visto que já estava um pouco tarde, mas precisava inspecionar um pouco mais os exames de Guillaume. Deixou os papeis sobre a mesa quando chegou até a mesma, contornando-a e se sentando em sua cadeira, deixando um longo suspiro escapar de seus lábios assim que relaxou seu corpo sobre o encosto estofado da outra. Fechou seus olhos por alguns segundos, ouvindo o silêncio ensurdecedor de sua sala.

Precisava de um pouco de música para que não levasse as coisas muito a sério, visto que sua cabeça já não funcionava corretamente àquela altura. Abriu seus olhos novamente, corrigindo sua postura e ligando seu computador, na intenção de colocar uma música em seu Spotify. Esperou o mesmo iniciar corretamente e, abrindo o aplicativo de músicas, selecionou sua playlist composta por músicas clássicas.

Soltou uma risada sem graça por sua boca ao notar o quanto aquilo era clichê, mesmo não se importando tanto. Estava sozinha em sua sala, não precisava se preocupar com o olhar avaliativo de outras pessoas. Ela gostava de ser daquela forma, então não via problema algum em agir daquela maneira quando estava sozinha em seu escritório. Não devia nada a ninguém, então podia fazer o que quisesse consigo mesma.

Quando a doce melodia de Clair De Lune começou a ecoar pelo recinto, passou a tirar seus sapatos, para se manter relaxada ao som de Claude Debussy. Ao que se desprendeu dos apertos de seu salto alto, deixou o mesmo no canto de sua mesa, se levantando vagarosamente para que pudesse pegar uma taça na pequena adega ao lado de suas estantes de livros. Precisava de mais momentos de descontração como aquele, pois desde a ida de seu pai, havia aprendido a se divertir com sua própria companhia.

Era fato que Hani, após conhecer Syuzanna e Alika, nunca mais se sentiu sozinha como antes. Elas haviam se tornado sua própria família, confortando-a em suas noites mais solitárias. Mas às vezes, a mais velha apenas precisava de sua taça de vinho tinto e uma boa música clássica para se lembrar de sua real razão de estar fazendo tudo aquilo: seu pai. Seu verdadeiro herói e sua primeira inspiração. Não estaria ali se não fosse por ele.

De frente para sua pequena adega, selecionou um vinho italiano, seco. Presente de Beatrice. Precisava de algo um pouco menos sutil para que pudesse voltar seus pensamentos nos exames da dobradora de água, uma vez que queria tirar aquilo a limpo. Retirou a garrafa do pequeno alojamento e sentiu-se atenuada quando viu que a garrafa tinha uma quantia considerável de líquido dentro de si, pegando consigo uma pequena taça. Voltou a caminhar em direção à sua mesa, sentindo o calor de seus pés tocarem o chão amadeirado da sala, fazendo seu corpo arrepiar-se com a temperatura baixa do mesmo.

Sinfonia ElementalOnde histórias criam vida. Descubra agora