Capítulo 5

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Algumas semanas tinham se passado desde a chegada de June na cidade.

Contudo, por alguma razão, tinha um pressentimento... Estranho. Pelo menos, esse sentimento a consumia com frequência, principalmente nas últimas noites em que retornava do trabalho mais cedo, assim que acordava durante a madrugada como o de o costume, tendo a constante sensação de que alguém a observava a distância do lado de fora de sua casa, além da escuridão por entre as Florestas de Duskwood.

Sem falar na forte dor de cabeça que também sentia vez ou outra. E então, para se distrair, passou a desenhar tanto quanto já o fazia.

Até tinha se matriculado em um curso de desenho.

June sempre foi boa em aprender coisas novas e com isso, tinha certeza de que começar a ir em aulas de seu interesse poderia ajuda-la bastante ao espairecer sua mente, embora também tenha sido uma sugestão de sua terapeuta.

Mesmo viajando, ela procurava não faltar nenhuma sessão com sua psicóloga via on-line, a qual tinha consultas desde... Bom, desde que se lembrava.

Até havia pensado em procurar algum profissional em Duskwood para que também tivesse sessões presenciais, principalmente para lidar com a sensação de estar sendo perseguida ou observada. Contudo, June começou a pensar que talvez apenas fossem coisas da sua cabeça, e sua terapeuta reforçou essa ideia. Talvez poderia estar se sentindo deslocada por ter retornado a sua cidade natal, a qual havia vivenciado um trauma que lhe causou sequelas.

Ela dizia que lidar com Duskwood e os moradores locais, que em sua maioria não eram desagradáveis, poderia ser bom no final das contas.

As enxaquecas iam e vinham, e ao comentar sobre isso, a terapeuta sugeriu que essas dores poderiam estar diretamente ligadas as memórias que havia perdido, então deveria tomar cuidado e não exagerar ao mesmo tempo em que apreciava mais uma mudança em sua vida. E que viver ali, na verdade, poderia ser um recomeço.

June começou a encarar dessa forma.

Porém, ainda assim, aquele sentimento de que algumas pessoas a conheciam de alguma forma ia até ela, mesmo que tentasse ignorar.

Isso se reforçou após frequentar as aulas de desenho.

Amy Bell Lewis era uma talentosa artista que se sentava a duas carteiras de distância logo atrás de June.

E assim que a viu pela primeira vez, fora como o encontro que havia tido com Hannah no Rainbow Café.

Um dia ela estava lá, olhando para June como se fosse alguém uma assombração ou um tipo de monstro aterrorizante, e no seguinte, Amy repentinamente saiu da sala de aula após dizer que estava se sentindo mal e precisava ir para casa.

Em menos de uma semana, ela parou de ir às aulas.

Contudo, estranhamente, ninguém parecia sentir sua falta.

Mas esse pensamento perseguia June, dia e noite.

Até que um dia decidiu tocar rapidamente no assunto com Cleo, a melhor amiga de Hannah e que também frequentava as aulas de desenho. Porém, tudo o que lhe disse foi que não fazia ideia, principalmente por não ser próxima de Amy, assim como o restante da turma. Ao que parecia, ela era reclusa e não tinha o costume de conversar com seus colegas.

Quanto mais pensava nisso, as dores de cabeça também acompanhavam June.

Até que logo resolveu não insistir e esquecer o assunto.

Se ninguém estava preocupado, então isso parecia ser algo comum de acontecer.

Nos dias seguintes, decidiu focar - se em seu trabalho, aproveitando também cada dia de folga que Phil lhe dera para terminar de fazer uma pintura que havia começado na semana em que havia se mudado.

O desenho fora feito com carvão, dando um aspecto mais sombrio para o homem mascarado. Poderia ser aterrorizante em alguns aspectos, mas em outros, um tipo de mistério o cercava.

De alguma forma, sentia que essa parecia ser imagem que representava Duskwood muito bem.

Uma sombra pairava sobre a cidade, em meio a névoa e a neblina densa. E um céu cinzento dava sinais de que uma terrível tempestade estava por vir.

Ou talvez apenas fosse sua intuição falha.

Seus instintos se embaralhavam facilmente.

June respirou fundo por um momento.

No dia seguinte, voltou a trabalhar normalmente. E assim que havia chegado lá, vira Phil extremamente irritado, como nunca tinha o visto antes enquanto Hannah saia rapidamente do bar, tropeçando para fora assim que percebeu que June também chegava no local.

Ela disparou para fora, sem sequer cumprimenta-la.

Inicialmente, June tinha a impressão de que Hannah simplesmente não gostava dela.

Era o que parecia, pelo menos.

Mas as vezes a pegava a observando de relance, parecendo carregar uma expressão de medo ou culpa em seu rosto.

Decidiu ignorar isso também, principalmente quando Phil, após o encontro com Hannah, começou a olhar para June de uma forma terrível... E que talvez, ela jamais fosse esquecer.

Uma mistura de remorso, tristeza e raiva.

Como se já não bastasse sentir os olhares de indiferença de um ou outro.

"Qual o problema das pessoas dessa cidade?" Pensou irritada. "Por que simplesmente não dizem qual o problema delas comigo?"

Isso fez com que ela pensasse seriamente em ir embora, ainda mais quando o próprio Phil passou a se manter distante por algum tempo, ignorando-a completamente em alguns momentos.

Mas não durou tanto tempo.

Pelo menos, só até o dia em que Hannah fora declarada oficialmente como desaparecida.

Por dois dias, parecia ser se tratar apenas de rumores, mas muitos se alarmaram assim que não tiveram mais notícias dela.

Não era como Amy, que até então, ainda estava desaparecida e sequer perguntavam sobre ela.

A partir daí, Duskwood não fora mais a mesma. E por alguma razão, June acabou no meio dessa confusão.

A tela do seu celular acendeu por volta das 02:50 da manhã.

June havia acabado de chegar do trabalho.

A tela do celular acendeu mais uma vez, ainda no modo silencioso.

Havia uma mensagem de alguém que nunca havia conversado antes, mas que devia ter visto pelo menos uma ou duas vezes no Aurora Bar, junto a um grupo de amigos que pareciam estar sempre juntos, e que incluía a Hannah.

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Thomas: Olá?
Thomas: Você está aí?

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