Capítulo 8

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O grande dia enfim havia chegado para todos naquela casa, apesar da falta de animação evidente e tão incomum por parte de Zulema por finalmente poder obter um pouco de ação por ali, de longe também não diria estar se sentindo nervosa com o que sabia possivelmente estar por vir. Tudo aquilo se assemelhava mais a uma grande mistura de ansiedade, que a preocupação exagerada de como "sua equipe" disfuncional seguiria suas ordens, ainda mais pelas relações que tinham criado além do plano, mas não podia negar que uma frustração em específico se devia mais pelo que vinha acontecendo em sua vida pessoal nos últimos dias, do que qualquer outro sentimento que pudessem estar envolvidos. Apesar de sentir constantemente em seus ombros todo o peso dos ocorridos recentes, tinha total consciência de que precisava dar exemplo aos demais e se manter completamente focada no que era realmente importante, e estava determinada a não deixar que eventos externos tão banais a desconcentrassem justo agora.

Limpou a boca com o guardanapo após terminar de beber sua xícara de café, jogando em seguida o pedaço da folha de papel amassada dentro do prato assim que deu a última mordida em seu pão pita com queijo branco, algumas folhas de alface, tomates cortados e o molho que era uma receita secreta da família de Hanbal que o chefe lhe servira. Talvez nunca tivesse palavras suficientes para expressar o quanto sentia falta de alguns alimentos de sua terra natal, mas cada mordida era como se voltasse às suas origens e lembranças menos dolorosas.

A cozinha estava bem movimentada naquela manhã, todos ali, sem nenhuma exceção, sabiam que o que havia sido planejado teria os primeiros passos de seu estágio final sendo colocado em prática logo cedo. Diferente do que muitos ali poderiam pensar, Zulema trabalhava secretamente naquele plano há meses, até mesmo de forma secundária de dentro da prisão, mesmo que ainda sequer soubesse se realmente conseguiria fugir.

O sol nem mesmo havia nascido quando naquele mesmo dia Berlim saiu disfarçado de bancário sendo acompanhado por Mustafá, antes mesmo de muitos ali sequer já estarem acordados.

- Escutem bem... - Zulema se levantou da mesa de café da manhã onde os demais comiam enquanto conversavam de forma descontraída, chamando a atenção de todos que, pela primeira vez naquele dia, haviam ficado em completo silêncio. Ter mais gente na casa nos últimos dias havia tornado o lugar quase que inabitável para o seu gosto, além de Amid, que conhecia a árabe desde o dia que fora adotada, Berlim era o mais próximo de entender aquela sensação, já que também se irritava toda vez que Denver e Saray ousavam abrir a boca pra soltar alguma piadinha que sempre era seguida por uma risada do rapaz. - Quero vocês prontos em no máximo meia hora, já lhes aviso que atrasos não serão tolerados.

Pela primeira vez desde que chegou, Amid deixou com que um leve sorriso escapasse com a fala de Zulema, certamente não havia mudado em nada o seu gênio forte, e o silêncio se manteve, enquanto a árabe saía da cozinha sem esperar qualquer resposta dos demais apenas reforçou o quão parecida era com Karim, mesmo que não tivessem qualquer laço de sangue.

A árabe seguiu sozinha para o segundo andar em direção ao seu próprio quarto, onde fez questão de se trancar para que não a atrapalhassem naquele momento. O preparo era extremamente cuidadoso, e cada etapa foi moldada no lugar certo com precisão, lhe obrigando a checar cada detalhe repetidas vezes para ter certeza de que nada seria esquecido de última hora, se odiaria se algo parecido acontecesse.

No dia anterior Zulema os convocou para que tivessem uma última reunião que acabou demorando mais do que o previsto, seguindo até parte da noite, fazia questão de repassar cada passo repetidas vezes, por mínimo que fosse, com seus cúmplices. Uma única rachadura inesperada poderia fazer até mesmo o melhor dos planos se despedaçar em questão de segundos.

Por mais que a árabe quisesse, sabia que não podia extender aquela reunião por toda a madrugada também, as caras cansadas e as olheiras das pessoas sentadas ao seu redor deixavam isso nítido, então tratou de mandar que todos fossem para seus devidos quartos tentar ter uma boa noite de sono, já que precisavam estar bem descansados e alertas para que tudo corresse bem. No fundo Zulema se mantinha mais tranquila do que nunca, estava convencida de que realmente não tinha nada com que precisava se preocupar, afinal, o plano ao seu ver era bem simples.

Entre Grades e Sentimentos: Caminhos TraçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora