Entre Grades e Sentimentos: Caminhos Traçados

Capítulo 43

Infelizmente ainda não estou 100%, inclusive, essa semana foi bem difícil pelo fato de que eu não consigo parar quieta. Mas que culpa eu tenho? Não consegui deixar vocês sem atualização. 💜




O silêncio na cela parecia gritar. Macarena, sentada na beirada da cama estreita, encarava a pílula branca ainda na embalagem pousada em sua palma. A cápsula, tão pequena, parecia carregar todo o peso do mundo. Na outra mão, o copo de plástico com água deixava claro o que pretendia. Suas mãos tremiam, fazendo com que algumas gotículas do líquido escorressem pelos dedos. Ela engolia em seco, sentindo o nó apertado em sua garganta. Estava naquela mesma posição sentada em sua cama há quase 1 hora, e ainda assim não conseguia seguir para o próximo passo.

Era uma escolha silenciosa e sabia disso.

"É o certo a fazer", repetia em pensamento como se quisesse se convencer daquilo. Não havia espaço para uma vida nova ali. Entre grades, isolamento e as escolhas que a levaram até aquele ponto. Que tipo de futuro poderia oferecer? Mas mesmo com todas essas certezas, o peso daquela decisão a esmagava. Suas mãos suavam, os dedos tamborilavam em ansiedade contra o plástico. Era o certo. Certamente era.

Ainda assim, ela não conseguia. Mais minutos se passavam, e ela continuava ali, estática, como se o tempo tivesse congelado. Esperou tanto tempo pra aquele momento e agora que podia simplesmente continuar, não conseguia.

De repente, passos começaram a ecoar do corredor parecendo cada vez mais próximos. Aquilo foi o bastante para fazer o coração de Macarena disparar, o som dos tênis se arrastando traziam uma terrível sensação de desespero. Se alguém a visse assim, com a pílula, a água... Tudo poderia ruir. Sem pensar, em um impulso quase involuntário, abriu a embalagem e levou a pílula à boca. A cápsula tocou sua língua como uma brasa, fazendo com que a loira tomasse um grande gole d'água na tentativa de amenizar aquela sensação incômoda, enchendo as bochechas, tentando engolir. Por mais que Macarena tentasse, ainda não era capaz de engolir, deixando que o gosto amargo da pílula se dissolvendo em contato com a água aos poucos tomar seu paladar.

Os passos ficaram mais próximos antes de se revelarem como Soledad, entrando na cela com a mesma expressão carinhosa de sempre. A senhora que, com sua voz gentil e gestos cuidadosos, oferecia um raro vislumbre de humanidade naquele lugar sombrio.

- Oi, querida. O que você está fazendo? - Perguntou curiosa ao encontrar a loira sozinha na cela com ambas as mãos escondidas atrás das costas. Macarena não respondeu, apenas a encarando com o olhar desesperado e as bochechas infladas. Em questão de segundos, a expressão de Sole se transformou em choque ao perceber o que estava acontecendo. Antes que pudesse responder, a senhora correu até ela. Seus olhos cheios de pânico se fixaram no movimento estranho do pescoço de Macarena, que parecia prestes a engasgar. - O que você tem aí, Macarena? Cospe. Cospe isso agora! - ordenou, sua voz soando mais firme do que nunca.

Com mãos rápidas, Sole apertou o queixo da loira, inclinando sua cabeça para frente enquanto a água e a pílula foram expelidas sobre os lençóis de sua cama.

- Mierda. - Macarena começou a tossir, deixando que lágrimas escorressem dos seus olhos pela falta de ar e pelo desespero.

- O que deu em você? Por acaso perdeu o juízo?! - A senhora gritou com a voz trêmula de uma raiva nascida do medo. Sole pegou a pílula, agora úmida e deformada, e jogou-a no canto da cela com um movimento brusco. - Você não vai fazer isso! Não assim, não desse jeito.

Macarena simplesmente desabou, com o rosto escondido entre as mãos, o choro finalmente escapou por entre os dedos. A loira se sentia pequena, esmagada pela culpa, pela confusão, pela dor.

- E-eu não consigo mais... - Disse com dificuldade em meio as lágrimas.

Soledad se ajoelhou ao seu lado, tocando levemente seu ombro. Havia raiva em seus olhos, mas também uma ternura quase insuportável.