As palavras de Macarena ecoaram por sua cabeça durante o restante de toda a viagem de volta para a casa, que parecia estranhamente ainda mais longa agora que estava presa ao ensurdecedor silêncio de seus próprios pensamentos. Achar que seria uma boa mãe pra alguém depois de tudo o que permitiu que acontecesse com sua única filha era no mínimo equivocado, já que até os dias atuais se culpava por sentir que de alguma forma lhe virou as costas.
Aquilo só deixava ainda mais claro o quanto a loira não a conhecia de verdade como pensava.
Apertou a boneca de pano em sua mão, se fechasse os olhos com força poderia viajar para seu passado não tão cruel, quase sendo possível ainda sentir o peso do pequeno corpo de sua filha em seus braços. Zulema sentiu todo seu corpo estremecer, mesmo que aquela noite estivesse relativamente mais quente que o comum. Por mais que se esforçasse não conseguia, apenas não conseguia se lembrar do rostinho de sua própria filha e aquilo sem dúvida fazia parte da parcela considerável da culpa que a atormentava dia após dia, a mesma que não a deixava dormir.
Voltou a abrir os olhos na esperança de que realmente pudesse encontrar sua filha ali em seus braços, como se tudo o que haviam passado não fosse nada além de um terrível pesadelo. Mas como das outras vezes não havia nada ali, nada além de uma boneca esfarrapada de pano. Uma lágrima solitária ousou ameaçar trilhar por sua bochecha esquerda, mas Zulema fez questão de limpar e parar com aquele sentimentalismo antes que a loira notasse.
- Zulema? - Macarena a chamou, após Amid ter tentado chamar a sua atenção algumas vezes sem sucesso algum. - Zulema!
A árabe voltou seu olhar um tanto confuso para a mais nova, esperando pacientemente, apesar da expressão séria, que lhe explicasse o motivo dos gritos.
- Chegamos, senhora. - Amid a avisou novamente, dessa vez enquanto abria a porta para Zulema.
- Certo... - O homem lhe ofereceu a mão, mas diferente do que costumava fazer, a mulher recusou e saiu do veículo sem qualquer ajuda. - Pode ir descansar.
- Como quiser, senhora... - Se apressou para abrir a porta e oferecer a mão para Macarena sair do carro, já que Zulema preferiu recusar sua ajuda.
- Obrigada, Amid. - Agradeceu brevemente, notando que Zulema já não se encontrava mais com eles naquela garagem.
- Olha só quem apareceu... - Saray surgiu de repente atrás de Macarena no momento em que a loira passava pela sala em direção as escadas. Estava cansada e seu corpo praticamente implorava por um banho quente e sua cama.
- Porra, quer me matar de susto?
A mais alta colocou o indicador no queixo, olhando pra cima em um falso ar pensativo quanto as palavras ditas pela loira.
- De susto? Não... - Macarena rolou os olhos com a fala da mulher, apenas ignorando ao se virar para continuar o seu caminho. - O que aconteceu?
- Por que da pergunta?
- Zulema passou por aqui como um furacão, sequer ligou quando eu disse que o passeio romântico devia ter sido bom para chegarem a essa hora.
As bochechas de Macarena coraram fortemente e seus pés param no lugar, odiava o quão incoveniente Saray conseguia ser quando queria.
- Talvez ela só esteja cansada, foi uma tarde longa. - A cigana apenas concordou com a cabeça sem tirar o sorriso sugestivo do rosto. - E como pode ver eu não estou muito diferente, então já vou subindo...
Macarena se virou para continuar o seu caminho para o quarto, apenas queria encerrar de uma vez aquele assunto antes que a cigana encontrasse novos motivos para a envergonhar.
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Entre Grades e Sentimentos: Caminhos Traçados
FanfictionEm uma penitenciária feminina, duas detentas compartilham um segredo delicado: uma delas oculta sua verdadeira identidade, mantendo em sigilo sua interssexualidade. O encontro inesperado no banheiro entre as duas desencadeia uma trama intensa de con...