Capítulo 32

139 16 83
                                    

Zulema fechou a porta com cuidado ao entrar, já havia anoitecido e a última coisa que queria era acordar alguém e ter que lidar com insinuações. Acreditava já lhe bastar a enxaqueca que castigava sua cabeça sem qualquer piedade desde que amanheceu e lhe acompanhou durante todo o percurso com sua moto.

- Olha só quem lembrou que tem casa... - A voz já sonolenta de Saray soou enquanto andava pela sala de estar escura vestida com seu pijama.

- Ainda acordada a essa hora?

- Na verdade levantei pra ir ao banheiro e resolvi vir pegar um copo d'água. - Esfregou os olhos analisando melhor a árabe com a ajuda da luz da lua que entrava pelas janelas de vidro que iam do chão ao teto, as roupas sujas com a areia desértica a entregavam. - E você, onde estava?

- Fui dar uma volta. - Deu de ombros sem dar muita importância ao que havia dito.

- Dar uma volta? - Zulema tomou o copo de água da mão da cigana, bebendo o líquido que aos poucos ajudava sua cabeça parar de doer de maneira tão intensa sem sequer se importar com a careta feita pela mais alta. Seu corpo há algumas horas não negaria qualquer coisa que não fosse alcoólica. - Isso é novidade.

- E por que diz isso?

- Sei lá, desde que começou seja lá o que tem com a loira mal as vejo separadas. - Deixou que um sorriso sugestivo escapasse. - Ou melhor, nem as vejo já que vivem trancadas naquele quarto.

- Não fala besteira. - Devolveu o copo, dessa vez vazio, para a cigana que esbanjava um sorriso divertido.

Zulema caminhou em direção as escadas, seu corpo estava cansado e precisava de sua cama com uma urgência sem igual. Seus pés pararam bruscamente nos degraus no meio do caminho ao se lembrar de quem provavelmente estaria presente em sua cama, já que não tinha ninguém dormindo no sofá naquele momento. Nos últimos dias, dormir na mesma cama que Macarena abraçada ao seu corpo havia virado uma agradável rotina, às vezes sequer transavam, as duas pareciam apenas já estarem acostumadas uma com a outra, tornando quase que impossível para ambas conseguir descansar devidamente sem o calor tão aconchegante.

- Pretende ficar aí parada na escada como um obstáculo?

- Sabe me dizer onde Macarena está?

- Não a vejo desde ontem. - Deu de ombros sem dar muita importância. - E imagino que não tenha saído já que Mustafá passou o dia com Karim.

- Com Karim? - Franziu o cenho. Queria bater em sua própria testa por ter se esquecido completamente do sírio enquanto esteve fora.

- Ele não está nada feliz com o seu sumiço repentino.

Concordou com um movimento de cabeça antes de descer os poucos degraus que havia subido.

- Que ótimo...

- Vai tomar um banho, você tá fedendo a perfume barato e álcool. - Saray olhou para seu copo vazio, fazendo uma leve careta. - Vou pegar mais água pra mim.

Zulema sequer se importou com o aviso da cigana, começando a caminhar em direção a um dos quartos de hóspedes livres no andar de baixo. A árabe olhou em volta, o quarto iluminado pelos spots de luz que havia acendido ao entrar, tudo parecia sem vida e essa conclusão não tinha sido alcançada apenas pelo silêncio que envolvia o ambiente ou pela decoração neutra. Parecia faltar algo.

Fez questão de se livrar de seus coturnos, os abandonando pelo caminho enquanto dava passos lentos em direção a cama de casal para se sentar sobre o colchão. Se jogou nos lençóis sem sequer se importar com as roupas sujas na peça de cama limpa, estava se sentindo ainda mais confusa e desconfortável do que quando havia saído daquela maldita casa em busca de alguma paz interior forçada.

Entre Grades e Sentimentos: Caminhos TraçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora