Capítulo 18

286 24 0
                                    

Magnus já tinha colocado todos numa posição estratégica e iniciou o discurso ensaiado segurando forte a minha mão, ele estava muito tenso. Em poucos minutos a casa foi invadida por agentes federais por todos os lados sem dar chance de fuga para quem quer que fosse.

O combinado era que fôssemos levados junto com os suspeitos para não sermos identificados, mas os planos tinham sido alterados quando encontramos nossos filhos e eu não iria me separar deles.

Reagi assim que a agente tentou pegar meu bebê e ela ficou estática.

- Os meus filhos ficam comigo! - falei firme olhando pra Magnus que assentiu disfarçadamente.

Entre choro das crianças e protestos do diretor e funcionários pedi discretamente a um agente para chamar Ana para organizar as crianças enquanto atravessava a sala na direção do menino que me chamou a atenção. Ele permanecia sentado no chão apenas observando a movimentação com seus olhos tristes.

Estendi a mão para ele que meio desconfiado aceitou, logo Magnus se juntou a nós e fomos juntos até o carro da PF e nos acomodamos, enquanto as crianças eram conduzidas com cuidado por Ana até um microônibus e os outros foram em outro carro.

Passamos na sede da PF para fazer a identificação das crianças e outras providências que Magnus tinha que tomar, enquanto isso Levi e o bebê dormiam e eu aproveitei para conversar com o garoto.

- Qual o seu nome, querido?

- Eu não gosto do meu nome, queria me chamar Bernardo.

- Então esse será seu nome a partir de hoje, Bernardo.

- Eu posso mesmo? - seus olhos brilharam pela primeira vez.

- Pode sim, Bê! Quantos anos você tem?

- 13. - respondeu abaixando a cabeça e seu semblante ficou triste novamente.

- O que houve, Bê?

- Nada disso adianta, vão me mandar de novo pra um inferno pior do que onde eu estava.

- Você pode me contar o que acontecia naquele lugar?

O que ouvi daquela criança foi a coisa mais dura da minha vida. Ele foi entregue em outro orfanato assim que nasceu e aos 7 anos foi mandado para esse orfanato onde começaram os abusos. Tanto o diretor como outros homens abusavam dele e das outras crianças, a maioria das vezes eles eram levados para passar o final de semana na casa dos abusadores com a desculpa de ver se eles iriam se adaptar ou não e sempre eram devolvidos depois.

Eles sofriam abusos físicos, psicológicos e sexuais com a conivência e muitas vezes a participação do diretor. A dor em suas palavras era tão forte que eu chorei desesperadamente me abraçando a ele.

- Nunca mais ninguém vai tocar em você e nem te maltratar, se você quiser a partir de hoje nós seremos a sua família. - falei olhando em seus olhos que se iluminaram.

- Eu quero. - ele respondeu baixinho soluçando.

Ficamos abraçados até Magnus entrar na sala e sorrir nos olhando.

- Teremos 3 então? - ele perguntou já nos abraçando.

Eu só assenti com a cabeça lhe dando um sorriso de gratidão, ele me beijou e logo ele disse que teríamos que ir pro hospital, pois os meninos teriam que passar por uma perícia e ele preferia que Matheus fizesse isso.

Antes de sairmos Bernardo segurou minha mão e falou em meu ouvido que tinha um segredo pra me contar e eu fui pra uma sala ao lado com ele.

- Sabe talvez você desista de mim, mas eu preciso te contar uma coisa. Eu tenho uma doença que me faz sangrar pelo bumbum e por isso os abusos pararam ano passado. O diretor disse que eu sou nojento e defeituoso e por isso ele me isolou no porão. E só a pouco tempo ele deixou o bebê lá também não sei porquê.

O amor que me resgatouOnde histórias criam vida. Descubra agora