Prologue

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Ela sempre está ali, no mesmo lugar, e sempre com um livro de frente para seu rosto. Quase de meia em meia hora, Annelise observa ela se levantar e ir buscar mais café na máquina.

Ela também observa seus olhos azuis vibrantes, e seus sorrisos tímidos quando Lise finge que não está olhando. Há um tempo que ela tem vontade de perguntar o seu nome, mas quando pensa em fazer isso, o nervosismo bate e ela acaba não tendo palavras.

Elas se conhecem, ou o melhor, se vêem, há quase um ano. Annelise sabia que ela era nova naquela cidade pequena, e desde que ela chegou, reparou no quanto ela era bonita e parecia ser simpática.

Nunca teve coragem de falar com ela, nunca ouviu sua voz. Nunca teve oportunidade de vê-la mandando áudio para alguém, já que sempre quando pega o celular, começa a digitar.

Quando Annelise se levanta para comprar mais rolinhos de canela e reabastecer seu café, sente seu olhar sobre ela. Quando se vira, ela está olhando para seu livro.

Isso acontece desde que a mulher começou a frequentar aquela biblioteca.

- Talvez eu aumente o preço dos rolinhos de canela - Diz o senhor Broke.

- O senhor não teria coragem de fazer isso comigo - Annelise fala sorrindo - Sou a melhor cliente que o senhor tem.

- Quem come todos os rolinhos de canela que tem aqui - Compela o senhor Broke.

- Tenho que degustar do seu trabalho, Senhor Broke.

O senhor acaba rindo.

- Quando eu morrer, essa biblioteca vai ser sua - Alega, enquanto observa Annelise pegar mais um rolinho.

- Para de falar isso, Senhor Broke, o senhor não vai morrer - Reclama - Se me der licença... - Faz menção de virar, mas acaba voltando - A propósito, o senhor sabe o nome daquela moça? - Apontou com os olhos.

- Ah, a Billie? - Pergunta enquanto limpa a bancada.

- Billie - Annelise murmura para si mesma - Vejo ela aqui todos os dias há um ano e não sabia o nome dela.

- Ah, ela é uma moça bem simpática. Gosta dos rolinhos de canela mais do que você - Annelise lhe olhou feio.

- Eu duvido disso - Disse.

Quando pensou em dizer mais alguma coisa, sentiu uma presença ao seu lado. Quando olhou, viu a moça dos olhos azuis observando tanto Annelise quanto o Senhor Broke.

A menina ficou tão nervosa que saiu daquele lugar, indo até onde estava. Se praguejou por aquilo assim que sentou, porque poderia ter ouvido a voz da mulher, que agora comprava um rolinho de canela.

Annelise estreitou os olhos, ficou com ciúmes. Ninguém gosta mais daqueles rolinhos do que eu, Foi o que pensou. Mas rolou os olhos com seus próprios pensamentos, estava sendo infantil.

Com a música clássica que ficava no fundo, viu a mulher abocanhar um pedaço do rolinho, enquanto voltava a seu assento. Logo, seu livro tampava seu rosto novamente.

Ela olhou para o Senhor Broke, que a olhava com um sorrisinho no rosto. Ela franziu o fenho e ele piscou um olho para ela, apontando para a moça logo depois.

Annelise piscou algumas vezes, tentando processar aquela mensagem, mas a única coisa que fez foi voltar a ler o seu livro.

Seus dias se resumiam numa única rotina. Ela trabalhava numa cafeteria pela manhã (que não tinham um café tão bom quanto a biblioteca do Senhor Broke), e passava a tarde inteira na biblioteca, lendo ou escrevendo em seu laptop. Em alguns dias, tinha que sair mais cedo para ir pra faculdade, que ainda estava se acostumando.

Havia dois anos desde que Annelise tinha terminado a escola, cursava jornalismo na universidade de Brantford, em Ontario. Quando chegava, ligava para sua irmã gêmea, Sam, por Skype, que ainda morava com seus pais em Toronto.

Conheceu o Senhor Broke logo quando chegou em Brantford, quando resolveu entrar em sua biblioteca quase vazia e calma. Olhou os livros, um por um, e ainda bebeu do café da máquina disponível.

- Não é querendo dizer nada, mas esses rolinhos de canela são uma delícia - Foi o que o Senhor Broke havia dito.

E desde então, é como se ele fizesse parte de sua família. Tinha ele e seu amigo, Henry, por quem compatilhava alguns pensamentos um tanto quanto... emocionados.

- Você deveria ir falar com ela - Era o que ele sempre dizia.

Mas Annelise sabia de seus limites, e ela sabia também que quando a mulher olhasse em seus olhos, ela perderia suas falas.

Seus olhos são como as estrelas do céu no verão de Brantford. São como o oceano azul do Brasil, causando vontade de mergulhar em quem ver.

Ty

Everywhere, Everything - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora