Everywhere, Everything - Billie Eilish

Your side

Na madrugada daquela mesma noite, acordou por um curto susto. Às vezes tinha aquilo. Não precisava ter um pesadelo para que aquilo acontecesse. Quando seu sonho acabava (o que ela não queria que tivesse acontecido, já que era com Billie), ao invés dela continuar sonhando com outra coisa automaticamente, levava um pequeno susto e acordava, depois voltava a dormir de novo.

Mas não foi o caso daquela vez, ainda estava virada para lado contrário de Billie. Imaginou que a mesma estivesse dormindo, afinal, já se passavam das duas da manhã, mas ela ouviu fungadas baixinhas. Seu coração pesou.

Ela se virou, ficou de frente pra Billie. A sala estava com pouca iluminação, Annelise não conseguia ver muita coisa. Por isso, passou seus dedos levemente pelo rosto de Billie. Estava molhado.

- Billie? - Se atentou - O que foi?

- Nada - Disse em um fio de voz - Volte a dormir, desculpe ter te acordado.

- Por que está chorando? - A ignorou.

- Não estou, às vezes tenho alergia nos meus olhos e aí não consigo dormir, ele fica lacrimejando - Annelise sabia que era mentira. Sua voz embargada entregava.

Annelise se esticou até alcançar a bancada que ficava ao lado do sofá de Billie, tateou suas mãos por ali até encontrar o abajur. Ela ligou. Voltou para onde estava, Billie lhe encarava. Agora seu rosto estava limpo, porém, vermelho.

Annelise não sabia o que fazer, não sabia como consolá-la. Em alguns momentos não sabia como reagir ao ver alguém chorando. Mas ela sabia que aquilo era culpa dela: Se ela não tivesse perguntado sobre aquilo, Billie não estaria daquele jeito.

- Me desculpe - Disse Annelise - Não queria deixar você mal, Bill.

- Ann, você não me deixa mal. Nunca - A acalmou, pegando em suas mãos - Não ligue pra isto - Apontou para seu rosto molhado.

- Se eu não tivesse perguntado, você não estaria assim. Eu não queria causar isso, você sabe, né? Me perdoe...

- Shi... Pare de falar isso - A puxou para se deitar ao seu lado, se agarrando a ela - Apenas fique aqui ao meu lado. Volte a dormir, Ann.

- Não vou conseguir, quero ver você bem - Encarou seus olhos.

- Estou bem, querida. Foram apenas algumas lembran-

Billie foi interrompida por uma elevação involuntária de sua cabeça. Annelise prestou atenção. Os movimentos se repitiram mais algumas vezes, aquilo fez Billie levantar e segurar sua cabeça com firmeza.

- Billie... - Annelise estava assustada. Não sabia como agir.

A moça não lhe respondeu nada, se levantou e andou para seu quarto, trancando a porta e deixando Annelise plantada no sofá.

A garota ainda estava assustada e confusa, não entendia. Ela se sentou no sofá e buscou por seu celular, o pegou e entrou no Google para confirmar o que ela pensava que era.

E ela não estava errada. Ela só não sabia que Billie tinha. Ela nunca havia comentado nada. O pior, ela não sabia como fazer os tics se acalmarem.

Annelise suspirou e se levantou do sofá, caminhando levemente até o quarto de Billie. Bateu na porta algumas vezes, sem movimentos bruscos. Ela não ouviu nada.

- Billie? - A chamou com a voz mais calma que tinha - Você pode me deixar entrar?

Ouviu sons de grilos por um tempo, por isso, repetiu o processo.

- Amor, posso ficar do seu lado? - Apoiou sua cabeça na porta.

- Não está trancada - Ouviu a voz abafada de Billie.

Annelise levou aquilo como uma confirmação. Entrou em seu quarto. Caminhou até Billie, que estava de frente para sua janela, enquanto ainda elevava sua cabeça (dessa vez levemente) involuntariamente.

- Eu tenho Tourette - Murmurou. Segurou sua cabeça novamente, parecia querer parar com aquilo.

Annelise não falou nada, apenas ficou ao seu lado. Encostou sua cabeça em seu ombro e lhe abraçou de lado, deixando um beijo em seu braço. Ela queria demonstrar que ela ali com ela, independente de tudo.

- Tem algo que eu possa fazer pra te ajudar? - Perguntou baixo, com os olhos fechados enquanto sentia o cheiro de Billie.

- Não. Eles só param quando eu estou calma. Já está passando - Disse e soltou um suspirou.

- Está ficando mais calma?

- Você me deixa calma - Billie a abraçou de volta - Me desculpe sair daquele jeito - Murmurou - Me sinto vulnerável quando isso acontece, e você não sabia disso. Não queria assustar você.

- Pare com isso. Eu só fiquei assustada porque, de fato, não sabia que você tinha. Agora eu sei, e quando acontecer isso, permaneça do meu lado e pode me abraçar o mais forte que conseguir, ok?

Billie não falou nada, apenas a abraçou mais forte, pondo um beijo em sua cabeça.

- Tem alguns óleos essenciais na minha gaveta do lado da cama, quer pegar pra mim? - Annelise assentiu.

Se afastou e seguiu a rota, pegou um dos óleos que tinham ali e voltou para o lado de Billie. Entregou a ela, que abriu o frasco e levou ele até o nariz, aspirando o cheiro, enquanto olhava para a janela.

Annelise bocejou e coçou os olhos, estava com sono. Aquele ato atraiu a atenção de Billie.

- Pode ir dormir se quiser, Ann. Não estou tendo mais.

- Quero ir com você.

- Então vamos.

Billie fechou o frasco e o colocou numa mesa qualquer que ficava perto da janela. Pegou na mão de Annelise e andou com ela até a sala novamente.

Se deitaram no sofá, ficaram agarradas e sentiram o calor do corpo de ambas.

- Me desculpe por ter te acordado - Disse Billie.

- Não me acordou, fique tranquila. Agora descanse - Plantou um beijo em sua testa.

- Pode me fazer carinho no cabelo? - Escondeu seu rosto no pescoço de Annelise.

- Posso, posso sim.

- Eu te amo, Ann. Obrigada, tá?

- Pelo o que?

- Por ser você - Deu um beijo em seu pescoço - E por ser minha. Eu amo você.

- Eu amo você mais ainda. Agora durma. Amanhã vou estar aqui do seu lado.

- Só amanhã, não. Quero acordar com você do meu lado pra sempre.