Bivitellines

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- Quem diabos é Ty, Annelise? - A garota revirou os olhos, grunhindo.

- Para... Eu não podia colocar que era eu, Sammy. Ela ia me achar louca, não acha?

- Talvez - Disse a outra garota do outro lado da linha - Mas ainda acho que você deveria se arriscar.

- Melhor não, vou deixar como está. Se ela achar o bilhete no livro, tudo bem. Se não, deixa lá - Suspirou - Estou ansiosa pra te ver logo.

- Também estou, Lise. Não vejo a hora.

- Não tem como adiantar o vôo? - Murmurou.

- Talvez, mas aí eu vou ter que pagar um pouco mais - Reclamou - Enfim, vou desligar. Nos vemos semana que vem?

- Com certeza - Desligou.

Annelise não sabia muito bem o que sentia pela mulher dos olhos azuis. Ela sabia que ela era muito bonita, parecia ser simpática e carismática. Annelise tinha curiosidade de saber sobre ela, de conversar com ela, de tocar em sua pele que parecia ser tão macia.

Revirou os olhos ao perceber que estava pensando nela novamente. Aquilo já havia virado um hábito. Talvez se não fosse tão introvertida, poderia perguntar o seu nome e começar uma amizade. Mas aquilo estava totalmente longe de sua realidade.

Era mais uma (das muitas) características que diferenciavam Annelise e Samantha. Annelise era tímida, sempre foi. Considerava sua irmã gêmea a sua melhor amiga, confiava apenas nela e ninguém mais (antes de conhecer Henry). Samantha era extrovertida, sempre fez amigos livremente, e fazia com que Annelise fosse puxada para roda de amizade.

Annelise tinha cabelos enrolados até o ombro, sempre continha um laço de fita ou uma faixa. Sua pele era negra em um tom claro, reluzente e brilhante. Ela era baixa, tinha dentes pequenos e um sorriso adorável.

Samantha tinha cabelos médios e escuros, quase completamente lisos e sempre livres de qualquer tipo de acessório. Sua pele era branca, quase bronzeada. Diferente de Annelise, que tinha olhos amendoados e castanhos brilhantes, Sam tinha olhos hazel em formato de gato.

Eram gêmeas bivitelinas, já se cansaram de sempre dizer que eram gêmeas. Ninguém acreditava, ainda mais quando a cor das duas era diferente.

Lise tinha tanto amor por Sam que chegava a doer, sempre fizeram de tudo juntas. Apesar de não terem compartilhado a mesma placenta, eram como almas gêmeas.

O tempo que ficou longe de sua irmã, fez com que seu mundo perdesse o foco por um tempo. Ela se sentia deslocada, não sabia o que fazer. Desejava que Sam estudasse moda em Brantford, mas só naquele momento ela tinha decidido ser transferida. Annelise estava feliz.

Quando eram crianças, dividiam a mesma cama, mesmo tendo duas disponíveis no quarto pequeno e aconchegante. Dormiam juntas, sentindo a respiração uma da outra. Annelise se sentia protegida.

Quando chegou em Brantford, ficou com medo de dormir sozinha. Ligou pra Sam por Skype, e, até que pegasse no sono, ficou falando sobre coisas banais com ela.

- Quando sua irmã vem mesmo? - Perguntou Henry.

- Semana que vem - Respondeu - Não vejo a hora - Murmurou.

- Ainda é difícil acreditar que são irmãs, são tão diferentes - Annelise rolou os olhos - Fui idiota?

- Talvez - Disse - É tão simples: Nosso pai é branco e nossa mãe é negra. Nós ficamos no mesmo útero porém em placentas diferentes, tcharan! - Sorriu forçadamente.

- Isso é bizarro - Ele disse - Como duas pessoas podem compartilhar a mesma barriga? Imagina quem tem quíntuplos? Que porra.

- A arte da vida é essa - Respondeu - Quando eu tiver filhos tem grande probabilidades de vir gêmeos.

- Um vai ter olhos castanhos como os seus e o outro vai ter olhos azuis iguais ao da-

- Cala boca, Henry - Interrompeu sua fala - Deixa ela lá, ok? Nem era pra eu ter falado dela com você.

- Ah, é? E por que não?

- Porque nesse momento umas dez pessoas estão me olhando com cara de nojo.

Eles estavam no metrô.

Henry olhou em volta, sorrindo amarelo. O mesmo coçou a nuca e ficou calado. Annelise rolou os olhos e se preparou para sair do metrô junto a seu amigo.

Tinha acabado o seu período no trabalho. Tudo o que queria naquele momento era beber um café delicioso da biblioteca do Senhor Broke, e comer uns dez rolinhos de canela.

- Vou indo, Lise. Boa sorte com a sua amada.

- Para de ser besta - Abraçou o amigo - Vai pra aula hoje?

- Claro que sim.

Henry cursava história na mesma faculdade que Annelise.

- Tudo bem, às seis, ok?

- Tudo bem.

Os dois se despediram. Quando Henry pecorreu seu caminho, Annelise suspirou fundo para mais uma tarde com a dona dos olhos azuis penetrantes.

Estava criando coragem para lhe dizer um: Oi. Mesmo sabendo que seria tudo um fracasso.

Everywhere, Everything - Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora