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O diabo entrou em um bar em busca de uma gata demônia. Quase parecia o início de uma piada ruim, mas era, de fato, o que estava acontecendo. O terno branco impecável do rei quase brilhava em meio à poeira e à decadência. Ele mal tinha colocado um pé dentro do local, e as conversas já baixavam até morrer. Sendo um dos dias em que era bem conhecida a presença de Ylwa no local, o bar estava mais cheio que o de costume. Os regulares se misturavam com outras almas contratadas pela gata, assim como alguns novos pecadores que estavam lá em busca de termos vantajosos após outro extermínio sem mortes sob a supervisão dessa nova força do Inferno.

O rei andou com passos firmes até o balcão, sua bengala de maçã estalando ao encontrar o chão. Diante de um pecador com características de pássaros, ele olhou ao redor, torcendo o nariz. Se Ylwa visse a expressão, teria achado graça. O rei do Inferno era um esnobe, nada mais esperado de alguém que viveu em um palácio por milhares de anos.

— Ei, camarada! Ylwa está? — perguntou o diabo com um sorriso cheio de dentes.

Carlo não sabia o que fazer. Aquele diante dele era o Rei do Inferno. O pecador sabia disso, pois o tinha visto algumas décadas atrás nas filmagens de um evento com a Rainha. Por que ele estava lá? E procurando por Ylwa? A descrença crescia. Era para ele que a gata estava trabalhando? Tudo bem que ela disse estar fazendo algo para a realeza, mas ele achou que fosse um de seus contatos entre os Goetia, não o Grande Chefe do Inferno!

— Lilia, acorde a gata. — disse o pássaro para a filha, que correu para os fundos onde a demônia estava cochilando. — Posso servir-lhe algo, Majestade? — perguntou baixinho, não querendo causar uma cena.

— Ha, não! Obrigado! — Lúcifer olhou para a poeira e a barata passando pelo chão, com um sorriso tenso.

A conversa estava começando a crescer novamente, já que essa estranha figura ainda não tinha começado nada, quando Ylwa passou pela porta, bocejando e mostrando seus próprios dentes afiados.

— O que está acontecendo... — Ela viu o rei, piscou lentamente e sorriu surpresa. — Lúcifer! Não esperava vê-lo hoje!

Alguém engasgou atrás deles, mas ambos ignoraram o choque que percorreu os pecadores, a maioria deles não tendo reconhecido o recluso rei. Ylwa saltou sobre o balcão, aproximando-se de seu chefe:

— Eu sei, eu sei, hoje é um dos seus dias de folga, mas esperava receber um tour pela região! Quero ver as mudanças que você fez, afinal, estamos bem ao lado do meu próprio quintal. — respondeu o diabo.

— Claro, sem problemas! Carlo, se precisar de mim, é só dar um puxão! — gritou a gata sobre o ombro, enquanto guiava o rei para fora, deixando várias almas incrédulas em seu rastro.

Os dois caminharam por um tempo, a gata guiando Lúcifer pelas ruas em que houveram mais mudanças. Prédios em melhor forma, algumas lojas novas, mas fora alguns comentários do rei sobre a rota escolhida, ambos permaneceram em silencio, até alcançarem um tipo de parque. Era na verdade só o espaço equivalente à um quarteirão, vazio de construções, e com um buraco no meio, causado por uma briga alguns meses atrás que acabou em uma explosão. 

 — Então, você queria falar comigo ou só sair de casa um pouco? — questionou a gata. 

 — Hum, um pouco dos dois? — Lúcifer disse, brincando com sua bengala e olhando ao redor. — Esse lugar precisa de um pouco de paisagismo. 

 — Estou considerando fazer um parque. Algumas plantas, uns bancos. Encher aquele buraco com água, criar um lago, sabe? — Ela parou por um momento, imaginando como seria, e acrescentou. — Tem um bando de patos carnívoros em Canibal Town, mas são muitos e estão causando alguns problemas. Acho que alguns deles gostariam de uma mudança de ambiente e Rosie certamente não vai se importar. — Ela sabia que não se importaria, tendo cruzado o caminho da Overlord uma ou duas vezes e a achando muito simpática.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora