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Lúcifer manteve sua expressão o mais controlada possível quando dois dos anjos de seu irmão entraram com sua ex-esposa. Se esse encontro ocorresse há alguns anos, ou mesmo antes de descobrir tudo o que Lilith fez, talvez ele não conseguisse evitar mostrar suas emoções, mas nesse momento ele ainda estava com raiva o suficiente para manter a mágoa enterrada.

Charlie também estava se saindo bem. Ele disse a ela que não precisava estar lá, mas sua filha insistiu. Ela queria escutar o que a mãe tinha a dizer, queria presenciar esse Julgamento, como filha e princesa. Ele estava tão orgulhoso dela, não havia palavras o suficiente para transmitir isso.

Além dos dois, os únicos oficialmente permitidos foram Vaggie, como parceira e apoio de Charlie, os anjos que trouxeram Lilith e testemunhariam os procedimentos antes de levar uma cópia da transcrição para o Céu e Ylwa, como secretária de Lúcifer e a responsável por transcrever os procedimentos.

Não-oficialmente, tanto Lúcifer quanto Ylwa podiam sentir a presença de um certo demônio cervo escondido nas sombras do salão. Eles poderiam expulsá-lo, mas não viram o porquê quando o resultado de tudo isso seria público e Charlie com certeza mencionaria algo para seu gerente. Menos problemático deixá-lo lá do que lidar com a birra mais tarde.

Quando os anjos soltaram Lilith e se posicionaram ao lado das portas, a antiga rainha olhou para os presentes antes de focar sua atenção na filha:

— Charlie, meu doce, você cresceu — disse a loira com um sorriso, dando um passo à frente em direção à princesa, apenas para ser parada por duas sombras cujas formas eram idênticas às da pecadora parada ao lado de Lúcifer, fazendo com que seu rosto contraísse em aborrecimento. — O que é isso?! Abra caminho!

— Lilith, ex-Rainha do Inferno, encarnação do Orgulho, você está aqui para responder ao crime de conspiração contra o Reino — disse Lúcifer, voz fria.

— O que? Que absurdo é esse, Lúcifer?

— A forma de adereço apropriada é Vossa Majestade — disse Ylwa, rosto em branco, mas por dentro completamente satisfeita por poder derrubar a mulher arrogante, nunca tendo gostado de como ela tratou Lúcifer.

— Eu sou a Rainha do Inferno, não tenho necessidade de tratar meu marido com tal formalidade, pecadora — cuspiu Lilith, não gostando de ser falada assim.

— Você não é nada, Lilith. Nem rainha e nem minha esposa. Os papéis de divórcio assinados por ambos provam isso — disse Lúcifer.

A primeira mulher encara o anjo caído, incrédula. Nunca, em dez mil anos, ele falou com ela tão friamente. Lentamente, um sentimento horrível começa a surgir em seu peito, a compreensão de que as coisas não vão correr como esperava, mas ela joga isso de lado, assegurando a si mesma de que é apenas uma fachada. Lúcifer nunca conseguiu lhe negar nada, afinal.

— Lúcifer, amado, você sabe que eu não estava sendo séria com isso. Eu só precisava dos papéis para convencer Sera a me deixar entrar no Céu, eu nunca me separaria de você — ela diz de forma calma, como se declarando fatos.

— E ainda assim, os papéis existem e como tal você não mais ocupa a posição concedida por seu status como minha esposa — disse Lúcifer, antes de continuar. — E por que você precisaria entrar no Céu?

— Eu... — ela hesita, olhos se voltando para Charlie que observava tudo com os lábios franzidos e olhos tristes. — Talvez essa seja uma conversa melhor em particular.

— Essa não é uma conversa, mãe. É um julgamento, e como princesa do Inferno eu devo estar presente — Charlie falou pela primeira vez desde o início do processo.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora