Pesadelo

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Lúcifer estava de joelhos. Seus braços e pernas queimavam, as correntes douradas estavam apertadas demais. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, o coração tremendo de medo. O anjo não conseguia entender. Em um momento, ele estava dançando com Lilith, comemorando a nova liberdade da humanidade e, no próximo, ele estava no chão, com os braços torcidos atrás de suas costas, e a voz assustada da mulher soou pela campina.

Ele olha sobre o ombro, apenas para ver seu irmão, com um rosto frio de um jeito que nunca havia sido próximo de Lúcifer. Ele tenta falar, perguntar o que estava acontecendo, mas Miguel o agarrou, acorrentou os braços e pernas, antes de jogá-lo por um portal, diretamente aos pés do Pai.

Por todos os lados se viam anjos, dos mais baixos aos mais altos. Miguel ficou parado atrás dele, mas de onde estava, Lúcifer podia ver Gabriel e Uriel, cada um de um lado do Pai.

— Você perdeu o juízo, Lúcifer? O que achou que conseguiria me desobedecendo tão completamente? — perguntou Deus, com olhos estreitos e voz fria.

— Pai? — O anjo chamou, assustado. — Eu... Isso é sobre o Fruto? Eu só queria que eles fossem livres, não fiz por mal!

— Não fez por mal! Você não tem ideia do que fez! — Deus estava furioso, seu poder enchendo o local, um peso metafísico sobre todos os presentes.

— Por favor! Pai, por favor, me escute! Eu não queria causar problemas, só não entendo! Por que não podem ser livres? Nós somos!

— Sim, vocês são, e veja o que acontece! Você desobedeceu minhas ordens, entregou o Fruto Proibido à humanidade, abrindo caminho para o mal entrar em seus corações. Por isso, eu não tenho escolha a não ser puni-lo!

Lúcifer continuava a chorar, seus olhos buscavam seus irmãos, mas antes de conseguir fazer contato visual com eles, Deus continuou:

— Desse momento em diante você está banido e não é mais considerado um anjo. — A descrença e desconforto cresciam em meio à multidão. — Você está agora preso, longe de tudo o que antes conheceu. Você irá encarar as consequências de suas ações.

E com um último olhar frio ao que fora seu filho favorito, Deus ordena ao seu mais velho:

— Jogue-os para fora do Céu.

Lúcifer gritou, apelos deixando seus lábios, implorando desesperadamente para o Pai olhar para ele, não fazer isso, mas Deus virou as costas para a Estrela da Manhã. Miguel agarra as correntes, levantando seu irmão e levando-o até a beirada do Céu, ignorando os pedidos que agora se voltavam para ele. Com apenas a mais breve hesitação, o Arcanjo da Justiça lança seu irmão para fora de sua casa. Ele mal notou quando seus soldados fizeram o mesmo com a primeira mulher.

O filho da Aurora cai. Suas asas se abrem, mas um vento divino o empurra para baixo, tornando impossível para o loiro controlar o voo, se endireitar. Ainda chorando, ele vê Lilith cair ao seu lado e a agarra, enrolando suas seis asas ao redor da primeira mulher para protegê-la da queda. O vento os empurra ainda mais e, do nada, eles deixam completamente os planos de existência antes conhecidos e entram em um lugar diferente.

As correntes começam a queimar, sua cor dourada escurecendo até um vermelho vibrante e Lúcifer grita de dor. O cheiro da carne queimada preenche o espaço dentro das asas. Seu poder se torce, muda, causando ainda mais angústia. Ele sente que está sendo refeito, um fogo queimando de dentro para fora, cruelmente desfazendo o que ele era antes e criando algo novo. Algo distorcido. Eles batem no chão em uma explosão de fogo escuro e sangue dourado.

O diabo se joga para cima, respiração rápida e irregular. Seus olhos saltam para todos os lados, tentando se orientar, sua mente presa nas antigas lembranças de tristeza e dor. Ao seu lado, uma forma se move, pelo suave e corpo fresco.

— Lúcifer. — chamou Ylwa suavemente, abraçando o loiro lentamente, dando tempo para ele se afastar se assim desejar.

Ele respira fundo o cheiro de alecrim, lentamente se acalmando no abraço. Depois de vários minutos, ele se afasta com um sorriso constrangido.

— Desculpe, você pode voltar a dormir se quiser.

— Não, eu já dormi o suficiente. Quer falar sobre isso?

Lúcifer fez uma careta, cerrando as mãos, a dor fantasma ainda o incomodando.

— É o sonho usual. — Desde que se encontrou com os irmãos, as velhas memórias têm assombrado suas noites de sono. Ele evitou dormir o máximo que pôde, mas mesmo ele precisa descansar depois de três semanas acordado.

Ylwa acenou, estando ciente desses sonhos. Depois de tanto tempo se conhecendo, ela já ouviu falar sobre os eventos que perturbam o amigo. Com um último aperto ao redor do loiro, ela afastou as cobertas e se levantou.

— Vamos lá, eu vou fazer bolo de maçã e nozes. — ela disse, chamando o rei.

Os dois descem o elevador até a cozinha do hotel, onde a pecadora reúne ingredientes para o bolo. Enquanto ela se move pelo espaço, misturando, cortando e assando, o diabo se senta e observa. Ele permite que os últimos resquícios do pesadelo desapareçam enquanto aproveita a quietude da manhã. O rádio no canto estala e uma canção instrumental suave começa a tocar, as sombras da cozinha se esticando até Alastor aparecer, o demônio sempre parecendo estar ciente de quando sua cozinha está ocupada.

— Vejo que está havendo uma reunião! Nosso reizinho parece um tanto perturbado, não conseguiu alcançar os armários? — provocou o cervo, uma provocação bastante mansa.

— Maldito. — murmurou Lúcifer, não chateado, tendo se acostumado com as interações estranhas. — Você não dorme, não?

— Não!

Alastor ocupa o outro banco, cabeça balançando ao som da música, mas não diz mais nada. Quando o bolo fica pronto, Ylwa serve ainda quente. Um bule de café é convocado pelo cervo, que elegantemente serve três xícaras. A pecadora mais jovem se acomoda e, com um movimento de suas garras, abre uma pequena ferida no polegar direito, permitindo que algumas gotas caiam no meio do líquido escuro, antes de empurrar a xícara com sangue para o canibal residente. A gata e Lúcifer bebem das outras duas xícaras, deixando Alastor para seu café batizado com sangue.

Os três ficam lá, em um silêncio confortável, até o dia raiar em sua totalidade. Quando os outros residentes começam a se levantar e buscar o sustento diário, os três seres se separam, cada um indo cuidar de seus próprios afazeres, nenhuma palavra necessária entre eles.

 Quando os outros residentes começam a se levantar e buscar o sustento diário, os três seres se separam, cada um indo cuidar de seus próprios afazeres, nenhuma palavra necessária entre eles

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Esse é um pequeno interlúdio, só para dar a perspectiva de Lúcifer da Queda. Próximos dois saem amanhã. Serão os últimos, a não ser que eu tenha uma súbita inspiração.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora