A pecadora era uma companhia boa o suficiente, pensou Lúcifer ao longo dos próximos dias. Não era faladeira, mas também não completamente calada. Os silêncios eram confortáveis e, quando o rei ficava inquieto, incapaz de se concentrar, ela não zombava ou se irritava; apenas continuava a separar livretos enquanto o encorajava a parar, comer ou andar, se sentisse a necessidade. Ela perguntava sobre seus interesses e realmente ouvia quando ele entrava em um discurso sobre patos ou outros temas.
Ela era organizada, assim como havia dito, e seus servos de sombras ajudavam bastante com a carga de trabalho. Começou pelos livros mais antigos, rastreando quando, exatamente, as almas começaram a ser, bem, redirecionadas, por falta de um termo mais adequado. Ao fim do dia, ela se despedia, desejava uma boa noite de sono e partia para retornar na manhã seguinte.
No geral, o trabalho estava correndo bem e, ao fim da primeira semana, antes de uma pausa de dois dias, Lúcifer entregou um maço de dinheiro à gata, o pagamento justo que ela havia pedido, apesar de, pela reação, ela não estar esperando tanto. A reação incrédula diante do dinheiro foi tão divertida que Lúcifer realmente, genuinamente, riu.
As próximas semanas correram tranquilamente, em uma mistura de paz silenciosa e mania parcialmente controlável. A primeira quebra nessa rotina ocorreu no início da quarta semana, quando, pouco depois do almoço — onde mais uma vez o rei se impressionou com o quanto a demônia comia, mas ainda não tinha juntado coragem para perguntar — Ylwa parou no meio da leitura, franzindo a testa enquanto se levantava:
— Por favor, me desculpe por um momento — disse a pecadora antes de derreter em suas sombras.
Lúcifer encarou o local, surpreso pela abrupta quebra da tarde costumeira. Dez minutos depois, quando o rei estava começando a criar razões cada vez mais ridículas em sua mente, ela voltou da mesma forma que saiu, exceto por uma mancha vermelha na bochecha, destacando-se no pelo branco.
— O que foi isso? Você se machucou? — questionou o rei, saltando ao redor da pecadora tentando verificar se ela estava machucada e analisar o sangue, mas não conseguindo ver bem devido à sua altura.
— Estou bem, Majestade — ela assegurou, suas garras pousando suavemente nos ombros do monarca para acalmá-lo. — Foi apenas um pequeno arrivista que pensou que eu não notaria uma tentativa de causar problemas no meu território. Já foi cuidado.
— Ah — murmurou Lúcifer, não tendo certeza de como interpretar as palavras. Parte dele não esperava tal indiferença diante de potencial violência, mas outra parte, aquela que viveu no Inferno por milhares de anos, estava meio satisfeita por saber que ela era capaz de se defender e não hesitaria em fazê-lo. — Eu não percebi que você era uma daquelas chamadas Overlords.
Ylwa torceu o nariz, confusa:
— Eu não sou — disse, caminhando até uma poltrona no canto, onde se sentou. — Pelo menos acho que não.
— Você disse 'seu território'.
— Sim. Meu território, sob minha proteção, como dita meu Acordo com as almas que vivem lá. É aquele pedaço da cidade entre os edifícios destruídos e essa região. Quase todos os pecadores que vivem lá selaram Acordos comigo. Suas almas em troca de proteção.
— E isso não faz de você um Overlord? — questionou Lúcifer, incrédulo.
— Pelo que sei, não. Eu possuo almas e tenho um pedaço da cidade que 'governo', mas não me envolvo em jogos de poder além da proteção de minhas almas. Ninguém tinha reivindicado aquela área, então não causou problemas. Enquanto eu não for reconhecida pelos Overlords atuais, vou continuar como estou e não me envolver em política.
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Hell Greatest Secretary!
FanfictionUma mulher cai ao Inferno devido aos seus estudo de bruxaria e ocultismo. Lá, em meio ao seu crescimento, ela começa a fazer perguntas e questionar estranhezas, buscando a ajuda do próprio Rei do Inferno, mas acabando por ser aquela que o ajuda ao...