24

377 45 3
                                    

Depois que Alfred saiu, deixando para trás um carrinho não solicitado com café, chá e lanches — uma ação que fez o rei piscar e o Demônio do Rádio começar a se perguntar o que havia de errado com aquele imp, os três se acomodaram. Ylwa ocupou a cadeira ao lado da cama, Alastor permaneceu deitado, apoiado por uma quantidade francamente ridícula de travesseiros, e o rei se sentou na beirada da cama, com as mangas arregaçadas.

— Vamos concluir a minha parte primeiro e então você vai nos contar tudo o que sabe — disse Lúcifer, estendendo a mão em direção ao peito do pecador, fazendo-o se contorcer.

— O toque é necessário? — questionou o cervo, com os olhos vermelhos fixos na mão que pairava sobre as bandagens.

Lúcifer inclinou a cabeça, observando o demônio, antes de responder:

— Infelizmente, sim. Sem contato direto, posso perder alguns traços do poder santo. Você terá de suportar por alguns minutos.

Alastor cerrou os dentes, mas assentiu. Com os olhos cerrados, ele sentiu o rei desfazer as bandagens e expor o longo corte, que ia do ombro ao quadril. Alguém tinha costurado a ferida, diminuindo o sangramento, mas ainda estava bastante crua. Lúcifer colocou a mão sobre o ferimento, sentindo a pele macia ao redor, e começou a canalizar a energia celestial. Foram vários minutos, mais do que a cura das queimaduras de Ylwa, mas, no final, tudo o que restou foi uma cicatriz fina, quase imperceptível sob o pelo mais espesso do peito do cervo.

O monarca se afastou, levantando-se da cama, e estalou os dedos, vestindo o pecador com uma camisa de pijama vermelha.

— Prontinho, tudo curado! Só precisa descansar para recuperar as forças, mesmo comigo alimentando e acelerando a cicatrização, o processo ainda cobrou um preço no seu corpo. — exclamou o loiro, manifestando o que era essencialmente um trono ao lado de Ylwa, e sentando-se sem nenhuma preocupação, cruzando as pernas e se apoiando no braço do móvel, com os olhos fixos no demônio de vermelho. — Agora, fale.

Foi uma noite extensa. Alastor, incapaz de ocultar qualquer informação relativa ao seu Acordo com Eva, foi detalhista. Relatou que, na noite após o extermínio, sete anos atrás, após uma caçada perto da embaixada, uma figura o atacou. Ele não percebeu a aproximação da entidade e, ao se virar, inalou um tipo de pó que o fez cair instantaneamente. O cervo não sabe por quanto tempo permaneceu inconsciente, mas ao acordar, encontrou-se firmemente amarrado, imobilizado e diante de uma mulher desconhecida.

Ela tinha a mesma estatura que ele, pele esverdeada, cabelos castanhos escuros e olhos cor-de-rosa. Suas vestes pareciam confeccionadas com folhas e pétalas de flores, predominando os tons de verde e rosa. A mulher se identificou como Eva e expressou o desejo de firmar um Acordo.

— Ah, tenho certeza de que podemos chegar a termos mutuamente satisfatórios — disse Alastor, esforçando-se para se libertar, sem sucesso.

— Receio que você tenha entendido mal. Tenho uma tarefa para você e não pretendo permitir que a recuse — ela respondeu, mantendo o sorriso, sem desviar os olhos da alma aos seus pés. — Você me entregará sua alma e, em troca, eu pouparei sua vida.

Quando Alastor rejeitou os termos propostos, ela o alertou de que não apreciaria o que viria a seguir. As semanas, ou talvez meses, passaram-se em um torpor de dor para o pecador, que não conseguia se mover, confinado por algo que se assemelhava a raízes. O quarto onde se encontrava era sombrio, e os sons externos eram tão abafados que ele não conseguia discernir nada. Em intervalos desconhecidos, fossem minutos, horas ou dias, as raízes que o amarravam desenvolviam espinhos que perfuravam sua pele e queimavam intensamente, sugerindo a presença de algum tipo de substância, pois a dor era demais para ser natural.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora