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A reunião com o Céu chegou no que pareceu um piscar de olhos. Os dias antes se amontoaram em uma confusão de papéis, imagens, termos contratuais, Adão e Charlie. A princesa, quando soube do encontro iminente, tentou convencer o pai a deixá-la participar, mas o rei foi firme. Os únicos na reunião seriam ele e Ylwa; sua filha não iria encontrar com os anjos até essa confusão se resolver. Além disso, alguém tinha que ficar de olho em Adão. Seu poder no Inferno era bem menor do que o que tinha acesso como anjo, mas ele ainda é a mais antiga alma humana e isso tem peso. Charlie, Lúcifer, Ylwa e Alastor são os únicos no Hotel com chance de contê-lo se necessário, e com dois deles fora, era melhor a princesa ficar para garantir que o primeiro homem não sofra um acidente, cortesia do gerente do Hotel.

No horário combinado, o rei do Inferno entrou na embaixada, suas roupas eram as mais elegantes e impressionantes possível, colocando a imagem de um verdadeiro monarca. Atrás dele, em um de seus ternos, Ylwa caminhava com a expressão em branco. Aqui e agora, ela era a assistente do rei e iria se comportar de tal forma a não permitir uma única dúvida sobre seu profissionalismo ou a autoridade do amigo.

A sala de reuniões ainda estava vazia quando entraram, mas assim que Lúcifer se sentou em uma das extremidades da mesa, a outra porta se abriu, permitindo a entrada de Sera, com Lute, a tenente de Adão, ao seu lado.

A chefe dos serafins se acomodou do outro lado da mesa, com Lute ocupando uma posição semelhante à de Ylwa, parada em pé levemente atrás da cadeira. Foi só então que ela falou.

— Lúcifer — cumprimentou Sera, com rosto sério.

— Sera — respondeu Lúcifer. — Adorável da sua parte achar um tempo para me encontrar. Levou apenas quatro semanas.

— Eu tenho outras obrigações além de atender aos seus caprichos, Lúcifer — respondeu Sera. — A morte de Adão causou um alvoroço, como tenho certeza de que você sabe, afinal, foi sua quebra de contrato que causou isso.

O rei do Inferno sorriu maldosamente, seus dentes afiados causando desconforto no anjo diante dele.

— Ah, mas é aí que você se engana, querida Sera. Parece que sua memória está falhando, já que não se lembra bem do Acordo que firmamos. — Ele não menciona que também não se lembrava bem. — Se tivesse achado tempo para meus caprichos antes, Adão ainda estaria no Céu, e você saberia que a quebra de contrato não foi do meu lado. 

— Que tolice... — começou Sera, antes de Lute perder a paciência e interromper.

— A culpa é de vocês! Aquela sua puta de uma filha devia ter ficado calada e aceitado as coisas como são!

— Minha filha não quebrou nenhum regulamento, mas vocês sim. Se Adão não fosse tão estúpido, nada disso teria acontecido. 

Lute rangeu os dentes, furiosa, e se preparou para gritar mais ou talvez atacar o rei, mas antes que as coisas pudessem escalar ainda mais, a porta por onde Sera entrou se abriu mais uma vez, permitindo a entrada de um ser cujo poder brilhava quase tão cegante quanto o de Lúcifer.

Ele era alto, vestido em branco e dourado, cabelos do mesmo tom que os de Lúcifer, mas mais longos e estilizados. Seu rosto era sério, pele pálida e olhos azuis que avaliavam tudo à sua volta. No momento em que o viu, Sera saltou, ficando de pé em choque:

— Miguel! O que... O que você faz aqui?

Lúcifer não disse nada, com expressão vazia de emoções, mas Ylwa podia sentir, pelo braço que tocava levemente o ombro do rei, que seu corpo estava tenso.

— Chegaram aos meus ouvidos informações um tanto preocupantes — disse o maior guerreiro de Deus, o líder do exército angelical. Seus olhos pararam no rei do Inferno, uma emoção desconhecida brilhando por um instante, antes de se virarem novamente para a serafim. — E o que você faz aqui, Sera? Seu trabalho é orientar e proteger as almas humanas do Paraíso, não tratar com o Inferno.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora