O contrato foi fonte de bastante debate entre os dois. As funções a serem realizadas no papel de assistente do rei (secretária, insistia Lúcifer) foram marcadas sem muito problema, deixando apenas o suficiente de manobra para a pecadora poder fazer algo no caso de um imprevisto. Eles concordavam em alguns pontos, mas na maioria dos pormenores foi necessária alguma concessão.
Lúcifer queria uma certa quantia como salário, Ylwa achava demais e não concordava com nenhuma das quantias escandalosas propostas pelo rei. Por fim, ela desistiu nos seguintes termos: o salário a ser pago por semana seria o mesmo que Lúcifer paga ao seu mordomo pelo mesmo período de tempo, mas o rei estaria livre para dar bonificações em datas especiais e após trabalhos complicados. Ele também poderia aumentar o salário após um ano, da forma que achar necessária para se adequar a qualquer inflação ou mudança na economia do Inferno. A gata, na verdade, ficou com a impressão de que foi enganada, e estaria certa, já que o mordomo recebe um salário maior do que ela recebia antes.
Os dois dias de folga foram mantidos, assim como o horário de trabalho anterior, com uma cláusula de que ela poderia ser chamada a qualquer momento se fosse necessário. Lúcifer conseguiu colocar um adendo de que, em tais casos, ela seria paga um extra. Nesse ponto, ele estava fazendo isso só para irritá-la.
Em vingança, mas também pensando na paz de espírito do amigo, ela conseguiu colocar uma cláusula de que não desapareceria de espontânea vontade e sempre daria um aviso se precisasse resolver algo fora do trabalho. Lúcifer sentia que isso transmitia falta de confiança da parte dele aceitar esse tipo de termo, mas também estava feliz com a segurança. Em contraposição, o rei estabeleceu o termo de que o contrato podia ser finalizado por ela sempre que quisesse, e Ylwa modificou para que esse encerramento pudesse ser feito por qualquer uma das partes, com a concordância da outra, fora o caso extraordinário de um deles fazer algo horrível. As circunstâncias a serem aplicadas nesse caso foram extensivamente listadas, mais como uma competição de quem conseguia inventar a coisa mais horrível do que por necessidade.
Nesse ponto da discussão, Ylwa sentiu a necessidade de estabelecer um voto de verdade, sentindo que Lúcifer poderia, em uma de suas quedas de humor, se perder em sua cabeça e tentar inventar uma desculpa para afastá-la. O rei ficou ofendido, mas não podia discutir. Para aliviar a ofensa, ela mencionou que nunca se sabe e talvez alguém tente manipulá-la para criar uma desculpa e se afastar de Lúcifer, então a segurança vai para os dois lados. Ela não mencionou como a certeza de que não havia mentiras entre eles poderia ser um peso a menos para o rei. Com isso, nenhum dos dois podia mentir para o outro, consciente ou inconscientemente. Eles podiam se recusar a responder algo, omitir ou, no máximo, dizer apenas partes da verdade, mas nenhuma mentira sairia de suas bocas.
Com os piores cenários em mente, Ylwa brincou sobre ser mais seguro dar sua alma a Lúcifer, mas o rei ficou descontente com a ideia, mesmo que fosse para proteção. A noção de ser dono de sua amiga parecia ácido no fundo da garganta. A pecadora quebrou a tensão deixando claro que era mais uma brincadeira do que sugestão séria, mas que seria bom ter uma medida de segurança, mais uma vez para o caso de alguém mais forte tentar se aproveitar. E assim o contrato ganhou uma cláusula de que Ylwa não pode dar, vender ou perder sua alma para ninguém sem a participação e permissão expressa de Lúcifer.
Eles continuaram noite adentro, termos, propostas e cláusulas quicando entre eles, até que, por fim, pouco depois das três da manhã, estava pronto. Escrito em um longo pedaço de papel, na melhor caligrafia de Lúcifer, porque a de Ylwa mal era legível, estava o contrato entre os dois.
Resumidamente, ele estabelecia as condições de trabalho da gata, seu salário, as condições para o encerramento do contrato, medidas protetivas para ambas as partes incluindo questões de sigilo e, no final, por insistência da gata, um termo que deixava claro que a amizade entre ambos vinha antes de qualquer obrigação de trabalho, deixando claro que os dois são livres para agir com base em seus sentimentos um pelo outro sem serem restringidos ou coagidos pelas funções e obrigações marcadas.
— Certeza disso? — perguntou Lúcifer uma última vez, logo depois de assinar.
Ela apenas sorriu, pegou a pena da mão do rei e assinou, não apenas com o seu nome conhecido, mas também o real. O papel brilhou dourado, com o mais discreto tom de verde, antes de se dividir em dois e cada um ir para a mão de um deles.
Eles ficaram lá, segurando o contrato, antes de ambos guardarem o papel. Esticando-se, Ylwa foi para a cozinha pegar algo para comer e Lúcifer andou até a janela, espiando lá fora. Dava para ver algumas das ruas do território de Ylwa.
— Onde fica esse prédio? — perguntou Lúcifer.
— Perto do bar, nem um quarteirão de distância. O dono é uma das minhas almas. Eu paguei para renovar e expandir esse lugar. Um dos bunkers fica aqui embaixo. Tecnicamente sou dona do lugar, já que possuo a alma do proprietário original, mas não interfiro nos negócios dele, só ocupo um dos quartos de graça. — Ela sorriu para o diabo, oferecendo um copo de leite que ele aceitou.
Os dois relaxaram na sala, sem sentirem a necessidade de conversar. O tempo passou e, em algum ponto, Lúcifer disse boa noite, se despedindo depois do dia agitado:
— Amanhã ainda é seu dia de folga, então te espero no Palácio depois disso.
— Sem problemas. Tenha uma boa noite, Lúcifer.
Ele abriu um portal e se foi, deixando a gata para seus pensamentos. Ela considerou tudo o que a levou até aquele ponto, sua vida humana e sua vida após a morte. Ela estava satisfeita. Apesar de tudo, não era insuportável, nem ruim. Ylwa sentia falta da família, dos poucos amigos, mas encontrou um lugar para si no Inferno e fez um novo amigo. Por enquanto, tudo estava bem.
Não tenho muita certeza de onde ir a partir daqui. Tenho algumas ideias, mas provavelmente serão alguns saltos no tempo, com pedaços do que está rolando ao longo dos próximos anos, até chegarmos à série.
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Hell Greatest Secretary!
FanfictionUma mulher cai ao Inferno devido aos seus estudo de bruxaria e ocultismo. Lá, em meio ao seu crescimento, ela começa a fazer perguntas e questionar estranhezas, buscando a ajuda do próprio Rei do Inferno, mas acabando por ser aquela que o ajuda ao...