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Ylwa retomou o trabalho de forma natural e, assim como previsto, em dois dias ambos terminaram de organizar os dados que recolheram. Lúcifer a convidou para comemorar o término com uma bebida, que ela aceitou. Foi uma noite divertida de vinho, comida e brigas bem-humoradas sobre um jogo de jenga. No dia seguinte, em contraste, a alegria do rei tinha se esvaído quando ambos pararam em frente a um par de portas roxas que levavam ao escritório de Lilith.

— Sinto que não entro aí há séculos — disse o rei, baixinho.

— Quer que eu faça isso? Você pode começar no seu próprio escritório e deixar o dela para mim.

O monarca balançou a cabeça e deu um passo à frente, estendendo a mão para a maçaneta:

— Não. Preciso fazer isso. Preciso do... encerramento. — E com essas palavras, o rei abriu a porta.

Era claro à primeira vista que ninguém entrava naquele cômodo desde que Lilith foi embora. A poeira cobria cada canto, o cheiro de enxofre característico do Inferno era mais forte lá dentro do que no resto do palácio, mas por baixo disso havia um aroma que Ylwa não tinha sentido em outras partes da residência. Um forte cheiro de rosas preenchia o escritório da Rainha, provavelmente de um perfume favorito.

Lúcifer pareceu engasgar por um instante, hesitando na porta antes de se fortalecer e entrar, indo direto para a mesa. A gata tomou seu tempo analisando o local. Decorado com papel de parede em roxo e dourado, estampado com flores, principalmente rosas e lírios. Móveis de madeira escura, quadros com tema de natureza, florestas exuberantes e pores do sol sobre montanhas. Feminino, mas sério, quase frio. Orgulhoso e rico. Falava bastante sobre a personalidade de seu principal ocupante. Ao se aproximar da mesa, Ylwa viu Lúcifer encarar um porta-retrato com uma foto de sua filha e estender a mão para outro, esse colocado com a foto para baixo. Ao levantá-lo, revelou-se uma foto do casal real, Lilith alta e impressionante, Lúcifer mais baixo com um sorriso afiado.

O silêncio era tenso, mas Ylwa não queria questionar novamente se Lúcifer estava bem, então apenas estendeu a mão, colocando-a suavemente no ombro do diabo. Eles ficaram lá por alguns minutos antes do rei colocar o quadro da forma como estava antes e puxar a impressionante pilha de papelada.

Os dois olharam para o trabalho acumulado e suspiraram em uníssono. Os servos de sombras de Ylwa teriam bastante trabalho. Um punhado deles foi designado de forma permanente para a Biblioteca das Almas, para manter os registros atualizados, assim eles só precisariam conferir uma vez por ano. Agora outros foram criados para ajudar a separar a papelada no que é urgente e o que não é.

No final, só o escritório de Lilith levou o resto da semana e foi uma experiência tensa. Não houve um dia em que entrar lá dentro não foi difícil para Lúcifer, e sempre que ele parecia se empolgar com um pensamento, ele olhava ao seu redor, via o retrato abaixado e murchava. Alfred, em sua eficiência inquestionável, começou a servir panquecas e outros doces em quase todas as refeições, só para animar um pouco o rei. Terminar aquele local foi um alívio, e Ylwa felizmente trancou a porta atrás de ambos, antes de agarrar o rei e, carregando-o debaixo do braço, levá-lo até o salão de jade, uma sala nos andares superiores do palácio decorada com tons de verde e dourado.

O confuso rei nem mesmo lutou, muito surpreso com a súbita mudança de perspectiva e as ações inesperadas.

— O que você...? — ele começou a perguntar assim que foi colocado no chão, mas se calou ao ver a forma de Ylwa mudar.

Querendo animar o rei, ela tomou uma forma animal, sabendo que ele gostaria da maciez do pelo. Ela descobriu como fazer isso há alguns meses enquanto brincava com seus poderes. Ela era um leopardo branco, verde e preto com chifres, grande o suficiente para o rei deitar em cima.

Hell Greatest Secretary!Onde histórias criam vida. Descubra agora