Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]

Arco II, Capítulo 17: Satisfações

Eu estava novamente naquela sala de paredes vermelhas, sentada naquele sofá preto. Mais uma vez meus olhos miravam minhas mãos sobre meus joelhos, e meu braço mecânico estava coberto por uma sombra preta. Eu olhei para frente e engoli em seco, a figura humanóide e ao mesmo tempo monstruosa de Hamartía se fazia presente diante de mim.

- Como está a lua de mel, filhinha? - Indagou, com um sorriso mínimo.

Eu ri sem humor.

- Então você sabe que eu me casei. - Constatei.

Ele não aparecia para mim desde que acordei no hospital antes da reunião do conselho.

- Sim, digamos que tenho minhas formas de ver seu mundo. - Ele sorriu minimamente. - Trevor Deucalion. Minha garota de fato não pensa pequeno.

- Eu não queria isso. - Respondi com aspereza.

- Tem razão. O conselho te obrigou, não é mesmo? Mas isso até é bom. Teremos um dos nossos na família Deucalion, na posição de mãe dos futuros herdeiros. Você realmente tem cumprido seu papel. - Riu.

Eu espremi os olhos.

- Se pensa que vou te beneficiar com isso, pode esquecer. - Protestei.

Ele espremeu os olhos, com um sorriso escarnecedor se moldando em sua face.

- Bem minha criança, você vai perceber que não importa o que faça, estará beneficiando alguém. Seja a mim ou ao conselho. - Ele deu de ombros. - Por que não escolher o lado que te dá vantagem? A cidade perdida de Laocideia é um bom lugar para nos encontrarmos.

Eu franzi o cenho.

- Cidade perdida?

Ele esboçou um sorriso ladino.

- A vidente Cassandra deve te explicar sobre isso. Você vai perceber, Brooke, que não vale a pena estar do lado desse mundo. - Hamartía declarou antes de estalar os dedos.

Meus olhos se abriram. Eu estava no quarto de Trevor novamente.

Levantei meu braço mecânico e o encarei. Não havia mais a sombra preta. Arranhei meu braço humano e senti a leve ardência. Estava acordada.

Eu engoli em seco. Me encontrar com ele era horrível. Um gosto amargo tomava minha garganta. Olhei para os lados da cama, Trevor já havia se levantado.

Me levantei e saí do quarto, voltando para o meu afim de me arrumar. Hoje, depois de passada toda essa correria do casamento, eu teria minha primeira reunião com a vidente Cassandra. Pus a calça cargo com a qual normalmente treino no Asas Iluminadas e uma camiseta preta. A maioria das minhas roupas agora eram pretas e douradas, afinal eu era uma Deucalion.

Haviam muitas perguntas. Muitas coisas que eu queria saber e muitas das quais eu queria me distrair. Talvez conversando e treinando eu esquecesse, por alguns momentos, que agora era a esposa de alguém que não me amava.

Ao contrário do que pensei, minha primeira vez não foi tão ruim. Por mais que tenha sido doloroso - eu não esperava que fosse diferente -, Trevor havia sido gentil comigo na medida do possível.

Eu já estava saindo pela porta da frente da mansão, carregando uma bolsa não muito grande, quando ouvi a voz de Trevor:

- Onde vai? - Indagou. - Você não me avisou que saía.

Me virei e encarei-o, ele vinha da sala de jantar. Ele vestia roupas casuais, uma camisa preta sem mangas e uma bermuda. Olhando-o vestir algo sem mangas e também mostrando as pernas, ficava óbvio que Trevor era forte fisicamente. Baixei o olhar, tudo ainda era muito estranho.

- Vou encontrar a vidente Cassandra. Tenho uma reunião com ela hoje. - Expliquei.

- Sabe o que vai fazer nessa reunião? - Inquiriu, cruzando os braços.

Eu engoli em seco.

- Não sei ao certo. Ela vai me explicar algumas coisas mas não se vai haver alguma parte prática. - Expliquei.

Trevor assentiu, com um olhar enigmático.

- Que horas vai voltar? - Indagou.

- Eu não sei. - Falei, um tanto incomodada com tantas perguntas.

- Onde exatamente vocês vão treinar? - Questionou.

Eu suspirei profundamente.

- Na floresta. - Ralhei. - Eu posso saber por quê você tá me interrogando? - Protestei.

Trevor arqueou uma sobrancelha.

- O mínimo que preciso é saber onde você está, o que está fazendo e quando vai voltar. - Expliquei.

Eu ri sem humor.

- É claro, é óbvio que o conselho mandou você me monitorar. - Revirei os olhos.

Trevor bufou irritado.

- Isso não é pelo conselho. É porque isso é o mínimo. Do mesmo jeito você sempre vai ficar sabendo onde eu estou. Isso se chama responsabilidade. - Se aproximou de mim, com tom áspero. - O prefeito Growin nunca te pediu para dar satisfações do que fazia?

Eu ri de escárnio.

- Mais fácil as pedras da minha torre pedirem isso do que ele. - Meu tom saiu mais amargurado do que eu imaginava, e vi-o tensionar as sobrancelhas. - Enfim... agora que já te dei todas as satisfações, vossa alteza, estou indo. - Debochei enquanto saía da mansão.

Hamartía visitou de novo, e lá vem a primeira reunião com a Cassandra... O que esperar?
O próximo capítulo promete. Recomendo que fiquem atentos.