Com certeza saber que meu nome significava algo diferente do que ouvi a minha vida inteira, e tal como os heróis dos quais eu sempre ouvi na academia e li nos livros ilustrados, eu era uma escolhida do Oleiro, era um choque e tanto.
Cassandra me contou que os Leirbag agora viviam em Ésefo. Que minha avó e meus tios ainda estavam vivos. Era estranho pensar que eu tinha parentes vivos com os quais nunca tive contato. Eu já tinha me acostumado com a ideia de não ter família, mas saber que eu tinha uma família e ela simplesmente nunca me procurou, era ainda mais difícil de lidar.
Eu queria continuar falando com Cassandra. Queria que ela me falasse mais coisas, e mais que isso, estar perto de Cassandra me fazia sentir segura. Eu havia acabado de conhecê-la, mas sabia que nada de ruim iria me acontecer enquanto ela estivesse perto. Porém, nossa conversa não se estendeu muito, Cassandra assumiu uma postura mais distante, e disse que tinha problemas de “gente grande” para resolver, e nossa reunião se encerraria ali. Confesso que fiquei curiosa sobre o que aquilo queria dizer, mas não me atrevi a perguntar.
Agora, já havia se passado um dia e eu tinha que voltar para o Asas Iluminadas, para cumprir meus treinos semanais. Ficou acertado que meus dias se alternariam entre treinos do Asas Iluminadas e reuniões com a vidente Cassandra, onde ela prometeu que me ajudaria a entender quem sou e quem o Oleiro é, e após algum tempo, me ensinaria o que de fato devo fazer com isso.
Herdeira do lorde do Abismo e do criador da humanidade. Dois títulos que pareciam totalmente inadequados para uma garota como eu. Eu definitivamente não sou tão especial assim, ou pelo menos achava que não era. Tudo isso é curioso, confuso e desanimador. As vezes penso que não existir seria muito mais fácil.
— Brooke, vamos chegar muito tarde se não sairmos logo. — Trevor avisou, adentrando em meu quarto pela porta aberta. Sim, eu ainda dormiria no quarto separado, exceto nos dias pares. Em Torinco, graças à tradição de casamentos arranjados, também nasceu entre os casais arranjados o costume dos dias pares. Que são os dias em que um casal que não se ama tenta ter seus herdeiros por obrigação.
Trevor reclamava pois eu ainda fitava meu cabelo passando creme. Havia esquecido que já precisava fazer isso de novo ontem, então precisei fazer hoje o demorado processo de lavar, desembaraçar e agora finalizar meus cachos crespos. Já faziam duas horas que eu estava cuidando da minha imensa quantidade de cabelo.
Eu assenti, continuando a dar atenção ao meu cabelo.
— Faltam poucas mechas, não vai demorar muito. — Falei, continuando a cuidar do meu cabelo, me desagradando do fato de que por estar recém molhado, ele não vai ter seu volume habitual. — Melhor se acostumar com o fato de que meu cabelo demanda tempo.
Trevor franziu o cenho.
— Deveria se acostumar a ser pontual. — Retrucou.
Eu revirei os olhos, passando creme na última mecha de cabelo e fitando-a para formar os cachos. Trevor alternava entre desviar o olhar e me encarar com um olhar enigmático.
— O que aconteceu na reunião de ontem com a vidente? — Inquiriu, quebrando o silêncio.
Eu suspirei profundamente, desembaraçando com os dedos uma última parte embolada. Não importa o que eu faça, esse cabelo parece que embola na base do ódio.
— Falamos sobre meu passado. Sobre minha mãe. — Vi-o desviar o olhar. — Eu sequer sabia o nome dela e agora sei que tive uma mãe que foi morta pelo meu pai, e um irmão gêmeo que infelizmente não sobreviveu.
Trevor engoliu em seco.
— Isso certamente é difícil. — Constatou.
Ao terminar a finalização do meu cabelo, eu me levantei. Já vestia meu uniforme de treino do Asas Iluminadas. Eu o encarei com seriedade.
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Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]
FantasyLivro 01 da trilogia "A Ordem do Oleiro" Dedico essa história a todos aqueles que se cansaram da hipocrisia e desejam a virtude acima das adversidades. "A criança que não é acolhida pela vila, vai queimá-la para sentir seu calor." Brooke seguiria e...