Todos do conselho ficaram ao mesmo tempo confusos e sobressaltados. Trevor olhou para Alibab, incrédulo, enquanto ele se levantava.
— Você enlouqueceu? Que ideia ridícula é essa? — Trevor inquiriu, exaltado.
Aquilo era definitivamente ruim. Torinco tinha uma cultura muito bem estabelecida de casamentos arranjados onde, exceto por circunstâncias especiais, os pais e tutores tem a última palavra e não devem ter a decisão questionada. Isso valendo tanto para o lado masculino, como para o lado feminino. Uma recusa por parte dos filhos precisa ser julgada no tribunal para ser considerada legítima e a pena válida para uma desobediência é a deserção. No caso de Trevor, ele poderia ter sua herança como Deucalion confiscada.
— Alibab, até agora estava votando pela morte dela, o que te fez mudar de ideia? — Roderic franziu as sobrancelhas.
— Se não podemos matá-la, ao menos precisamos monitorá-la de perto e nos aproveitar ao máximo possível das vantagens disso. — Alibab deu de ombros, com um sorriso presunçoso.
— Você não pode estar regulando bem! — Trevor exclamou, se aproximando do tutor com um olhar sério. — Você não vai me obrigar a isso, está fora de cogitação!
— A Luary morreu, Trevor. — Ele constatou com frieza, dando um olhar rápido para Roderic que engoliu em seco. — E você não tem a opção de não se casar, é o último Deucalion.
— Mas definitivamente não pode ser com a Brooke! Alibab, você alimentou desde sempre o meu ódio contra ela, como pode me pedir agora para me casar? — Protestou, exaltado.
— Porque agora as circunstâncias mudaram. Agora é uma boa ideia que ela esteja próxima de nós e que a nova linhagem Deucalion tenha o poder raro dela. — Alibab se voltou para o prefeito. — Prefeito Growin, eu só preciso da sua colaboração para isso.
O prefeito elevou o rosto com seriedade.
— Concordo se estiver disposto a pagar o dote por isso. — Sugeriu.
Alibab sorriu de orelha a orelha.
— Certamente, estamos conversando.
O coração de Trevor batia acelerado, desenfreado, ao ponto de quase sair pela boca.
— Não vai levar em conta o que eu penso? O que a Brooke pensa? Ela sequer está aqui para defender a própria honra e certamente não estaria de acordo. — Protestou.
Alibab olhou-o com indiferença.
— Vocês vão ver que será vantajoso. Você reerguerá o nome de sua família e a Brooke terá um nome e uma vida melhor. — Deu de ombros. — Não pense de maneira tão egoísta, Trevor. Você é um Deucalion. E a Brooke é nada mais que um monstro que toleramos e no mínimo precisa ser útil.
— Você será nossos olhos e ouvidos sobre a Brooke, e a Brooke será sua ferramenta para gerar os tão preciosos herdeiros Deucalion. — O prefeito Growin completou, se voltando para Trevor num tom frio. Trevor sentiu seus ossos se arrepiarem. O prefeito Growin era o tutor de Brooke, por que havia acabado de se referir a ela como ferramenta? Aquilo era doentio, aquele conselho estava doente. O prefeito se voltou para Alibab com um sorriso satisfeito. — Achei que nunca fosse conseguir casar a garota. Temos um acordo.
Eles apertaram as mãos e Trevor sentiu como se estivessem apertando seu pescoço. Como eles poderiam tratar sua vida e a vida de Brooke com tanta leviandade, sendo que por senso comum suas presenças poderiam lhes colocar em sério risco?
Ferramenta. Eles haviam se referido à Brooke dessa maneira, mas ele sabia que no fundo também era visto assim. Uma sombra do que um dia foram os Deucalion, a poderosa e influente família. Que agora, fora reduzida a uma mera marionete cujas vontades são irrelevantes.
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Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]
FantasiaLivro 01 da trilogia "A Ordem do Oleiro" Dedico essa história a todos aqueles que se cansaram da hipocrisia e desejam a virtude acima das adversidades. "A criança que não é acolhida pela vila, vai queimá-la para sentir seu calor." Brooke seguiria e...