Capítulo 31: Uma cidade diferente

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O céu, as estações, as cidades, as colinas. Tudo isso passava rápido pela janela do trem. Desviei o olhar da janela e olhei para Cassandra, que calmamente lia um livro.

— Então… você ainda não explicou porque estamos indo para Ésefo. — Abri o assunto.

Cassandra sorriu minimamente.

— Você vai conhecer outros de nós. — Falou. Eu arqueei ambas as sobrancelhas. — Aqui em Torinco, membros da Ordem vivem fragmentados e escondidos. Em Ésefo, há uma união e publicidade muito maior.

— E eles sabem sobre mim? — Inquiri.

Cassandra assentiu.

— Sim. Seu nascimento foi inclusive um motivo de divisão política e espiritual em Ésefo. — Eu franzi o cenho. — Houveram muitos debates políticos e dentro da própria Ordem do Oleiro sobre se Ésefo deveria intervir ou não na sua questão. Eles têm a informação sobre a chama divina dentro de você. — Eu arqueei ambas as sobrancelhas. — Porém, o governo de Torinco preferiu que Ésefo não entrasse em contato com você, e o lado opositor de lá acabou ganhando. É por isso que nunca recebeu visitas de Esefianos.

Eu suspirei profundamente.

— Complicado. — Comentei, aquilo sequer me surpreendia, então mudei de assunto: — Trevor disse que minhas características físicas são mais comuns em Ésefo do que em Torinco. Já ouvi falar nisso, mas nunca parei pra pensar muito. — Completei.

Cassandra assentiu.

— Sim, os Leirbag são uma família originalmente de Ésefo. Pode se considerar metade Esefiana. — Explicou. Eu arqueei ambas as sobrancelhas.  — Lá a maioria das pessoas têm a pele mais escura, como a família Leirbag e a conselheira Fleur.

Eu assenti, me lembrando do tom de pele peculiar da conselheira Fleur.

— Em Torinco eu vejo poucas pessoas assim. Ésefo deve ser bem diferente. — Comentou.

— Sim. Quando as cidades gêmeas formavam um reino único, era comum que pessoas como nós fossem vítimas de muito preconceito e segregação. — Levantei minhas sobrancelhas. — Mas quando Torinco e Ésefo passaram a ter governos independentes, e Ésefo passou a se desenvolver sob o mandato de um prefeito de pele escura, nossa imagem e a forma de sermos tratados foi mudada. Nossos traços deixaram de ser abominados. — Cassandra lembrou com certa satisfação. — Apesar disso, o preconceito ainda vive. Especialmente em Torinco, onde somos mais raros e as aulas de história são incompletas. Espero que algum dia o mundo mude o suficiente para isso ter fim.

Eu sorri minimamente.

— Eu também espero. — Concordei, arrancando o excesso das minhas unhas sobre a saia do meu vestido dourado. — Trevor disse que não acha meus traços feios. Admito que isso me deixou feliz.

Cassandra esboçou um pequeno sorriso.

— Vocês ficaram bem depois que fui embora ontem? — Inquiriu.

Eu assenti.

— Até fizemos o jantar juntos. Ele foi tão gentil que até estranhei. — Comentei, com um sorriso.

Cassandra suspirou aliviada.

— Que bom. — Regozijou. — As circunstâncias do casamento de vocês foram circunstâncias infelizes. Mas isso não impede que alcancem a felicidade. Creio que o Oleiro lhes fará capazes disso.

Eu assenti.

— Sim, com certeza. — Concordei.

A mudança da paisagem, cruzando a floresta e chegando a colinas rurais, denunciou que passamos pela fronteira com Ésefo. A paisagem verdejante que cativava meus olhos, deu lugar à paisagem urbana, onde fiquei atenta a cada detalhe pela janela. Diferente de Torinco onde as casas eram feitas de madeira, as casas e maior parte das construções de Ésefo eram feitas de tijolos, e suas paredes eram mais coloridas. Eu sentia o clima ligeiramente mais quente, mas nada absurdo. Olhando as pessoas nas ruas, não havia muita diferença na maneira de vestir. Por outro lado, vi pessoas se abraçando e até beijando em público, e mais vendedores ambulantes pelas ruas, vendendo desde bijuterias, até comidas. Era raro ver vendedores ambulantes, ao menos na parte de Torinco que eu morava. Eu ouvia diferentes músicas conforme avançava pelas ruas.

Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora