Capítulo 47: A Ordem do Oleiro

20 3 1
                                    

Um mês se passou, e todos os recém montados grupos da Ordem do Oleiro em Torinco combinaram de se reunir no mesmo domingo.

A Ordem de Ésefo prestou auxílio financeiro para que Cassandra, eu e os chamados “peregrinos” que vieram para Ésefo ajudar no retorno da Ordem pudessem usar todos os meios possíveis para divulgar a data da primeira reunião. Dentre eles haviam instrumentistas, videntes, dançarinos, mestres… todos que poderiam, de alguma forma, ajudar a Ordem a se estabelecer. Pessoas que haviam deixado sua terra natal, sua vida comum, para vir ajudar Torinco.

Nós colamos cartazes pela cidade, tal como fundadores dos outros grupos recém montados também fizeram. Enviamos panfletos para as casas das pessoas, e convidamos todos que pudemos. Eu falei com Trevor, Circe e Ronan sobre essas reuniões. Eles ajudaram de forma significativa convidando mais pessoas para mim, já que havia um limite muito óbvio de quanta influência social eu era capaz de ter.

Conseguimos colocar até mesmo um anúncio no rádio. Ao que parece, Cassandra entregou uma profecia muito impressionante ao dono de uma estação de rádio e ele se viu impelido a lhe ceder espaço.

E além da divulgação, eu também havia me preparado para coisas que ocorreriam dentro da reunião. Nunca imaginei que Cassandra me daria um papel tão importante.

Eu, Cassandra e alguns peregrinos chegamos mais cedo no local alugado para as reuniões. Ele era próximo à casa de Cassandra, antes era um salão de festas. Eu estava no banheiro há algum tempo e me admirava com minha visão no espelho. Eu trajava um collant de dança branco, com uma gola quadrada e mangas de um tecido que diferente do restante do collant, era largo e esvoaçante. Eu usava uma saia rodada que ultrapassava meus joelhos, na mesma cor. O branco contrastava com a minha pele, era como se eu e a roupa brilhássemos. Um gloss rosado exaltava o tamanho dos meus lábios. Eu havia aprendido com Circe a me maquiar, então minhas bochechas estavam levemente avermelhadas e minhas pálpebras adornadas com uma sombra dourada brilhante.

Meu coração estava à mil. Lá de dentro, eu podia ouvir pessoas entrando no salão. Eu cruzei as mãos em frente ao rosto, implorando ao Oleiro que tudo desse certo, e ao mesmo tempo, indagando se era uma boa ideia fazer aquilo.

Eu só conseguia me lembrar da última vez que dancei em público. Como fui brutalmente expulsa do palco sem sequer ter direito de defesa. Como teria sido presa se não fosse defendida por Trevor. Lembrar daquilo fazia meu corpo se contorcer em dores físicas e ter uma enorme vontade de desistir e fugir.

Por mais que as coisas tenham mudado, uma parte considerável de mim ainda está isolada naquela torre em escombros. Eu espero que algum dia eu esteja imersa o suficiente no Oleiro para que todas essas coisas deixem de cortar meu coração.

Eu suspirei profundamente. Preferi não ficar sozinha, mas ir às pessoas que certamente não me deixariam desistir.

Eu saí do banheiro, passei por um corredor e pude ver o templo da Ordem em Torinco, que aos poucos se enchia de pessoas. Apesar de não ter paredes redondas, nós o arrumamos no mesmo sistema centralizado do templo de Ésefo, mantendo um espaço elevado no meio formado por uma plataforma de concreto, enquanto as cadeiras formavam quadrados em volta. Um violinista e um flautista de Ésefo já estavam posicionados na base da elevação.

Eu procurei Trevor, Cassandra, Circe e Ronan ao longo do espaçoso salão, mas a primeira pessoa com quem me deparei, que me levou a arquear as sobrancelhas, foi a conselheira Fleur Beladona, conversando com Gilda e Terence, irmãos gêmeos peregrinos de Ésefo, ambos loiros de cabelos curtos, portadores de uma baixa estatura e olhos escuros. Fleur estava séria e trajava um longo vestido preto, com um xale da mesma cor cobrindo seus ombros e braços.

Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora