Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]

Capítulo 12: Em volta da mesa redonda

Uma coisa que Trevor nunca havia ouvido falar sobre o poder dos campos de força, é que eles podiam ser usados para voar. Cassandra explicou enquanto eles saltavam no ar com campos de força que os videntes, por não possuir aptidão mágica, usavam instrumentos consagrados ao Oleiro para usar os campos de força. No caso de Cassandra, era seu cajado, o cajado que costumava usar antes de ser uma vidente, quando pastoreava as ovelhas da família Leirbag. Ambos conseguiam saltar sobre campos de força invisíveis em alta velocidade, segurando juntos o cajado.

— Então, como a Brooke descobriu sobre o pai? — Cassandra indagou, ainda durante o vôo.

— Fomos fazer uma missão e ao que parece, nosso oponente era um aliado do Abismo. — Trevor explicou. — Foi ele quem contou para ela.

— Um aliado do Abismo. Devem haver mais por aí. — Cassandra constatou, em tom sério.

— Sim. Vez ou outra surge algum por aí, mas geralmente não são grande ameaça. — Respondeu.

— É só o que parece, Deucalion. Mas o Abismo trabalha de forma paciente. — Cassandra retrucou. — Eles plantam suas sementes de desordem de pouco em pouco, sufocam as plantas em volta, e quando menos se percebe, eles já tomaram lugar. O Abismo é nada mais que um castigo permitido pelo Oleiro para uma sociedade doente que constantemente o ofende.

— Então diz que o Oleiro permite o Abismo chegar até nós por causa… da maldade? — Inquiriu, confuso.

— Sim. Pergunte para a Brooke e saberá quanto os seres humanos agem exatamente como o Abismo quer que ajam. Alguns só admitem isso, e são os aliados do Abismo. — Cassandra explicou. — E agora que Brooke cresceu e se tornou uma militar, é bem capaz do Hamartía mandar mais deles. Vão ser tempos difíceis.

Trevor não disse mais nada, apenas ficou ruminando aquelas palavras, porém seus pensamentos foram interrompidos quando chegaram à sede da prefeitura, onde dava para se ver por uma janela todo o conselho reunido em volta da mesa redonda.

— No três a gente pula. — Cassandra falou.

— O quê? — Trevor inquiriu, confuso.

— Três!

Cassandra pulou do campo de força ainda segurando o cajado, Trevor, desconcertado, saltou junto, e os dois quebraram a janela com um chute, logo caindo agachados dentro da sala do conselho, sob os olhares assustados e confusos de todos os conselheiros.

— O que significa isso? — Alibab perguntou, com sua voz aguda, logo espremendo os olhos ao vê-lo. — Trevorzinho?

— Me chama assim de novo e eu te mato. — Trevor ameaçou, vendo Alibab sorrir debochado.

O prefeito Growin os encarava com as expressões distorcidas em choque e espanto, se aproximando a passos hesitantes.

— Vidente Cassandra. — Constatou, olhando para a mulher que agora estava de pé, segurando seu cajado. — Você…

— Sim, estou viva. Viva e jovem como sempre. — Ela sorriu de forma irônica, se aproximando enquanto batia o cajado no chão.

Alibab Naitsirc, Roderic Corzélis, Hazel Odnanref, Fleur Beladona e o prefeito Vladmir Growin. Estavam diante do conselho de Torinco, e todos olhavam para aquela mulher com um misto de espanto, medo e respeito. Eles mal conseguiam encarar-lhe nos olhos e baixavam as cabeças. Quanta autoridade a vidente Cassandra era capaz de ter sobre eles?

— Eu enfim despertei do meu coma. Ao que parece o Oleiro me quis fora de cena por algum tempo. — Cassandra falou, num tom macio e descontraído enquanto passeava entre os membros do conselho, que se enrijeciam com sua mínima presença. — No momento, tenho noventa e seis anos. Mas durante meu sono o Oleiro conservou a juventude que tenho desde os oitenta. Não é maravilhoso?