Capítulo 39: Dupla improvável

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Meus olhos aos poucos receberam de volta sua luz, uma dor de cabeça abismal me atingiu e o cenário à minha volta não parecia de forma alguma familiar. Estávamos aparentemente em movimento, era a mesma sensação de estar num carro, tirando que eu estava sentada no chão. O lugar se assemelhava a um galpão escuro cujas paredes eram de ferro enferrujado, havia marcas no chão que eu me arrepiei ao perceber que eram marcas de sangue, e duas pessoas conversavam de pé na minha frente, enquanto outra só encarava em silêncio.

As duas pessoas que conversavam eram Hassan e um outro rapaz que eu não conhecia, desprovido de barba, com uma pele morena clara parecida com a de Hassan, cujos cabelos eram perfeitamente penteados para trás, e era Circe quem apenas os encarava em silêncio, entretanto, seus olhos pareciam vazios e opacos, encarando qualquer ponto vazio.

— Lorde Hamartía pode não ter nos ordenado isso, mas ficará extasiado com essa surpresa! — O rapaz dos cabelos lambidos falou, seu sorriso era eufórico. Eu arregalei os olhos ao ouvir o nome de meu pai, entendendo rapidamente que aqueles ditos cujos se tratavam de aliados do Abismo.

— Certamente o lorde o recompensará por isso, Wickham. — Hassan afirmou, mas em contradição com sua fala, sua voz não parecia conter o mesmo ânimo, pelo contrário, havia nela um tom depressivo.

— Certamente irá! Não há nada que Lorde Hamartía queira mais do que a lealdade de sua querida filha. — Ele sorria, e logo tocou o rosto de Hassan com as duas mãos. — E você, meu irmãozinho querido, fez muito bem o seu papel. Sem a garota Morevis, nunca teríamos conseguido lidar com o Deucalion.

Eu arqueei ambas as sobrancelhas, assimilando tudo. Hassan era irmão dele. Eles eram juntamente aliados do Abismo e o ingresso dele no Asas Iluminadas foi todo um plano para primeiramente controlar Circe, e depois me raptar para o Hamartía.

— O Dazai falhou, irmãozinho. Ele não usou os meios certos. — Wickham sorriu. — Mas nós… levaremos a garota com vida para Laocideia.

Tentei me mover de forma brusca, entretanto meus braços estavam presos atrás de meu corpo por correntes e algemas que deixavam minhas mãos completamente presas dentro de capsulas de metal, tal como também meus pés. O barulho das correntes se batendo fez com que aqueles dois irmãos olhassem para mim. Wickham sorriu.

— Olhe só… você acordou, princesinha do Abismo. — Expressou em tom venenoso, me olhando com divertimento.

Eu me debati mais e soltei fogo pelas mãos.

— Me solta! Me deixa sair! — Gritei.

Mas o metal continuava rígido à volta das minhas mãos. Parecia sequer esquentar.

— Isso não vai adiantar. — Wickham declarou. — Essas algemas e correntes são à prova de fogo e enfraquecem a magia. Não conseguirá usar sua magia para se soltar.

Eu rosnei, arranhando minha garganta.

— Eu tô grávida. — Relembrei. — Eu tô carregando o herdeiro Deucalion, não conseguirão me levar tão facilmente.

Wickham riu sem humor.

— Será que não? — Inquiriu. — Estamos num caminhão munido de magia de camuflagem. Ninguém consegue nos ver e estamos indo pelas estradas mais isoladas de Torinco, onde apenas veículos de alta carga passam. Até agora ninguém nos incomodou, e não incomodará até chegarmos a Laocideia.

Eu engoli em seco, com os olhos arregalados. Wickham se aproximou de mim e segurou meu rosto com força, eu grunhi e ele tirou de seu jaleco uma seringa com uma agulha tão afiada que brilhava, com um líquido verde florescente dentro de seu tubo. Eu o encarei com temor, ele exibia uma face indiferente para mim.

Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora