Herdeira de Sangue e Fogo [COMPLETO]

Capítulo 44: A heroína e a vidente

Brooke

As lágrimas escorriam copiosas por meu rosto, as palavras do médico ainda retumbavam e ecoavam em meu interior, e eu não conseguia deixar de sentir aquela tristeza latente.

“Seu marido já está sabendo e como ele ainda não voltou, cabe a mim te dar essa notícia. Peço que a senhora se mantenha calma. Eu sinto muito, você perdeu seu bebê.”

Eu provavelmente só não perdi a calma ao receber essa notícia pois ainda me sinto levemente sedada.

Eu sequer consegui me acostumar com a ideia de estar grávida e ter um filho, e agora descobri que meu filho morreu sem sequer ver a luz do dia, e enquanto eu dormia, seus poucos restos não desenvolvidos foram removidos de mim. O médico me explicou que provavelmente a causa do aborto instantâneo foi o estresse, somado às pancadas e à injeção intravenosa que recebi de Wickham.

O doutor me disse que Trevor voltou para casa, e julgando pelo horário, não voltaria para me ver. Fiquei me perguntando quão arrasado ele estaria com essa notícia, e me repreendi pela preocupação egoísta de que ele poderia se afastar de mim por isso. O foco não deveria ser eu. Haviam coisas muito mais importantes em jogo.

Minhas emoções se misturavam em turbilhão. O choque por ter visto o Oleiro agora era menor, no entanto suas palavras não saíam de minha mente e não podia evitar de estremecer. Eram palavras que me davam certeza sobre o quão inacreditavelmente eu sou amada, e ao mesmo tempo me faziam duvidar se de fato sou forte o suficiente para ser o que ele quer que eu seja. Se não irei falhar com ele, se não irei decair à natureza do meu sangue. No entanto, a centelha em meu coração estava mais forte, ela parecia correr dentro de mim e se agitar em cumprir seu propósito, e uma vontade mais forte que qualquer outra se acendia.

Na minha vida, nunca me dei ao luxo de querer muitas coisas. Nunca me dei ao luxo de ter propósitos muito grandes, além de sobreviver e ser na medida do possível uma pessoa boa e feliz. No entanto, agora o Oleiro me deu um propósito para existir, e eu não deveria hesitar em cumprí-lo.

Ouvi o ruído da porta do quarto sendo aberta e imediatamente tratei de secar minhas lágrimas, vendo Cassandra se aproximar rapidamente de meu leito.

— Eu vim o mais rápido que pude. — Ela falava de forma aflita. — Eu estava em Ésefo resolvendo assuntos da Ordem, só quando voltei a Torinco soube de tudo o que aconteceu. — Ela se sentou na cadeira ao meu lado, segurando minha mão, seu olhar se mostrou compadecido. — Eu fui à sua casa, falei com Trevor e ele me contou que estava aqui. Minha querida, eu sinto muito. Por tudo que passou e por sua perda. Se eu estivesse aqui, poderia ter feito algo.

Eu engoli em seco, sentindo mais lágrimas copiosas escorrerem por minha face. Cassandra, de forma quase maternal, me abraçou, recostando minha cabeça em seu peito.

— Era meu papel cuidar de você. — Ela engoliu em seco. — Você é tudo que me restou, Brooke. Eu sinto muito.

Eu engoli em seco e permiti que mais lágrimas copiosas escorressem por meu rosto. Eu não queria pensar naquele momento sobre a criança que perdi. Queria pensar sobre tudo, menos sobre aquilo. Quando olhava para Cassandra, tudo que se passava pela minha mente eram as palavras que o Oleiro me disse. Se havia uma pessoa com quem eu poderia falar sobre meus medos e anseios, essa pessoa era Cassandra.

— Cassandra, lembra quando você me contou que o Oleiro se revelou a você no meio de uma festa? — Inquiri.

Cassandra assentiu.

— O que tem isso? — Respondeu.

Eu engoli em seco.

— Ele se revelou a mim. — Falei.