69- As cartas do adversário

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Doze de junho. Véspera de um dos eventos mais importantes do país. Toda Londres se prepara para a icônica comemoração do aniversário de Vossa Majestade. As ruas e prédios estão decorados. As pontes ostentam os mais belos arranjos de flores, enquanto reuniões empresariais ocorrem nos mesmos prédios enfeitados.
Sabendo-se que a mídia fará questão de tornar este um evento de repercussão mundial, o corpo de engravatados não perderá a chance de patrocinar a comemoração em troca do mais puro marketing. Em troca de algumas generosas quantias de euros, sorrisos e palavras doces, as empresas ganhariam destaque para aqueles que vivem dessa arte.
Lysandre pensa sobre o esquema repetitivo e cansativo enquanto está rodeado de sócios na mesa de mármore com a figura de seu pai à sua frente, debatendo sobre formas estratégicas de ganhar maior atenção e superar a concorrência. O platinado sai do olho do furacão de seus pensamentos quando uma voz sugestiva, mascarando a rispidez, se dirige à sua pessoa.

- Gostaria de dar alguma ideia, Lysandre? - Adam não perdia uma chance de arrastar o filho para as linhas firmes de suas teias traiçoeiras.

- Não. Não acho que é necessário acrescentar nada a mais.

- Você esteve bem quieto esta manhã. O que aconteceu com sua animação? - O clima na mesa fica tenso. Todos ali conheciam o tipo de relação existente entre Adam e seu filho.

- Só estou cansado. Creio que ela voltará amanhã, quando formos saudar Vossa Majestade em seu formoso aniversário. - Müller não pôde deixar de alfinetar o pai no quesito hipocrisia.

Adam deixou escapar um sorriso mesquinho e prosseguiu. - Isso é tudo por hoje, senhores. Nos encontramos amanhã, lembrem-se de nosso objetivo: superar os números do ano passado.

Assim que o grande escritório se esvaziou, Lysandre se contentou em encarar a parede negra à sua frente enquanto seu pai ascendia um cigarro e se dirigia para uma sacada.

- Temos crescido extraordinariamente bem este ano, devo reconhecer seus esforços. Fico feliz que tenha abandonado a carreira de poeta. Aquela sua desprezível instituição só o levaria à miséria.

- Não me lembro de ter tido que havia abandonado.

- Não é prioridade. Isso basta. Pronto para seu casamento na próxima semana? Qual a sensação?

- Estou ansiosamente empolgado... - A ironia exalava de cada letra de sua frase.

- Hmmm... Então creio que seria interessante comemorar, não acha? Que tal ir conhecer o novo bar no fim da rua? - Adam sugeriu de costas para Lysandre enquanto arrumava sua mala. - Não imaginei que a Emily seria suficiente para conter sua rebeldia, mas tive resultados positivos. Pelo que Raquel me conta, tem se comportado muito bem como noivo... Ótimo. Sabe que assim, facilita as coisas para ambos os lados.

- Eu tenho assuntos a tratar agora. - Müller se levanta ignorando os comentários do pai.

- Com sua noiva, espero. - Disse sem se direcionar ao filho.

- E com quem mais?

Antes de sair, mesmo que não pudesse ver o pai, Lysandre sabia que este sorria no momento. Por algum motivo, Raquel o fez acreditar que este o tinha nas mãos.

O tráfego estava deveras estressante devido às arrumações finais. Custou para Müller chegar em seu apartamento. Após um longo banho, o platinado joga-se apenas de boxer em sua cama e alcança seu celular. Após a discagem de alguns números, uma nova voz ecoa no cômodo.

- Sou eu. Quero saber se a proposta ainda está de pé. Estamos mais perto do fim do que você imagina. Ou melhor, do recomeço.

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Minha Querida Dama da Noite (Amor Doce - Lysandre)Onde histórias criam vida. Descubra agora