54- Fique fora do meu caminho

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Aaaahh... Boa garota... - Falou o homem desmanchando-se no saco descartável de látex enquanto Manuela mordia os lábios, tentando controlar o ódio e a vontade que tinha de espancar esse tarado que pagou por ela pela terceira vez na semana.

- Acabou o tempo. - Ela disse seca, ainda deitada na cama.

O homem a olhou de tal forma que faria esta vomitar.

- Sei que gostou princesa... Não há problema ficar mais meia horinha... - Ele disse apertando a coxa dela.

Aquele foi o ápice para Manuela. Sentir aquele homem asqueroso tocando seu corpo mais uma vez fez a mesma atingir a face do homem que virou o rosto com o impacto. Assim que a olhou de volta, puxou a morena pelos cabelos e a jogou violentamente no chão do quarto. Manuela bateu o rosto no chão e sentiu a dor latente da colisão.

- VADIA! - O homem disse e jogou-a contra a parede.

Manuela estava nua, sentada no chão, com as costas apoiadas na parede e cabisbaixa, os cabelos negros cobrindo seu rosto e escondendo suas lágrimas de ódio enquanto o quarto cliente da noite se vestia e a encarava.

- Você não é nada, sua vadia. Apenas um objeto de prazer. Nada mais... Nada menos... - Dito isso, o homem saiu do quarto.

Manuela sentiu o gosto metálico se apoderar de sua lingua quando o carmesim de seus lábios invadiram o inteiror de sua boca. Mordera tanto os lábios durante todo o programa que estavam completamente machucados. Se levantou, vestiu sua roupa e saiu do quarto.

Desde de que Natália tentou roubar Silvia , e foi severamente punida por isso, o dinheiro dos programas é pago no caixa para o balconista, e não são mais as prostitutas que o recebem, na verdade, nem veem mais a cor dele.

Assim que chegou à sala interna da boate, Flávia e Beatriz estavam conversando.

- Manu? Algum problema? - Flávia perguntou constatando a irritação nos traços faciais de sua amiga.

- Nada demais... Estou acabada, vou pra casa.

- Mas fez os seis programas? - Beatriz perguntou.

Manuela a fuzilou antes de se pronunciar.

- Não.

- Manu... Você sabe que precisa fazer no mínimo 6 programas. Caso contrário a Silvia vai... - Flávia é interrompida por Manu, ignorando o aviso de preocupação da amiga.

- Eu não quero saber, foda-se o que aquela vadia maldita quer ou não! Chega, eu vou pra casa!

- Manu... Todas as seis meninas daqui tem que fazer seis programas pra totalizar R$2.450 por noite e R$ 14.500 por semana, já que não trabalhamos no domingo. Assim que Silvia perceber que não fechou esse valor, você será punida... Por favor Manu... - A voz adocicada de Bia fez Manu suspirar.

- Eu posso lidar com isso... Mas hoje não aguento lidar com mais nada...

Manuela foi embora. Andando sob o frio letal da madrugada londrina, com apenas um moletom que ia até a metade das coxas para aquecê-la. Desde de que seu contato com Lysandre através das cartas foi rompido devido as desconfianças de Raquel, que começou a cercá-lo cada vez mais, tem sido difícil aguentar tudo sozinha sem seu amante para confortá-la através de sua caligrafia refinada.

Chegou em casa e foi direto para o banheiro. Colocou a água na temperatura mais quente possível e esfregou com força seu corpo. Encheu a esponja de espuma e esfregou sua coxa, na área onde aquele velho maldito tinha apertado.

Lavou sua parte íntima com tanta raiva que só parou quando o vermelho da hemoglobina banhou seus dedos.

Desligou o chuveiro. Todo o seu corpo ardia, mas não era pior do que a dor interna. A dor da humilhação. Tinha que conseguir ir embora daquele lugar... E logo. Mas como? Silvia a perseguiria, não importa para onde fosse. Precisaria ficar fora da cidade por um tempo, dois ou três anos talvez. Teria que mudar o visual e, talvez, até o nome. Sabia o quanto a mulher era cruel, e se a encontrasse novamente após a fuga... Pensar nisso fez Manuela suspirar pesadamente. Foi até a cozinha e pegou um copo e a garrafa de Whisky barato na estante. Despejou o líquido dourado no copo e virou de uma vez só. Após escovar os dentes, recolheu-se na cama e dormiu pesadamente.

Minha Querida Dama da Noite (Amor Doce - Lysandre)Onde histórias criam vida. Descubra agora