66- A calmaria antecede a tempestade

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O líquido âmbar brilhava diante o feixe de luz noturno permitido por uma fresta que o longo tecido de cor roxo-drácula preso acima da janela.
Raquel virou o copo de uma vez só e apertou fortemente os olhos ao sentir sua garganta rasgando a medida que o líquido descia por sua paredes internas.
Não demorou muito para que a dama virasse a garrafa, derramando mais do líquido dourado no copo de cristal e direcionasse o copo para seus lábios novamente.

Durante semanas seu corpo e mente haviam mergulhado em uma forte depressão. Não conseguia fazer nada, planejar nada... Não sabia o que havia acontecido.
Naquele jantar à dois dias atrás, nunca sentiu-se tão vulnerável, como um cordeiro rodeado de lobos que sorriam para ela de maneira superior. Seus dentes rangeram ao fazer tal comparação.
Não gostava de estar por baixo. Mesmo não sabendo ao certo o que havia ocasionado aquela recaída tão duradoura, estava na hora de recuperar o tempo perdido.

Lembrou-se de sua rival tocando o violino tão majestosamente naquele jantar... Sua imagem angelical fez com que pensamentos sombrios aflorascem em sua mente.
Imaginar aquele anjo perdendo a postura e beirando à loucura caso um certo acontecimento condicionasse a isto... Um antigo sorriso diabólico novamente nasceu em seus lábios de tom escarlate. Pegou seu celular e discou um número.

- Senhorita... Trouxe seu jantar como pediu... - A criada Ingrid abriu levemente a porta do quarto segurando a travessa que abrigava um farto banquete individual.

- Coloque na cômoda e saia logo! - Raquel fala ficando em pé na cama com a voz animada enquanto encara o copo de cristal entre seus dedos com o celular na orelha. Ingrid estranhou a postura animada da mulher mas fez o que lhe foi ordenado.
Raquel desceu da cama e agarrou a taça de vinho seco e apoiou o cristal nos lábios antes de começar a falar com alguém.

- Isso... Faça questão de deixar claro o remetente... - A mulher dizia enquanto abocanhava um pedaço de lagosta no garfo de prata.

———- três dias depois ———-

Manuela havia terminado o expediente quando uma de suas colegas disse que a gerente queria falar com ela. Bateu na porta do escritório e esperou a permissão, que não demorou a vir.
Assim que entrou foi recebida por um olhar afiado de sua gerente, que a fez sentir um estranho arrepio na nuca. Temeu pelo que viria a seguir.

- Senhorita Hillary... - Era a primeira vez que a chamava pelo sobrenome desta forma. Sentiu seus ombros tensionarem, ainda mais pelo fato dela ter mencionado seu nome de maneira enfática.

- Gerente... O que deseja?

- Sente-se no sofá, por favor... Irei servir um chá para nós. - Marjorie se levantou e pegou o bule e as xícaras de chá, colocando-as na mesinha de centro.

Manuela o fez e agradeceu quando sentiu o delicioso cheiro adocicado.

- O chá que estou servindo é Milford, originalmente alemão. O aroma é maravilhoso, não?

- Sim... Mas ainda não entendi o por que de ter me chamado aqui senhora... Fiz algo errado?

- Não. Pelo contrário, tem sido um exemplo para minhas outras garçonetes. A chamei por que gostaria de conversar... - Um sorriso falsamente convidativo surgiu na face de Marjorie

Uma leve irritação começou a contaminar Manuela. Sentia que sua superior brincava com ela.

- A senhora poderia ser mais objetiva?  Estou muito cansada.

O sorriso da mulher à sua frente se alargou. Devolveu a xícara ao pires de jeito grosseiro, como se estivesse ansiando por tal questionamento.

Levantou-se e encarou a subordinada.

Minha Querida Dama da Noite (Amor Doce - Lysandre)Onde histórias criam vida. Descubra agora