81- A linha tênue entre o fim e o recomeço

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O clima gélido entre o casal era quase tangível dentro da Mercedes do platinado, o qual não desviava os olhos praticamente congelados da direção, enquanto sua parceira parecia obcecada pela paisagem que passava rapidamente à medida que o carro acelerava.

- Como soube dela? Seja mais específica dessa vez. - Bauffremont rasgou o tênue véu do silêncio que havia se estabelecido no local.

- Estava investigando sobre sua vida quando me dei conta da guerra silenciosamente travada entre você e Raquel. Percebi que era a maior ingênua no meio de toda aquela situação, além de não saber muito sobre você, então decidi que deveria investigar, uma vez que você não estava disposto a me revelar nada.

- E o que a levou a procurá-la?

- Achei que ela pudesse me falar um pouco mais sobre você. Mas então, havia notado que o padrão comportamental da mídia para com a exposição da vida dela tomou um rumo escasso até cessar de vez. De repente, era como se ela nunca tivesse existido na imprensa, o que me deixou em alerta. Uma serviçal abriu o jogo quando eu fui à mansão dos Bouviêr fingindo ser uma amiga. Quando soube da verdade grotesca, não consegui evitar de ir atrás dela. Inexplicavelmente, senti que deveria fazer isso.

- E não me contou de seus feitos, pois tinha a certeza de que eu agiria pela emoção ao ponto de chamar a atenção de Raquel para Isabella, certo? - Foi a primeira vez desde que ambos entraram no carro que os olhos bicolores se direcionaram para a mulher ao lado.

- Exato. A essa altura do campeonato, eu também já estava arisca com tudo que estivesse ligado a Raquel. Até pensei em te contar, mas depois de ser atacada em um beco, percebi que um detalhe que chegasse a ela poderia findar a vida de alguém. Isabella está tão frágil e indefesa naquele lugar. Não seria difícil para Raquel fazer algo.

Lysandre sentiu os dois extremos de seus lábios se curvarem em um sorriso discreto. - Eu agradeço por esse cuidado para com ela. E por esses presentes. - Disse, referindo-se às regalias no banco de trás.

- Ela merece muito mais... Mas com certeza, o maior presente será você lá, para que ela possa contar o que guardou por tantos anos...

Lysandre não conseguiu evitar um sorriso mais notável. Estava orgulhoso de Hillary.

Quando chegaram ao hospital psiquiátrico, não demoraram muito para estarem de frente à porta do quarto de Bouviêr. Manuela sentiu a tensão de seu namorado, pegando na mão que não segurava a carta à qual passara anos debaixo de um travesseiro. Uma troca de olhares fora o suficiente para que o albino batesse delicadamente na porta.

Sentiu seu peito se contrair ao ouvir a voz daquela que dera permissão para entrarem. Jamais imaginou ouvir aquela voz novamente... Os olhos de Isabella exibiram a mais nítida surpresa antes de se afogarem na alegria de rever o homem que um dia fora seu.

"Manuela... Você cumpriu sua promessa".

Se encararam por alguns segundos, processando a informação de seu reencontro antes do mais velho caminhar em passos firmes e acolher com força e carinho a menor à sua frente. Um abraço caloroso e cheio de confidências guardadas por tanto tempo. A mulher não conteve suas lágrimas, mal sabia que o efeito não fora diferente para seu ex. Manuela apreciava a cena com alívio e ternura. Tinha a sensação de ter cumprido sua missão. Quando se desfizeram do demorado abraço, Hillary pôde olhar nos olhos de sua nova amiga. Esta que correu até a entrada do quarto e a abraçou calorosamente, expressando toda a gratidão na força de seu amparo para com a dona dos olhos ônix que também não se conteve.

- Obrigada... - Isabella sussurrou no ouvido da mais nova.

- Acho que vocês têm muito o que conversar... - Hillary abrigou as bochechas alheias em suas mãos, ancorando seu olhar no da mulher à sua frente - Eu vou providenciar um lanche reforçado para nós. Precisam de privacidade e eu os darei isso.

Minha Querida Dama da Noite (Amor Doce - Lysandre)Onde histórias criam vida. Descubra agora