1- Noites de tormenta

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- Hmmmm... Aaaaahhh... Oh yeah! Garota você é profissional no assunto hein?! Valeu cada centavo! - Disse mais um cliente. Era o 3° da noite - Foi bom enquanto durou! Até vadia!- Ele deu um tapa em Manuela e saiu do quarto.

Lá estava ela. Jogada na cama, machucada, com hematomas por todo o corpo, resultado de uma noite produtiva. Colocou sua roupa, pegou o dinheiro deixado pelo cliente 3 em cima da cômoda ao lado da cama e saiu do quarto. Desceu as escadas e seguiu até o térreo do bordel. Foi até os camarins.

- Até que enfim Manuela! Vamos! Já tenho outro cliente pra você! - Disse Sílvia, a dona do Bordel - Mesa 12! Depressa! Ah! E me dê o dinheiro!

Manuela entregou o dinheiro do cliente 3 com os olhos ardendo em chamas de ódio, como odiava aquela mulher. Aquela sem coração, sem alma. Não se importava nem um pouco em vender ela e suas colegas. Como se fossem mercadoria barata. Objeto. Brinquedo. Algo "de comer". Que é usado por poucas horas e depois jogado ao lixo como se esse fosse o único motivo de sua existência. Ser usado. Usado. Nada mais que isso.

Manuela se dirigiu até a mesa 12. Se tratava de um cara alto, olhos escuros, cabelos longos e castanhos, físico perfeito, perfume amadeirado. Lindo. Mas ela sabia que só o fato de estar aqui, já fazia com que toda essa beleza se fosse.

- Boa noite! - Manuela forçou seu melhor sorriso. Sua voz soou como uma melodia sexy.

- Boa Noite! - O cliente 4 deu-lhe um sorriso malicioso. Seus olhos brilharam ao ver as divinas cuvas femininas do corpo de Manuela. Seu corpo era como um convite ao paraíso, pouco escondido pelo enorme decote do vestido preto colado e curto - Pronta para a melhor noite da sua vida?

- Claro!- Ela sorriu. Mas no fundo, sabia que aquilo não era verdade.

Ele era só mais um que faria do sexo algo prazeroso para sí só. Seria só mais um programa vazio pra ela. Vazio e escroto. No entanto, ela sabia que mesmo que ele tentasse, não a faria sentir prazer. Ela não sente prazer em saber que está simplesmente sendo usada. Usada como se fosse um nada vendido a valor nenhum. Nenhum dinheiro no mundo pagaria a vergonha. Humilhação. Nojo. Nojo que ela sentia desses caras, por a verem apenas como um objeto, e de sí própria, por ser obrigada a seguir esse caminho. Para não acabar na rua. Sozinha. Sem teto. Sem comida. E no fim acabar sendo estuprada por um maníaco e depois morta.

Morte.

Essa palavra nunca soou tão bela aos ouvidos de Manuela. Entregar-se a morte. Ao fim. Para acabar de vez com isso. Com toda essa merda. Esse inferno de luxúria e desprezo.

Subiram ao quarto. E aconteceu o mesmo. Ele a jogou na cama. Arrancou sua roupa. Ela estava ali novamente. Pronta. Para ser usada de novo.

E assim seguiu o resto da noite. Após ele terminar de maltratar o corpo de Manuela enquanto ela fingia gostar daquilo, ele se foi. Nem ao menos disse seu nome a ela. Nenhum deles disse. Mas ela sabia o porque. Por mais que a desejassem eles não queriam ter nenhum tipo de ligação com ela. Eles preferiam morrer a deixar que alguém da "sociedade" descobrissem que eles tiveram relação com uma prostituta. Com várias prostitutas.

Prostituta.

Um nada. Apenas uma vadia sem vergonha. Sem escrúpulos. Sem moral. Se vendendo por pouco. Por muito. Não importava.

Era uma vadia.
Uma prostituta.
Uma puta.

E isso bastava para não ter valor algum. Para que pudesse ser comparada a um rato de esgoto. Sujo. Imundo. Insignificante. Repugnante.

Ela sabia que era tudo isso. Ela sentia que era tudo isso. E isso foi o suficiente para não se importar mais com quem passava a mão em seu corpo. Ela não tinha mais valor.

O programa acabou. Finalmente. Ela não havia sentido nada. Estava ocupada mergulhando em seus pensamentos para poder sentir alguma coisa.

Ele se levantou.

- Hoje você não foi lá essas coisas... Não gemeu como eu esperava que gemesse. Mas Ok. Na próxima quero melhor! Gostosa! - Ele falou e saiu.

Segurando as lágrimas de choro e ódio, ela foi ao banheiro e lavou sua intimidade, vermelha e machucada por ele. Ela sentiu um nó em sua garganta. Queria gritar. Gritar todas as suas dores. Suas decepções. Suas desilusões. Sua dor. Sua vontade de morrer. Tudo.

3 anos.

Era prostituta a 3 anos.

Não porque queria. Simplesmente não viu outra forma de viver. Após ter sido expulsa do orfanato ao completar 18 anos, não tinha pra onde ir. Ficou só. Não viu outra saída. E foi abraçada pela escuridão.

Voltou aos camarins. Deixou o dinheiro em cima da mesa de Sílvia, pegou sua bolsa e foi embora. Geralmente Manuela e suas colegas iam embora juntas a pé. Só que dessa vez ela resolveu ir sozinha.

A noite estava fria, o vento balançava os galhos das árvores fazendo com que as folhas se colidíssem, formando uma suave melodia. As ruas estavam desertas, as luzes dos postes piscavam, e em meio a essa cidade abandonada, Manuela andava sozinha no meio da rua. Seu vestido preto e curto juntamente com um par de botas pretas cheias de botões e correntes acompanhada de uma meia arrastão davam um destaque em sua pele pálida. Seu rosto de porcelana estava vermelho e úmido. Úmido pelas suas lágrimas. Que desciam infinitamente e molhavam seus lábios rubros que também estavam inchados.

Ela resolveu passar pelo parque antes de chegar na pensão. Precisava respirar o ar daquela noite sombria. Precisava pensar.

Caminhou até o parque, estava deserto. Solitário. Até que... Em meio aquela escuridão a luz da lua, que apresentava toda a sua luz majestosa, iluminou um banco. E sentado nele estava um homem.

Minha Querida Dama da Noite (Amor Doce - Lysandre)Onde histórias criam vida. Descubra agora