Um convite especial

202 16 31
                                    

Ao parar o carro na frente da casa de Anastácia, Araújo suspirou mais uma vez, aliviado com o fato de milagrosamente a chuva haver cessado. Sem resistir lhe roubou mais um beijo, e mais outro, e depois mais outro... Até que finalmente saíram do carro, ainda com a sensação de que estavam sonhando. 

Precisavam inventar uma boa desculpa, não por terem vindo juntos, já que isso era algo comum de acontecer, principalmente quando eles precisavam ficar até o final da tarde na Fábrica para conferir as contas. Mas sabia que Maria, é claro, não havia como esconder nada de Maria.

—Mãe?/Dona Anastácia?/Titia...?

—Está tudo bem, não se preocupem... —Tentou agir naturalmente, dobrando as mangas da blusa—...apesar da chuva ter nos pego de surpresa ao sairmos da Fábrica —Continuou —, chegamos são e salvos! —Sorriu.

...eu imaginei que o doutor Araújo a traria, já que ele me disse que iria à Fábrica, mas confesso que já estava indo buscá-la pois fiquei um pouco preocupado com a demora...
—Disse Celso os encontrando na porta e os olhando com aflição. Porém sem nenhuma desconfiança. Afinal, sua tia e o advogado sempre foram muito próximos, a muitos anos Araújo havia se tornado um grande amigo da família, jamais se passaria pela sua cabeça que um dia acabariam se apaixonando.

—Perdoe-me, querido eu tentei ligar para casa para avisar que já estava vindo com o doutor Araújo —Mentiu —mas o telefone da Fábrica não estava funcionando... Doutor Araújo? O senhor por favor entre... Não há ficar parado aí na porta?

—Perdoe-me, Dona Anastácia... é que meus sapatos estão molhados... e...

—Ah não se preocupe, doutor Araújo —Falou Maria, se aproximando deles —Não será nenhum problema para mim se tiver que secar o piso, por favor entre, creio que está morrendo de frio aí fora —Sorriu levemente, o vendo entrar um tanto desconcertado.

—Eu vou buscar umas toalhas para que possam se secar um pouco! —Disparou Quitéria preocupada. Subindo logo em seguida.

—Agradeço Quitéria! —Ambos falaram juntos.

—Bom, meu filho, imagino que estava  esperando ansioso a Dona Anastácia chegar... —Falou dobrando as mangas da camisa, que por incrível que pareça já não estava pingando —me pediu para trazê-lo a sua casa para... —Falou delicadamente, tentando  explicar ao filho que já não precisava se despedir dela, pois precisariam "adiar a viagem." Só que para a sua surpresa —E total alívio —, não precisou dizer mais nada, pois antes disso, Cláudio os surpreendeu ao falar:

—Pai, eu pensei bem —Disse decidido se levantando devagar e indo na direção do pai, que o olhava orgulhoso ao vê-lo caminhar cada vez mais seguro —Eu não quero ir embora daqui. Não quero morar em outra cidade.

—Meu filho —Disse ele segurando o rosto do pequeno entre as mãos —você sabe que eu jamais o obrigaria a fazer qualquer tipo de coisa contra a sua vontade. E se você não quer ir para Campos do Jordão, nós não iremos.

Anastácia sentiu o coração dar um salto de felicidade. Nesse momento, trocaram um olhar discreto, e um sorriso de emoção e alívio.

Alice e Pirulito comemoraram felizes, correndo para abraçar o amigo, sob os olhares de felicidade na sala, enquanto Candinho falava divertido:

—Êta coisa boaaaaaa!!! Êta abraço bão!!!!! Hehêêê!!!!

***

As horas se passaram e quando finalmente estavam em suas camas, Anastácia e Araújo ficaram pensando naquela noite tão marcante para ambos, as declarações, os beijos, as carícias, a chuva... Ahh, aquela chuva... jamais iriam esquecê-la.
Após longas horas sonhando acordados, como dois adolescentes bobos e apaixonados, Anastácia abriu os olhos lentamente, se dando conta de como era bom se sentir mais uma vez amada por um homem, depois de tantos anos.

                          လလ

No dia seguinte, enquanto ouvia o noticiário em seu rádio, Doutor Araújo ficou sabendo que havia chegado um parque de diversões na cidade. Logo pensou no filho. Sempre fora um dos maiores sonhos de Cláudio conhecer um parque de diversões. Lembrava-se de como era angustiante ouvi-lo falar de seu desejo de ir ao parque com as outras crianças e não poder levá-lo.

"...pai, eu gostaria muito de conhecer o parque de diversões..." —Cláudio disse com tristeza, após ouvir Hilde comentar que havia chegado um parque na cidade.

"...Meu filho, não fique triste —Sentiu a voz embargar. —um dia eu vou poder levá-lo ao parque. Eu tenho fé que um dia, você vai poder fazer tudo que deseja."

...

—Filho, eu tenho uma surpresa para você! —Disse eufórico enfiando as mãos no bolso da calça e retirando os ingressos que havia comprado para irem ao parque.

—Pai? —O menino falou emocionado, com os olhos se enchendo d'água —Eu vou poder ir ao parque?

—Sim, meu filho! —Respondeu sorrindo de emoção, o abraçando —Também comprei ingressos para Alice, Pirulito e um para Dona Anastácia! Espero que eles possam ir com a gente! —Falou ao se afastar, vendo a felicidade estampada nos olhos do filho.

***

Na casa de Anastácia...

Enquanto Filomena fora preparar a mamadeira do filho, Anastácia fez questão de ficar brincando um pouco com ele. Andando pelo jardim com o neto, enquanto o paparicava em seu colo, Araújo a observou do jardim de sua casa, através das grades do portão. Um belo sorriso se formou no rosto do advogado, que discretamente a ouviu conversar com o netinho docemente.

Aproveitando que estavam apenas os dois, não resistiu e acabou entrando silenciosamente em seu jardim. Anastácia nesse momento estava um pouco distante do portão de entrada, perto do banco de ferro que havia ao lado da fonte, quando ele se aproximou por trás, fazendo ela notar sua presença antes de se virar para ele rapidamente, e se deparar com seu sorriso.

—Doutor Araújo —Disse em voz baixa.

—Vi que estava no jardim com Candinho. Não resisti e vim até aqui lhe fazer um convite  —Disse um tanto sem jeito, lhe entregando o convite, esperando ansioso que ela aceitasse.

—Um convite para ir ao parque?

—Sim. Cláudio e eu ficaríamos muito felizes se pudesse nos acompanhar. Também comprei para Alice e Pirulito.

Por um instante, Araújo pensou que ela fosse recusar o convite, seu coração quis ficar apertado, mas logo ela respondeu:

—Como eu poderia recusar um convite tão especial? —Ele sorriu aliviado — Cláudio finalmente irá realizar o sonho de ir ao parque. Será um enorme prazer estar ao lado dele nesse momento.

—Você me deixa ainda mais emocionado —Disse em voz baixa, se segurando para não lhe roubar um beijo. Tinha certeza de que faria isso se ela não estivesse com seu neto no colo. —Fico ainda mais feliz que tenha aceito o convite. —Disse por fim, bem próximo ao seu ouvido, lhe causando um pequeno arrepio no mesmo.

—Tenho certeza de que as crianças irão se divertir bastante.

—Espero que a senhora também possa se divertir na minha companhia —Sussurrou atraente por trás dela, passando a mão discretamente na sua cintura e lhe dando um beijo delicado no rosto.

—Sogra, aqui está a mamadeira do Candinho!

Ao ouvir a voz de Filomena, Araújo se afastou rapidamente e Anastácia sentiu o coração disparar.

Será que ela tinha visto alguma coisa? —Pensou espantada.














                      


































O Perdão Onde histórias criam vida. Descubra agora