...que alívio eu sinto em saber que a Sandra se arrependeu... que lhe pediu perdão...
—Sussurrou ele entre o abraço. —Confesso que fiquei surpreso...—Eu também fiquei —Disse ela com um sorriso de emoção, em meio as lágrimas —embora sempre tive uma pequena esperança, de que um dia a Sandra pudesse se arrepender...
—A senhora é uma mulher admirável... Apesar de tudo que a Sandra fez, nunca desistiu de rezard por ela e Deus a ouviu!
Anastácia ficou em silêncio por um instante, antes de se afastar calmamente e dizer olhando em seu rosto.
—Sou eu que o admiro —A voz soou baixa, porém firme. —O senhor quase perdeu a vida por minha causa, e mesmo não tendo se recuperado completamente...
—Por favor, eu não quero que se sinta culpada pelo que aconteceu—Ela abaixou o olhar por um segundo. Então sentiu ele erguer delicadamente seu queixo, fazendo com que seus olhos se encontrassem. —Eu não suportaria se algo ruim... tivesse lhe passado...
e-eu... poderia suportar qualquer dor... —Acrescentou, tocando seu rosto de leve. —Menos a de perdê-la.Ela engoliu em seco, vendo os olhos dele se encherem d'água.
—Anastácia —Sussurrou, acariciando a pele macia de seu belo rosto. —Eu não posso mais... viver longe de você... eu não estou suportando essa distância entre nós.
Ela sentiu o coração disparar. Suas palavras... A forma como ele a olhava... Como a tocava... Tudo era tão doce e ao mesmo tempo tão intenso que fazia seu coração estremecer.
—D-doutor Araújo —Sussurrou ela, fechando lentamente os olhos, se sentindo cada vez mais vulnerável ao seu toque.
—Eu sei que também sente a minha falta... —Continou ele. —meu coração não pode estar enganado... sei que precisa do meu abraço... dos meus beijos... —Os sussurros fora ficando cada vez mais distantes, enquanto seus rostos se aproximavam cada vez mais.
Até que os lábios se tocaram de forma suave e ao mesmo tempo intensa, fazendo com que ambos sentissem o doce sabor do sentimento mais puro e sincero que sentiam um pelo outro. Sim. Anastácia já não podia negar que seus sentimentos por ele haviam mudado... Já não podia viver longe do calor de seus braços e mesmo que ainda não tivesse confessado aquilo em voz alta, deixou que seu coração lhe desse a resposta que ele tanto precisava...
Araújo aproveitou cada segundo daquele beijo. Sentia o coração explodir de tanta emoção ao sentir que ela correspondia aquele sentimento. Que ela o queria, tanto quanto ele.
Se beijaram sem pressa. As línguas dançavam lentamente, num encaixe perfeito...
Até que uma batida na porta, os fez voltar a realidade. E ambos se afastaram ofegantes. Anastácia sentiu a bochecha queimar e Araújo não podia negar, aquele rubor a deixava ainda mais encantadora. Rapidamente ela tentou se recompor, antes de responder:
—Pode entrar, Quitéria! —Suspirou, vendo ele pigarrear desconcertado.
—Desculpe interromper a conversa de vocês, é que o seu Ernani acabou de ligar querendo falar com a senhora.
—E-ernani, e... ele falou do que se trata, é algo sobre o Candinho? —Disse ela um tanto nervosa, enquanto Araújo a olhava, sentindo um leve desconforto no peito ao lembrar que Ernani ainda a amava. Ele sabia que não tinha o direito de se sentir incomodado. Anastácia não tinha e jamais aceitaria ter algo sério com ele e não podia negar que aquilo lhe doía. Pensar que Ernani poderia ter uma segunda chance com a mãe de seu filho, lhe rasgava o peito.
—Ele não entrou em detalhes, só disse que precisava falar com a senhora...
—Bem, não se preocupe comigo, eu já estava de saída... —Disse ele, tentando não demonstrar que estava um pouco incomodado. —A senhora aproveita e retorna logo a ligação, talvez seja algo importante.
Anastácia não deixou de notar o desconforto em seu tom de voz, mas antes de dizer alguma coisa, ele se despediu formalmente, a deixando também desconfortável diante daquela situação. Contudo, tentou não deixar que Quitéria acabasse desconfiando de que havia acontecido alguma coisa entre eles.
—Bem, eu retorno a ligação daqui mesmo. Obrigada, Quitéria.
—De nada, senhora!
Ao ver Quitéria sair, Anastácia soltou o ar de uma vez. Sentou de forma tensa em sua cadeira, mas antes de pegar o telefone fechou os olhos engolindo em seco.
—E agora, meu Deus? —Sussurrou tensa, passando a mão sobre o peito, sentindo o mesmo apertar ao se lembrar da gravidez de Sarita —O que hei de fazer com esse sentimento? Porque logo ele... Porque o Dr. Araújo...?
***
Após alguns minutos, tentou se recompor. Precisava ligar logo para Ernani. Ainda não soubera notícias de seu filho naquele dia, pois evitara ligar para ele naquela manhã, não queria lhe dar a notícia da morte de Sandra por telefone. Candinho estava tão feliz que não queria lhe dar uma má notícia e acabar estragando seus últimas dias na Inglaterra. Afinal, tinha muitas coisas que só iria lhe contar pessoalmente, teriam que ter uma longa conversa, já que Candinho ainda não sabia de nada que havia acontecido desde a noite em que Sandra tentou matá-la. Anastácia tinha certeza de que se houvesse lhe contado por telefone, o filho teria voltado no outro dia, e ela não poderia estragar sua viagem.
O que ela não imaginava, era que Ernani já estava sabendo da morte de Sandra e acabara ficando um pouco chateado por ela não lhe dar a notícia.
—Anastácia, porque não me ligou dando a notícia? O que está acontecendo? —Disse preocupado.
—Er-ernani, me perdoe... eu não queria que o Candinho soubesse por telefone, eu...
—Não se preocupe com o nosso filho, ele ainda não sabe. Eu deixei que você mesma lhe desse a notícia. Mas não deveria ter escondido de mim... até parece que sou um estranho pra você... —Falou um tanto magoado.
