Seus lábios

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—Mas o senhor não pode se culpar por ela não ter sido como esperava...
—Ela falou. —Afinal, quem iria imaginar que Hilde seria capaz de maltratar uma criança? Ainda mais se tratando do Claudinho, uma criança tão indefesa, que só merecia o seu carinho, sua proteção...

Araújo a olhou com ternura. Mais uma vez lembrou-se das palavras do filho, e agora que ela estava tão presente na vida dele, sua admiração por ela só aumentava cada dia mais.

—Seu carinho pelo meu filho, só me faz admirá-la cada vez mais.
—Ele disse, a olhando nos olhos, que estavam ainda mais verdes, devido aos raios de sol, que ainda refletiam no jardim, embora já fosse fim de tarde.

Anastácia olhou de relance para o seu braço, que ele segurou com delicadeza, e ao olhar para ele, percebeu ele aproximar o rosto de forma sutil.

Ela ficou sem ação. Não podia crer que ele seria tão ousado. —Pensou ao ver os lábios dele se aproximar cada vez mais de sua boca, mas quando se deu conta, já não conseguira impedir.
Araújo tocou seus lábios de forma suave, e conseguiu sentir a doçura daqueles lábios macios. Naquele momento Anastácia sentiu todo seu corpo congelar, e seus lábios ficaram trêmulos. Ela não podia permitir aquilo, e antes que ele continuasse ela o afastou com as mãos.

—Porque fez isso? Porque tentou beijar-me? —Indagou furiosa.

—Dona Anastácia, por favor, Perdoe-me! Eu não...

—O senhor não acha que já passou dos limites?

—Eu juro que não sei o que se passou, não a foi minha intenção ofend...

—Nunca mais se atreva a faltar-me com respeito, entendeu bem? Nunca mais!

Ela saiu praticamente correndo, deixando Araújo sem reação.

***

—Dona Anastácia, está tudo bem com a senhora? —Maria indagou preocupada ao vê-la subir rapidamente. Ela parecia nervosa, Maria a conhecia muito bem.

—S-sim, Maria, está tudo bem!
—Ela respondeu sem olhar para Maria, enquanto subia os degraus que davam para o seu quarto.

—Meu Deus, porquê! Porque ele fez isso?
—Ela fechou a porta, com a respiração agitada, e foi andando com pesar até chegar em frente a sua penteadeira, onde olhou-se no espelho passando a mão no rosto, e logo em seguida tocou seus lábios de forma tensa. Embora ela tivesse conseguido impedir que aquele beijo se aprofundasse, ela ainda conseguia sentir o gosto dos lábios dele nos seus, e aquilo não deveria ter acontecido. Como ele pôde ser tão atrevido?
—Pensava indignada.

Nunca nenhum outro homem ousou beijá-la desde que ela ficou viúva, e ela não ia admitir que Araújo a faltasse com respeito.

Na hora do jantar, ela preferiu não descer, não se sentia bem e então fingiu uma dor de cabeça para permanecer em sua cama. Quitéria a serviu em seu quarto, mas quando foi retirar a bandeja, percebeu que ela não havia comigo quase nada e estranhou. Ela comentou com Maria, que havia notado Dona Anastácia um pouco estranha e Maria disse que havia percebido o mesmo, mas não quis incomodá-la com perguntas, já que ela havia afirmado que estava bem.

***

Horas depois...

Já era madrugada e a viúva não estava conseguido tirar aquela cena da mente, por mais que tentasse. Há horas estava deitada em sua cama, tentando dormir, mas todas as vezes que fechava os olhos aquela cena invadia seus pensamentos, deixando-a ainda mais incomodada com aquela atitude do Dr. Araújo.

Com ele não estava sendo diferente. Desde aquele momento, ele não conseguira parar de pensar naqueles  lábios macios. Também não havia conseguido pregar os olhos, e deitado em sua cama, começou a tocar os seus lábios de forma suave, enquanto fechava os olhos entre os pensamentos.

Araújo tinha certeza de que teria aprofundado aquele beijo se Anastácia não tivesse impedido. 

—O que estar a se passar comigo? —Se perguntou abrindo os olhos e voltando a realidade.
—Porque eu estou a pensar tanto nela? Porque tentei beijá-la? 

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