Aquele olhar

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-Eu também vou sentir falta dele nessa casa. -Anastácia engoliu em seco. -Confesso que acabei me apegando tanto a esse menino.
-Suspirou.

Araújo sorriu.

-A senhora poderá ir vê-lo em minha casa, sempre que desejar. Será muito bem-vinda.

-Claro. -Respondeu um pouco fria. -Eu não deixarei de dar assistência ao Claudinho. -O olhou. -Agora mais do que nunca, quero que ele conte comigo, para o que precisar.

-A senhora é uma mulher incrível. -Ele segurou na mão dela e a olhou. -Eu não sei como fui capaz de...

-Dr. Araújo, eu só quero deixar bem claro que tudo o que eu fiz foi pelo seu filho!
Ele engoliu em seco, e abaixou o olhar envergonhado.
-Eu nunca vou ter como agradecer pelo que ele fez por mim naquele tribunal! Porque se dependesse do senhor -Ela o olhava com decepção. -Nesse momento eu estaria em um hospício!

-Sim, eu errei! -Ele a olhou com os olhos marejando. -Errei muito, confesso! Mas eu juro que estou arrependido! -A voz soou firme.

Ela respirou fundo, desviando o olhar dele, e começou a arrumar a mesa sem dar muita atenção aquelas desculpas.
Ele respirou fundo, e passou a mão no rosto, tenso.

-Eu espero que um dia a senhora possa me perdoar. -Disse com a expressão triste, e buscou ar, antes de se direcionar à porta do escritório.

-Bom, eu vou arrumar as coisas do Cláudio, para...

Foi interrompido pelo barulho de um trovão.

-Eu acho que o senhor vai ter que ficar aqui essa noite -Ela disse indo depressa, fechar a janela, pois já começava a chover.

***

Horas depois...

Era por volta das 00:15. Anastácia ainda estava sem sono, na verdade estava pensativa, preocupada com Claudinho, que voltaria para casa no dia seguinte. Era lamentável pensar que aquela criança não tinha o carinho de uma Mãe, e que havia sido tão maltratada pela madrasta durante tanto tempo.
Pensava também nas palavras de Dr. Araújo.

-Sim, eu errei! Errei muito, confesso! Mas eu juro que estou arrependido!

Ela suspirou, passando a mão entre o cabelo que estava solto, e se levantou logo em seguida para ir até a cozinha beber um pouco de água.
Estava um silêncio total na casa, provavelmente todos já dormiam naquele horário.
Ela colocou a água no copo sem fazer barulho, mas de repente teve um susto, e por pouco não engasgou com a água.

-Dona Anastácia, me desculpe! -Dr. Araújo foi até ela, e segurou em seu braço. -Eu a assustei?

-Um pouco. -Respondeu. -M-mas tudo bem, foi só um pequeno susto - Ela suspirou, passando a mão no colo, e nesse momento não passou despercebido o olhar dele em direção ao seu decote, o que a deixou ainda mais nervosa. Ela estava apenas com uma camisola preta, pois havia esquecido de pôr o robe por cima.

Araújo a analisou com o olhar, ainda segurando no braço dela, e nesse momento seus olhos se fixaram por alguns segundos, que foram suficientes para ele perceber o quanto aqueles olhos verdes eram ainda mais belos de perto.

-Tem certeza? -Ele indagou quase em um sussurro.

-S-sim -Ela respondeu baixinho, e depois se afastou desconcertada.
-Mas... O que o senhor faz aqui? -Indagou confusa.

-Bom, eu também estava com sede, e resolvi vir beber um pouco d' água. -Ele respondeu, voltando a sí.

-Ah, tudo bem... -Ela respondeu. -Bom, fique à vontade... Eu vou dormir.

-Boa noite -Ele disse baixinho, a olhando sair, e mordeu o lábio inferior assim que ficou sozinho na cozinha.

-Nunca pensei que Dona Anastácia dormisse tão sensual. -Falou para sí, soltando um sorrisinho malicioso.

***

Anastácia voltou ao seu quarto, e suspirou aliviada, escorando na porta. Aquele olhar do Dr. Araújo a deixou desconfortável. Na verdade achou estranho, ele nunca havia a olhando daquela forma.

***

Três dias depois...

Cláudio estava no jardim de sua casa, dando alguns passos com a ajuda do pai, quando de repente ouviu aquela voz doce:

-Ooi, Claudinho?

-Dona Anastácia! Alice? Que bom que vocês vieram!
-Cláudio disse feliz.

-É claro, meu amor! Eu disse que viria, não foi?
-Anastácia sorriu, se aproximando com Alice, que logo soltou de sua mão e correu até o amiguinho.

-Oi, Dona Anastácia! É um prazer recebê-la em minha casa! -Araújo a cumprimentou de forma agradável.

-Obrigada -Ela respondeu com a voz leve. -Viemos ver o Claudinho, e a Alice também queria entregar algo a ele, que eu ainda não sei o que é.

-Ahh, essa fadinha é tão misteriosa!
-Dr. Araújo brincou, e ambos sorriram.

-O que tem dentro dessa caixa?
-Cláudio indagou curioso.


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