—Sim, Maria —Respondeu Dona Camélia —Clarice foi demitida do Dancing. Está desesperada, sem saber como há de ajudar a irmã daqui pra frente, as duas moram juntas num pequeno apartamento, dividem o aluguel e as despesas da casa, pois a irmã dela coitada, também ganha muito pouco, e não há de ter condições de arcar com tudo sozinha.
—Mas, o que aconteceu Clarice? Porque a demitiram? —Indagou Maria, apenas demonstrando preocupação com a pobre moça, que de uma forma um pouco envergonhada lhe explicou o motivo. A dona do Dancing, que havia a observado tomar chá de cadeira durante várias noites em seguida, já que nenhum de seus clientes a tirava para dançar, simplesmente a informara que ela estava fora do Dancing, já que não lhe serviria mais como dançarina.
—Oh, Clarice... eu sinto muito pelo que aconteceu —Disse Maria, se sentando ao lado dela no sofá, enquanto Anastácia a olhava comovida. —Eu sei como deve estar aflita, sem saber como há de se sustentar daqui pra frente, mas não se desespere, há de ter alguma solução! —Disse confiante.
—Meu coração fica apertado por não estar com condições de ajudá-la nesse momento... Clarice é uma cliente antiga, e além do mais tem um grande carinho por minha neta Gerusa desde que era uma menina. —Sorriu —Sempre me ajudava a cuidar da Gerusa, quando eu estava cheia de trabalho...
Me sinto até envergonhada por não poder...
—Dona Camélia, espere! Eu acabei de lembrar —Interrompeu Anastácia, como quem acabara de ter uma brilhante ideia. —O Dr. Araújo, ele estar a procura de alguém que possa trabalhar em sua casa. Na verdade, ele precisa de uma babá fixa pro seu filho, alguém que tenha jeito com crianças, e pelo que ouvi, Clarice gosta de crianças!
—Sim, Dona Anastácia! —Sorriu esperançosa. —Meu sonho sempre foi ser professora, poder ensinar para crianças. Infelizmente meus pais não tiveram condições de pagar para que eu fizesse um curso —Seu sorriso foi se desfazendo ao lembrar-se —e como eu nunca consegui um emprego digno, acabei tendo que ir trabalhar no Dancing...
Mas nunca perdi as esperanças de um dia realizar meu sonho, e se eu pudesse ao menos ter a oportunidade de cuidar de uma criança, eu já seria muito grata!
—Então, Clarice? O que está esperando para ir com a Dona Anastácia falar com o Dr. Araújo? —Disse Maria, com um sorriso largo.
***
Naquela mesma tarde, após mais uma sessão de fisioterapia, Cláudio ficou a descansar um pouco em seu quarto, como o pai havia lhe pedido. O deixando na companhia de seu amigo Aladim e de seu novo livro, Araújo foi até a sala, olhando em direção ao rádio, lembrou-se de que em poucos minutos começaria Herança de Ódio, e é claro, não poderia perder. Mas antes de ligar o rádio, ouviu a campainha tocar, o coração deu um pequeno salto na esperança de que fosse Anastácia.
E para a sua surpresa sim, era ela. Porém não estava sozinha. Logo ouviu Anastácia explicar a razão pela qual trouxera Clarice até a sua casa. A mesma estava a procura de um emprego, e como ele havia lhe falado alguns dias atrás estar a precisar de uma babá para o seu filho, achou que ele pudesse lhe dar essa oportunidade. Clarice era uma pessoa honesta e além do mais, Dona Camélia havia lhe garantido que ela cuidara muito bem de sua neta Gerusa quando era uma menina.
—...eu sinto que a Clarice seria uma excelente babá para o Claudinho —Comentou, enquanto conversam na sala. —mas é claro, sei que é o senhor quem há de decidir isso... só peço que pense bem...
—Mas não há mais nada para pensar... —Interrompeu ele, a olhando com um leve sorriso ao continuar:
—...sabe que eu confio plenamente na senhora! E se a Clarice tem a sua aprovação, não tenho nenhuma dúvida de que ela é a pessoa certa!